Em 2025, ao completar 200 anos do nascimento de Dom Pedro II, reaparecem fragmentos de sua vida e legado — pelas páginas de diários, pelas bordas de cadernetas restauradas, pelas imagens de suas viagens — como lembretes de um império que se projetava nas letras, na cultura, na ciência… e no mundo. Mas, mesmo com o bicentenário e esforços de preservação histórica, o Brasil parece hesitar em tratá-lo como deveria: com memória ativa, debate crítico e reconhecimento.
Apesar de ter ascendido ao trono ainda jovem — aos 14 anos como resultado do chamado “Golpe da Maioridade” — Dom Pedro II só fez sua primeira viagem ao exterior aos 46 anos. Sua vida adulta, até então, estava presa às urgências de governo e aos deveres do trono.
Durante o século XIX, deslocar-se era uma aventura imensa: estradas precárias, viagens longas, dificuldades de transporte. Para muitos, viajar era mais sonho de livro do que realidade concreta.
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Mesmo com todos esses obstáculos, o imperador conduziu expedições pelo Brasil — em regiões como Nordeste, Sul, Sudeste — e, finalmente, por países da Europa, América do Norte, Oriente e África.
Suas impressões dessas viagens estão guardadas em cadernetas e diários — manuscritos hoje reconhecidos como patrimônio documental da humanidade pela UNESCO.

Cadernetas restauradas: janela para o século XIX
Em 2025, o Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), finaliza o restauro de 38 cadernetas que pertenceram ao imperador — um trabalho delicado de higienização, recomposição, encadernação e conservação, para preservar documentos frágeis de mais de 150 anos.
Esses volumes — registros de viagens, observações, impressões pessoais e culturais — se tornam um tesouro para historiadores, pesquisadores e para qualquer cidadão interessado na história do Brasil.
A restauração não é apenas técnica: é simbólica. Significa reabilitar a voz de um monarca curioso, viajante, atento aos contrastes do Brasil imperial, às belezas naturais, à diversidade social e às transformações da época.
A ambivalência da memória — celebrando sem celebrar
Apesar de sua relevância histórica — anunciada por seu reinado de quase 50 anos, sua defesa da educação, ciência, cultura e liberdade de imprensa —, muitos hoje argumentam que o Brasil “esqueceu” de celebrar Dom Pedro II de forma digna.
O texto de opinião recente “Os 200 anos de Dom Pedro II: o estadista que o Brasil esqueceu de celebrar” aponta que falta ao país um reconhecimento institucional mais consistente: ausentes monumentos, políticas públicas de memória ou celebrações oficiais robustas.
Ironicamente, o restaurar de cadernetas, a abertura de exposição no Museu Imperial e a repercussão midiática servem como um contraponto a esse silêncio — uma tentativa de reacender, nas páginas amareladas pelo tempo, a relevância cultural, histórica e simbólica do imperador.