O encerramento do ano costuma ser vendido como um momento de celebração, metas cumpridas e sensação de dever realizado. Na prática, porém, esse período frequentemente desperta ansiedade, frustração e uma percepção ampliada de falhas pessoais. A soma de prazos, expectativas sociais e balanços internos cria um cenário emocionalmente desafiador para muitas pessoas.
VEJA MAIS:
- Golpe imperceptível drena contas bancárias em minutos; SAIBA COMO
- Saidinha vira pesadelo: presos reincidem crimes em SP; VEJA
- Clique aqui e receba, gratuitamente, as principais notícias da cidade, no seu WhatsApp, em tempo real.
De acordo com o professor João Manfio, docente do curso de Psicologia da UniSociesc, o fim do ano funciona como um “marco simbólico” que convida à avaliação da própria vida — nem sempre de forma gentil. “Quando um ciclo se fecha, somos levados a confrontar não apenas o que conquistamos, mas também aquilo que ficou pelo caminho. Esse contraste tende a gerar sofrimento emocional”, explica.
A pressão invisível por resultados
Expressões comuns nesta época, como “terminar o ano bem” ou “fechar com chave de ouro”, podem parecer inofensivas, mas carregam uma lógica de desempenho constante. Segundo Manfio, esse tipo de discurso acaba sendo internalizado e transformado em autocobrança excessiva.
“O problema não está em estabelecer objetivos, mas em usar essas metas como régua absoluta para julgar a própria vida. Quando isso acontece, qualquer desvio do ideal pode ser interpretado como fracasso”, afirma. Na maioria das vezes, essa cobrança é mais interna do que externa — e pouco conectada às condições reais vividas ao longo do ano.
Quando a ansiedade deixa de ser passageira
Sentir-se mais tenso no fim do ano é esperado, especialmente diante de compromissos acumulados e mudanças na rotina. No entanto, há sinais de alerta que indicam a necessidade de atenção profissional. Entre eles estão dificuldades persistentes para dormir, sensação de aperto no peito, pensamentos acelerados e a incapacidade de manter atividades cotidianas por causa da ansiedade.
“Quando o corpo começa a sinalizar dessa forma, não é fraqueza, é um pedido de cuidado”, ressalta o professor. Buscar apoio psicológico nesses casos pode evitar que o sofrimento se prolongue ou se intensifique.
Reflexão anual: ferramenta ou armadilha?
Fazer um balanço do ano pode ser positivo, desde que não se transforme em um ritual de autocrítica. Para o psicólogo, a reflexão saudável é aquela que considera o contexto e reconhece limites. “Perguntar apenas ‘o que faltou?’ reforça uma visão punitiva. Uma pergunta mais honesta seria: ‘o que foi possível fazer com os recursos e condições que eu tinha?’”, orienta.
Ele destaca ainda que metas profissionais não devem ser confundidas com valor pessoal. “A vida não pode ser reduzida a uma lista de entregas.”
Estratégias para atravessar o período com mais leveza
Algumas atitudes simples podem ajudar a reduzir o impacto emocional típico do fim do ano:
- Redefina prioridades: Nem tudo precisa ser resolvido antes do dia 31. Escolher o que é essencial diminui a sensação de sobrecarga.
- Coloque limites na agenda: Convites, reuniões e demandas familiares se multiplicam. Respeitar o próprio tempo é uma forma de autocuidado.
- Reduza comparações digitais: As redes sociais tendem a exibir apenas recortes idealizados de conquistas. Limitar o tempo de exposição ajuda a preservar a saúde mental.
- Use o corpo a seu favor: Respiração consciente, pausas curtas, caminhadas e momentos de silêncio ajudam a regular o sistema emocional.
- Peça ajuda sem culpa: Conversar com um profissional ou alguém de confiança pode aliviar o peso das cobranças internas.
Cansaço não é fracasso
Por fim, Manfio reforça que o esgotamento emocional é um reflexo do ritmo de vida contemporâneo. “Vivemos em uma lógica que exige produtividade constante. Sentir-se cansado não é sinal de incompetência, é sinal de humanidade”, conclui.
Reconhecer limites, rever expectativas e atravessar o fim do ano com mais compaixão por si mesmo pode ser o primeiro passo para começar um novo ciclo de forma mais saudável.