Há 200 anos — em 2 de dezembro de 1825 — nascia no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, aquele que se tornaria o segundo e último imperador do Brasil, Dom Pedro II. Em 2025, o bicentenário de seu nascimento reacende o debate sobre seu legado como estadista culto, guardião das instituições e impulsionador da ciência, educação e modernização no país.
Da infância ao trono: preparo e responsabilidade
Filho de Dom Pedro I e da imperatriz consorte (Maria Leopoldina da Áustria), Dom Pedro II cresceu imerso numa educação rigorosa: dominava várias línguas, tinha gosto por leitura, ciências e artes, preferindo os livros e instrumentos científicos à ostentação palaciana. )
Quando, em 1831, a abdicação de seu pai deixou o Brasil sob um período de regências, prevaleceram os medos de instabilidade. Por isso, em 1840, apenas aos 14 anos, foi declarado maior de idade — no que ficou conhecido como “Golpe da Maioridade” — para assegurar a continuidade da monarquia e garantir a coesão nacional.
VEJA MAIS:
- Um imperador viajante, curioso e universal
- Dom Pedro II: o cientista-imperador e o legado que molda o Brasil
- Família Imperial Brasileira: história, legado e presença hoje
- Clique aqui e receba, gratuitamente, as principais notícias da cidade, no seu WhatsApp, em tempo real.
Um reinado longo e transformador
No trono por quase cinco décadas, Dom Pedro II conduziu o país com firmeza e convicção. Seu governo foi marcado por uma estratégia de modernização que buscava colocar o Brasil em pé de igualdade com as nações mais avançadas da época.
Ele foi, talvez, o primeiro grande “patrono da ciência e da educação” do Brasil. Com recursos próprios, financiou o estudo de jovens brasileiros no exterior — um mecanismo conhecido como “bolsinho do imperador” —, condição para que retornassem e aplicassem seus conhecimentos no país.
Além disso, mantinha um observatório astronômico no Palácio de São Cristóvão e chegou a comprar, por sua conta, um telescópio que seria o maior da América do Sul — embora este nunca tenha sido instalado após a queda da monarquia.
No campo cultural e institucional, sua influência foi igualmente marcante: apreciador de artes, literatura e das ideias europeias — especialmente francesas —, cultivou uma intensa correspondência com intelectuais, cientistas e literatos. Muitos historiadores o descrevem como um “mediador cultural” que ajudou a inserir o Brasil nas redes intelectuais globais da época.
No plano institucional, o reinado de Dom Pedro II atravessou crises revoltosas — como insurreições regionais e a Guerra do Paraguai —, mas conseguiu preservar a unidade nacional, manter a Constituição e dar relativa estabilidade política por décadas.

Bicentenário: memórias, reavaliações e celebrações
Com o bicentenário, várias iniciativas culturais e acadêmicas buscam reviver a memória de Dom Pedro II sob uma nova ótica — menos mitificada, mais crítica, mas ainda cheia de admiração pela sua dimensão intelectual e visionária.
O Museu Imperial, por exemplo, abre ao público a partir de dezembro de 2025 a exposição “Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória”, que apresenta objetos pessoais, cadernetas de viagem restauradas, além do traje de coroação usado por Dom Pedro II — tudo para dar rosto humano e cotidiano à figura histórica.
Instituições de ensino também resgatam seu legado: escolas batizadas com seu nome promovem debates sobre seu papel na educação e no desenvolvimento nacional; acadêmicos debatem até hoje se o equilibrio entre poder, ciência e arte sob seu reinado poderia servir de modelo para o Brasil contemporâneo.
Por que Dom Pedro II continua relevante?
* Ele representa um período — hoje lembrado como “idade de ouro” — em que o Brasil viveu relativa estabilidade institucional, crescimento econômico, progresso cultural e boa inserção internacional. Mesmo marcado por desigualdades e contradições, esse momento serviu como base para o que o país se tornaria.
* Sua paixão por conhecimento, curiosidade científica e abertura à cultura tornaram-no um governante fora do padrão: investia em talentos, financiava estudos no exterior, incentivava a pesquisa e valorizava a educação — um compromisso que, muitos postulam, falta à política contemporânea.
* O bicentenário se impõe como momento para refletir: até que ponto o Brasil atual poderia resgatar valores como o de sua responsabilidade com o interesse público, a valorização da cultura e da educação — e usar isso como inspiração para os grandes desafios de hoje. Como sugere um de seus biógrafos, olhar para Dom Pedro II é também perguntar que Brasil queremos construir.
Duzentos anos depois de seu nascimento, Dom Pedro II permanece como símbolo de um Brasil plural — de ciência, cultura, instituições e esperança de progresso. O bicentenário não serve apenas para relembrar o passado, mas para questionar o presente e projetar um futuro onde educação, democracia e conhecimento ocupem seu lugar central. Revisitar sua história é revisitar nossas próprias aspirações como nação.