Um dos mais respeitados climatologistas do mundo, o brasileiro Carlos Nobre, lançou um alerta contundente sobre o futuro do planeta. Segundo ele, a humanidade já ultrapassou a marca crítica de 1,5°C de aquecimento em relação à era pré-industrial, o que pode levar a consequências irreversíveis. “A última vez que o planeta passou por algo semelhante foi há mais de 120 mil anos. A diferença é que, agora, a culpa é nossa”, afirma.
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Pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, Nobre projeta um cenário em que regiões como o Rio de Janeiro se tornem inabitáveis por meses ao longo do ano, caso as emissões de gases do efeito estufa não sejam drasticamente reduzidas. A previsão mais alarmante aponta para um aumento de até 4°C até o final do século.
Amazônia dá sinais de colapso iminente
Carlos Nobre foi o primeiro cientista a alertar sobre o risco de a Amazônia atingir o chamado "ponto de não retorno" — quando a floresta perde sua capacidade de regeneração e começa a se transformar em uma savana. Segundo ele, esse processo está mais próximo do que nunca.
Nas últimas quatro décadas, a estação seca na região amazônica se alongou em mais de um mês. “Se a tendência continuar, em 20 a 30 anos teremos até seis meses de estiagem. Isso tornaria a floresta inviável”, explica. Além disso, a capacidade da Amazônia de absorver carbono caiu drasticamente: de 1,5 bilhão de toneladas por ano, agora restam apenas 200 a 300 milhões.
O número de eventos extremos também aumentou de forma preocupante. “Antes, uma seca severa ocorria a cada duas décadas. Agora tivemos quatro em menos de 20 anos — sendo a mais intensa registrada entre 2023 e 2024”, relata o climatologista.
Desmatamento criminoso alimenta os incêndios
Mesmo com a redução oficial nos índices de desmatamento, os incêndios seguem em alta, impulsionados pela ação humana. Carlos Nobre denuncia que mais de 85% das queimadas são provocadas de forma intencional, muitas vezes por grupos criminosos que usam o fogo como estratégia para abrir espaço no território.
Para Nobre, a única maneira de reverter esse cenário passa pela valorização da sociobiodiversidade e pela restauração dos ecossistemas. Ele defende o fortalecimento da bioeconomia amazônica como alternativa viável e sustentável. Um dos caminhos, segundo o cientista, está no Arco da Restauração, proposta apresentada pelo governo na COP28, que pretende recuperar 240 mil km² no sul da Amazônia. A estratégia inclui apoio financeiro a comunidades locais e crédito para empresas que invistam em reflorestamento.
Setor agro resiste — e corre risco
Apesar das alternativas, Carlos Nobre reconhece os obstáculos políticos e econômicos. Um dos principais entraves está no próprio agronegócio, que, segundo ele, ainda resiste a reconhecer os impactos da crise climática. “É o setor mais negacionista. Mas se continuar assim, ele próprio vai sofrer. O Brasil pode perder a capacidade de ser uma potência agrícola”, adverte.
Para mudar essa realidade, ele defende um pacto nacional e global liderado pelo Brasil, com metas ambiciosas a serem assumidas já na COP30, que será realizada em Belém (PA), em 2025. Nobre cita como exemplo a proposta de zerar as emissões até 2040 e a mobilização para garantir o acesso ao Fundo Verde do Clima, estimado em US$ 1,3 trilhão.
Planeta enfrenta risco real de extinção em massa
O climatologista também alerta para os riscos em cadeia que o aquecimento global pode provocar. Com o avanço das temperaturas, sistemas naturais como o permafrost da Sibéria e os depósitos de metano nos oceanos podem entrar em colapso. “Se atingirmos 2,5°C até 2050, o planeta atravessará múltiplos pontos de não retorno, o que pode levar o aquecimento global a 8 ou 10°C até 2150”, projeta.
Esse cenário tornaria boa parte da Terra inabitável, com impactos catastróficos para a vida humana. “Já houve seis extinções em massa, todas causadas por eventos naturais. Esta seria a primeira provocada por uma única espécie: nós”, resume Carlos Nobre.