ELEIÇÕES

Artigo: Bangue-Bangue político opõe Cury e Emanuel versus Anderson e Felicio em S. José

Como em uma história de western spaghetti, ex-aliados tornam-se rivais e duelam pela cidade. Após definição de Cury, tendência é de aumento na temperatura e muito tiroteio verbal

Por Guilhermo Codazzi, editor-chefe de OVALE | 12/04/2024 | Tempo de leitura: 7 min
São José dos Campos

Reprodução

Cena do clássico do western 'Três Homens em Conflito'
Cena do clássico do western 'Três Homens em Conflito'

Do meu pai, além da paixão pelo Corinthians e do apreço pelos livros, herdei o amor pelo jornalismo, pela política e por velhos filmes de faroeste, de preferência com trilha sonora de Ennio Morricone e direção de Sérgio Leone, ícones do western spaghetti ou 'bangue-bangue à italiana'.

Marco da sétima arte dos anos 60 e 70, com estrelas do quilate de Clint Eastwood e Lee Van Cleef, o western spaghetti caracterizou-se por produções de baixo custo, mas com cenários exuberantes, roteiros repletos de heróis, anti-heróis e vilões, com histórias de ganância, vingança e redenção. Ah, e muitos tiros.

Bem, mas se os grandes clássicos do gênero foram gravados na Espanha e na Itália, hoje podemos dizer sem medo de errar -- com pontaria à lá Charles Bronson em 'Era uma vez no Oeste' (1968) -- que uma trilogia de bangue-bangue estará em cartaz nas urnas em São José dos Campos.

E não se trata de uma produção qualquer, é uma eleição de cinema. Ao final de três atos, esse 'bangue-bangue à bolinho caipira' põe frente a frente, em um duelo eletrizante, antigos companheiros que tornaram-se rivais, focados agora em sacar primeiro e (re)conquistar a cidade, que ficou pequena demais para os dois.

De um lado, com a estrela do PL no peito, está o ex-prefeito Eduardo Cury, ladeado por Emanuel Fernandes, antigo e respeitado ex-xerife, que voltou à baila após 10 anos e se refiliou ao PSDB, com 'sangue nos olhos' e sede de vingança -- ele não gosta nem sequer de ouvir o nome dos rivais.

Do outro lado, partindo para o seu primeiro duelo como cabeça de chapa, o prefeito Anderson Farias (PSD), cada vez mais investido no papel de 'xerifão', tem como desafio atrelar o seu nome à boa avaliação do governo, que herdou após a renúncia de Felicio Ramuth, vice-governador de São Paulo e seu maior aliado.

Depois de duas eleições tranquilas, vencidas por Felicio no primeiro turno, em 2016 e 2020, com o apoio de Emanuel, Cury e Anderson, o cenário mudou radicalmente, transformando-se em um jogo fratricida. Após décadas de embate PSDB e PT, ao que tudo indica, dois ex-tucanos que já não se bicam e mudaram de plumagem estarão em rota de colisão, com desafio final marcado para outubro deste ano.

Quem vencerá o duelo? O trailer já está em exibição e as caixas de ferramentas já estão sendo abertas. 

TRILOGIA.
Mas, se hoje estão em lados opostos, a verdade é que os dois lados já estiveram juntos. E não foi por um período breve, durou quase toda a primeira parte da trilogia desta história, iniciada com a vitória de Emanuel em 1996, sendo reeleito prefeito em 2000 e permanecendo no Paço Municipal por oito anos (1997-2004). Era o início da dinastia do PSDB.

O segundo capítulo, escrito entre os anos de 2005 e 2012, teve Cury como protagonista. Ex-secretário de Emanuel, coube a ele vencer o PT em duas eleições e, com os novos triunfos tucanos, cumprir dois mandatos, totalizando oito anos.

Na sequência, após o revés tucano com Alexandre Blanco em 2012, quando o hoje 'ex-enteado' de Emanuel e hoje aliado de Anderson sucumbiu ao duelo com Carlinhos Almeida (PT), foi a vez de Felicio assumir o protagonismo.

Com apoio de Emanuel e Cury, que apareciam ao seu lado nos santinhos de campanha, o hoje vice-governador de São Paulo venceu Carlinhos em 2016 e devolveu o Paço ao PSDB, partido pelo qual se reelegeu em 2020, em uma chapa-pura tendo como vice Anderson, à época também tucano.

PLOT TWIST.
Após vencer seis das sete últimas eleições para prefeito em São José, o PSDB parecia ter a dinastia sob controle, com Anderson colocando-se naturalmente como o nome para sucessão de Felicio em 2024, certo? Reviravolta! Aí é que entra o ponto de inflexão da história...

Em abril de 2022, justificando que o PSDB de João Doria e companhia "havia saído dele", Felicio renunciou ao cargo de prefeito de São José e migrou com Anderson para o PSD de Gilberto Kassab, de olho em uma vaga na disputa para governador -- se elegeu como vice na chapa encabeçada por Tarcísio de Freitas (Republicanos). De quebra, Felicio e Anderson levaram centenas de correligionários.

Ali, sentindo-se traído, Cury disparou, dizendo que estava "surpreso" e "triste" com a decisão de Felicio, que havia "abandonado" a cidade por um projeto pessoal, destacando que, ao lado de Emanuel, tentou demover o ex-aliado da decisão. Relação estremecida.

De lá pra cá, o que se viu foi um distanciamento cada vez maior dos antigos aliados. Para tentar neutralizar o risco de ter os antigos aliados como rivais, Felicio e Anderson tentaram colocar panos quentes, com declarações como 'Emanuel e Cury fazem parte do nosso time', evitando ataques diretos.

DEDO NO GATILHO.
Pois é, mas agora sobe a trilha sonora de tensão. É, porque o quadro mudou drásticamente nos últimos dias, deixando claro que até outubro a artilharia vai ser pesada. O tom mudou após a filiação de Cury ao PL de Bolsonaro, cena que surpreendeu parte do Paço, que acreditava na permanência do ex-prefeito no PSDB -- Felicio até tentou uma manobra para desestimular Cury a ir para a briga, como revelou OVALE.

Agora, apesar de Cury manter o discurso de que ainda vai decidir se será ou não candidato, nos bastidores do Paço o entendimento é de que agora ele estará na disputa e, por isso, já virou vidraça. Do Teatro Invertido para baixo é canela, diria o outro.

Dias após dizer que Cury era do seu time, em entrevista exclusiva na sede de OVALE, Felicio foi o primeiro a disparar. Em entrevista à Jovem Pan nesta quinta-feira, ele criticou o ex-aliado: “Fica a impressão de que fez algum movimento que não deu certo e volta, não pelo interesse da cidade, mas pessoal, de vaidade. Essa é minha opinião”, disse.

A resposta veio rápido. Nesta sexta, em entrevista à CBN Vale, o prefeito Izaias Santana (PSDB), de Jacareí, classificou as declarações de Felicio como "ingratas, deselegantes, grosseiras e antiéticas".

Com os protagonistas do duelo ainda no estilo filme mudo, coube aos coadjuvantes os primeiros sinais de que a disputa pelo espólio tucano em São José vai ter muito chumbo trocado, no melhor estilo da famosa 'Trilogia dos Dólares', dos anos 1960, conhecida também como a 'Trilogia do Homem sem Nome'.

PRÓXIMAS CENAS.
Se de um lado, como disse Emanuel a OVALE, o grupo de oposição faz um mapeamento dos problemas da cidade e quer comparar gestões, do outro, no Paço, há quem diga que a eleição vai ter 'menos Mané, mais Brasil' -- traduzindo, menos Emanuel ou São José, mais polarização política, bolsonarismo, etc.

E quem terá a primazia do discurso bolsonarista? Cury, agora correligionário do ex-presidente, que vê Kassab como desafeto? Ou Anderson, que tem apostado em uma figura de xerifão e, após já ter dito que não era nem 'L' [Lula] e nem 'B' [Bolsonaro], hoje tornou-se bolsonarista de carteirinha?

A população ainda se lembra dos feitos de Emanuel e Cury? Eles estão conectados às novas formas de duelo, em que redes disparam mais tiros do que uma Colt 45? O grupo de Anderson conseguirá desconstruir os antigos aliados?

Há espaço para outras vias? A seis meses da eleição, como mostrou reportagem de OVALE, há oito pré-candidatos.

PIPOCA E COLETE.

Na próxima semana, OVALE publicará mais dois capítulos desta análise pré-eleitoral em forma de trilogia. É bom preparar a pipoca e também um colete à prova de 'santinhos', caro (e)leitor, porque o bangue-bangue só está começando...

E, por fim, deixo uma dica de filme: 'Três Homens em Conflito', de 1966, capítulo dois da Trilogia dos Dólares. O longa, que tem o título original 'O Bom, o Mau e o Feio', é um clássico absoluto. A cena final, em que os personagens tem um duelo triplo, se assemelha ao cenário do nosso western local.

Curiosamente, Anderson enfrentará Cury e Emanuel. Cury enfrentará Anderson e Felicio. Cabe ao eleitor definir quem ficará com o papel do 'Bom', do 'Mau' e do 'Feio'. Bom filme.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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3 COMENTÁRIOS

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  • Joaquim donizeti de Almeida
    23/04/2024
    Está análise tem viés, ela assume que o PT não tem candidato, o que é um equívoco. Este ano o povo trabalhador vai participar com seu candidato.
  • WANDERSON CESAR MARTINS DE SOUZA
    16/04/2024
    Curry tá nem ai com sjc, perdeu a boquinha como deputado e agora foi pro PL do Bolso no qual só falava mal, sem contar que como deputado em 8anos ele fez alguma coisa pra cidade ou pelo vale. abre o olho Joseense.
  • Joel de oliveira
    13/04/2024
    Na política e dos politicos se espera de tudo mas no caso de São José o Cury vem ai pra colocar ordem na casa.