Uma terceira morte por ingestão de bebida contaminada com metanol foi confirmada em São Bernardo do Campo (SP) nesta segunda-feira (29). A vítima, um homem de 45 anos, engrossa uma estatística preocupante: em apenas 25 dias, o estado registrou 25 casos de intoxicação, dos quais três foram fatais, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP).
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A repetição dos episódios em 2025 faz soar o alerta para uma ameaça antiga. Desde 1990, pelo menos 60 pessoas perderam a vida em território nacional após consumir cachaça, vodca ou outras bebidas adulteradas com metanol — solvente industrial que, quando ingerido, lesa o sistema nervoso, provoca cegueira e pode levar à morte em poucas horas. Neste mesmo intervalo, mais de 450 brasileiros precisaram de internação por envenenamento.
O maior desastre ocorreu em 1999, no sudoeste baiano. Trinta e cinco moradores de dez municípios, entre eles Nova Canaã e Ibicuí, não resistiram após beber aguardente artesanal. Exames do Instituto Médico Legal revelaram concentrações de até 20 ml de metanol por 100 ml de álcool — 80 vezes o limite considerado tolerável. Quatrocentas pessoas apresentaram sintomas como visão turva, vômitos e dores intensas.
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Nove anos antes, Santo Amaro (BA) contabilizara 14 óbitos pelo mesmo motivo. O comerciante que distribuíra a bebida chegou a admitir desconhecer a toxicidade do solvente. Outro surto, em 1997, tirou 13 vidas em Lamarão e Serrinha, também na Bahia; laudos apontaram índice de metanol 68 vezes acima do aceitável.
Especialistas do Centro de Informação e Assistência Toxicológica observam mudança de perfil nos casos recentes: “A intoxicação deixou de ser pontual e passou a acontecer em bares e festas, com drinks à base de gin, uísque e vodca de origem duvidosa”, alerta a Senad. A pasta admite subnotificação, já que nem todos os pacientes procuram serviços de saúde.
Para reduzir riscos, o Centro de Vigilância Sanitária recomenda que consumidores:
- comprem apenas produtos com selo fiscal, lacre intacto e rótulo legível;
- verifiquem número de lote e fabricante;
- desconfiem de preços muito abaixo da média;
- denunciem estabelecimentos irregulares à Anvisa ou à polícia.
Autoridades estaduais ampliaram operações de fiscalização, mas reforçam que a primeira barreira é o próprio cliente. “Uma garrafa supostamente barata pode ter um custo irreversível”, resume um inspetor da Polícia Civil paulista que coordena a investigação sobre a origem das bebidas letais.