OPINIÃO

Parkinson: um diagnóstico não é um destino


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Como neurocirurgião observo de perto o quanto assusta receber o diagnóstico de Doença de Parkinson. A primeira ideia que surge, muitas vezes, é a de um futuro de perdas e limitações. Mas o que sabemos pelos relatos científicos e pela experiência clínica mostram algo que não é falado e é muito inspirador: o Parkinson definitivamente não define, sozinho, o futuro de quem o recebe.

A evolução da doença é altamente variável e depende de muitos fatores. Estudos de grandes centros (como a Movement Disorder Society e a European Academy of Neurology) confirmam que atividade física regular, alimentação adequada, suporte psicológico, fé, propósitos claros de vida e disciplina comportamental têm impacto direto e intensos na progressão dos sintomas e na qualidade de vida.

Mais do que isso, a forma como a pessoa encara o diagnóstico é decisiva. A capacidade de desfocar do medo, de reformular conceitos de sucesso e de adaptar-se às limitações funcionais transforma como a doença impacta os pacientes. Abandonar padrões antigos de vida e construir novos, mais saudáveis e conscientes, não é simples, exige esforço e comprometimento. Mas quem decide andar por esse caminho descobre que o Parkinson pode ser não apenas um desafio, mas também uma oportunidade de crescimento e plenitude.

Este caminho não é percorrido sozinho. Cônjuges e familiares desempenham papel central no sucesso terapêutico. Quando eles mergulham em sofrimento, muitas vezes refletem e potencializam o estado de desânimo do paciente. Por outro lado, quando aprendem a ver a doença com lucidez, otimismo e espírito de adaptação, fortalecem todo o núcleo familiar e ajudam a reduzir a carga emocional que agrava os sintomas.

No fundo, a mensagem é simples porém libertadora: viver com Parkinson é viver com propósito.
Todos nós, em algum momento da vida, enfrentaremos diagnósticos e limitações. Mas aqueles que mantêm a fé, o ânimo e a conexão com o que dá sentido à vida descobrem que a doença não é um fim, mas um caminho possível para a renovação.

Kleber Carlos de Azevedo Júnior é médico neurocirurgião 

Referências:

Ahlskog JE. Parkinson’s disease: exercise may slow the progression. Neurology. 2011;77(3):288-294.
Evidência de que exercício regular pode modificar a progressão.
Bloem BR, et al. Parkinson’s disease. Lancet. 2021;397(10291):2284-2303.
Revisão de alto impacto que mostra a importância de abordagem multidisciplinar.

Miller KJ, et al. Mindfulness and psychological well-being in Parkinson’s disease. J Affect Disord. 2019;245:117–124.
Mostra o impacto da postura mental na qualidade de vida.

Shalash AS, et al. Caregiver burden and its determinants in Parkinson’s disease. Neurodegener Dis Manag. 2017;7(6):509–520.
Reforça o papel do sofrimento familiar e como ele retroalimenta a doença.

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