CRISE CLIMÁTICA

Aquecimento global pode aumentar casos de Parkinson? SAIBA AGORA

Por Da redação |
| Tempo de leitura: 3 min
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As mudanças no clima global deixaram de ser apenas uma pauta ambiental e passaram a preocupar também a medicina. Pesquisas recentes começam a indicar que o avanço do aquecimento global, aliado à piora da qualidade do ar e ao aumento de eventos extremos, pode ter impacto direto sobre doenças neurológicas — entre elas, o Parkinson.

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A hipótese ainda está em construção, mas já chama a atenção de especialistas: fatores ambientais intensificados pela crise climática podem contribuir tanto para o surgimento da doença quanto para a piora dos sintomas em pessoas que já convivem com o diagnóstico.

Aquecimento global entra no radar da neurologia

Um estudo publicado no Journal of Climate Change and Health analisou dados de 185 países ao longo de mais de duas décadas e encontrou uma associação consistente entre o aumento da temperatura média e o crescimento de indicadores ligados ao Parkinson, como prevalência, mortalidade e anos vividos com incapacidade. O efeito foi mais expressivo em regiões tradicionalmente mais quentes, sugerindo que o calor pode atuar como fator agravante.

Outro trabalho científico, divulgado neste ano na revista Parkinson’s Disease, reforçou a preocupação ao identificar que a exposição prolongada à poluição do ar — especialmente ao material particulado fino — esteve associada a maior risco de desenvolver a doença em pessoas com menos de 50 anos. O dado levanta a possibilidade de maior vulnerabilidade em faixas etárias mais jovens, embora novas pesquisas ainda sejam necessárias para confirmação.

Ambiente, cérebro e saúde pública

A discussão ganhou força em um artigo de revisão publicado em 2025 na revista Movement Disorders, que defende uma abordagem mais ampla sobre as causas do Parkinson. Além do envelhecimento e da genética, os autores destacam o papel de exposições ambientais como pesticidas, poluentes industriais e contaminação urbana — fatores que tendem a se intensificar com as mudanças climáticas.

Segundo especialistas, esse cenário reforça a necessidade de integrar neurologia, saúde pública e políticas ambientais. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconhece que eventos climáticos extremos, insegurança hídrica, poluição do ar e estresse associado ao clima aumentam o risco de doenças crônicas não transmissíveis.

Sintomas também podem variar com o clima

Além do possível impacto na incidência da doença, o clima também pode interferir diretamente na rotina de quem vive com Parkinson. De acordo com a American Parkinson Disease Association (APDA), variações de temperatura, umidade e pressão atmosférica podem influenciar sintomas motores e não motores.

Ondas de calor, por exemplo, podem agravar fadiga, confusão mental, desidratação, quedas de pressão e alucinações, especialmente porque a doença afeta o controle da temperatura corporal. Já períodos de frio intenso costumam aumentar rigidez muscular, dor e tremores. Ambientes muito úmidos podem gerar sensação de lentidão e inchaço, enquanto grandes altitudes podem favorecer tontura e instabilidade postural.

Para o neurocirurgião funcional Dr. Marcelo Valadares, pesquisador da Unicamp e especialista no tratamento do Parkinson, o momento exige atenção e preparo. “As evidências ainda estão em desenvolvimento, mas ignorar o fator climático seria um erro. Orientar pacientes e familiares sobre cuidados em situações de calor ou frio extremos é uma medida preventiva, não alarmista”, afirma.

Desafio para o sistema de saúde

No Brasil, o Ministério da Saúde já reconhece os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde e publicou um guia voltado a profissionais da área. No entanto, especialistas apontam que ainda faltam diretrizes específicas para doenças crônicas, como o Parkinson, especialmente no que diz respeito à prevenção e ao manejo dos sintomas em cenários climáticos adversos.

Com a intensificação do aquecimento global, cresce a pressão para que gestores públicos e serviços de saúde considerem variáveis ambientais no planejamento do cuidado, protegendo populações mais vulneráveis e antecipando riscos que vão além das emergências climáticas imediatas.

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