RELIGIÃO E PROFECIAS

Profecia do ‘arrebatamento’ agita internet e divide opiniões

Por Da redação |
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Reprodução/Domínio Público
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, em pintura de Viktor Vasnetsov, de 1887.
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, em pintura de Viktor Vasnetsov, de 1887.

Um vídeo publicado há três meses no YouTube pela Centtwinz TV trouxe à tona uma previsão que rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Nele, o pastor sul-africano Joshua Mhlakela afirma ter recebido de Jesus a mensagem de que o mundo chegaria ao fim na virada de 23 para 24 de setembro.

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O anúncio, de quase uma hora de duração, foi interpretado por muitos como parte da doutrina do “arrebatamento” — crença presente em segmentos evangélicos segundo a qual fiéis seriam levados aos céus antes de um período de tribulação. A coincidência da data com o Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico, reforçou ainda mais a repercussão.

O impacto nas redes sociais

No TikTok e no X (antigo Twitter), milhares de vídeos replicaram a profecia. Entre memes, piadas, testemunhos emocionados e até pessoas vendendo bens ou pedindo demissão, a teoria ganhou força principalmente nos Estados Unidos, países africanos e na Índia.

A discussão vai além da fé: em tempos de guerras, pandemia recente e crise climática, a sensação de insegurança coletiva abre espaço para mensagens apocalípticas que se espalham com rapidez.

O arrebatamento sob diferentes visões

Nem mesmo entre líderes religiosos há consenso sobre como — ou se — o arrebatamento acontecerá.

  • Vertente pré-tribulação: acredita que os cristãos seriam levados antes de sete anos de sofrimento.
  • Meia tribulação: defende que os fiéis passariam por três anos e meio de provações.
  • Pós-tribulação: sustenta que todos atravessariam os sete anos descritos no Apocalipse antes da volta de Cristo.

Influenciadores e pastores populares, como Antônio Júnior, Hernandes Dias Lopes e Sérgio Corrêa, têm se posicionado publicamente, cada qual com sua interpretação. Já a Igreja Católica rejeita oficialmente a ideia.

Entre a fé e o medo do futuro

Para especialistas, o fenômeno diz muito sobre o cenário atual. O sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, da PUC-SP, aponta que o crescimento do neopentecostalismo, somado à onipresença das redes sociais, forma terreno fértil para profecias apocalípticas.

Ele observa que, se nas sociedades antigas os mitos fortaleciam a coletividade, hoje surgem como refúgio de grupos isolados, funcionando quase como bolhas digitais. “Vivemos em uma era de frustrações em relação às promessas da modernidade. A crise ambiental e as guerras só intensificam esse medo”, afirma.

História e origem da teoria

O conceito do arrebatamento remonta ao século 19, quando o pastor anglo-irlandês John Nelson Darby apresentou sua interpretação. Décadas depois, ela ganhou notoriedade mundial através da Bíblia de Cyrus Scofield, cujas notas de rodapé popularizaram a ideia.

No século 20, a profecia foi reforçada por pastores midiáticos, como Harold Camping, que chegou a prever o fim em 2011. Outros nomes, como Jack Van Impe, também apontaram datas que nunca se confirmaram.

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