Após dez trimestres seguidos de um cenário otimista, a projeção de crescimento da construção civil foi revisada para baixo. Dados divulgados nesta terça (11) pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) reduzem a estimativa de alta de 2,5% em 2023 para uma projeção de expansão de 2%.
O corte é consequência da forte onda de saques às cadernetas de poupança, cujos recursos financiam parte relevante das vendas de imóveis residenciais do país, além de um descasamento entre os valores dos imóveis compatíveis com financiamento pelo FGTS (fundo de garantia) em meio ao avanço da Selic para 13,75% ao ano.
"Se estamos revisando para baixo é sinal de que, o que a gente previa, não está acontecendo e, o pior, a causa não está sendo devidamente enfrentada e nós deveremos ter mais problemas do que já estamos tendo", afirmou o presidente da entidade, José Carlos Martins, durante feira do setor de construção, Feicon.
No ritmo projetado, segundo Martins, só em 2032 a construção vai conseguir retomar o pico de suas atividades registrado em 2014.
"Hoje, no mercado imobiliário, está acontecendo um limbo. Tendo em vista a conjunção da taxa alta de juros com aumento nos custos de construção, nós tivemos um aumento no preço dos imóveis", disse Martins.
Mais caros, os imóveis deixam de se enquadrar para financiamento pelo FGTS (fundo de garantia) para entrar pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). O problema, ressaltou o executivo, é a sangria pela qual passa a caderneta de poupança.
Somente neste primeiro trimestre, a poupança perdeu R$ 41,5 bilhões, mais do que o total de R$ 34,75 bilhões de 2021 e cerca da metade da captação líquida negativa recorde de R$ 81 bilhões de 2022, segundo os dados da Cbic.
"Onde poderia financiar não tem dinheiro [SBPE] e onde pode financiar não tem limite técnico [FGTS] para isso", disse Martins, citando que o conselho curador do FGTS ainda não conseguiu se reunir neste ano, pois faltam indicações para membros do grupo pelo governo federal.
Questionado sobre a alta abaixo do esperado para o IPCA, divulgado pelo IBGE nesta terça-feira, um sinalizador de possível redução de juros adiante, Martins afirmou que "se o juro [Selic] não baixar, sim, vamos revisar de novo [para baixo]".
"Teria que baixar a taxa de juro da economia para a gente manter [a projeção atual] ou quem saber elevar", afirmou o presidente da Cbic.
Apesar do corte na perspectiva do setor, se a projeção de crescimento de 2% for confirmada este ano, 2023 marcará o terceiro ano consecutivo de expansão da indústria da construção acima do desempenho do PIB. Em 2022, o setor cresceu 6,9%, após uma expansão de 10% em 2021, segundo os dados da entidade.