
O empresário Eike Batista anunciou no mês passado, fevereiro, uma captação de US$ 500 milhões para financiar a primeira fase de seu novo projeto no setor agroenergético. A iniciativa gira em torno de uma variedade de cana-de-açúcar com capacidade de produção superior às variedades convencionais, tanto em etanol quanto em biomassa.
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Super Cana
Produtividade: Até 3 vezes mais etanol e 12 vezes mais biomassa que a cana tradicional
Objetivos: Aumentar a eficiência na produção de etanol e biomassa
Benefícios: Reduzir a necessidade de expandir áreas de plantio e preservar biomas
Usos: Produção de etanol, biomassa, embalagens para substituir o plástico
O investimento foi estruturado por um fundo de infraestrutura liderado por Mário Garnero e conta com a participação do Abu Dhabi Investment Group (ADIG) e do próprio Garnero. A quantia será destinada à aquisição e operação de 70 mil hectares de terra no entorno do Porto do Açu, no estado do Rio de Janeiro. De acordo com Batista, o local abrigará o primeiro módulo do projeto, com capacidade estimada de produção de 1 bilhão de litros de etanol e 1 milhão de toneladas de biomassa por ano, quando em plena operação.
O fundo ficará com 40% de participação neste primeiro módulo, avaliado em US$ 1,6 bilhão após o aporte. A entrada do grupo de Abu Dhabi está vinculada à produção de combustível sustentável de aviação (SAF) para a companhia Emirates.
Um segundo módulo está planejado e incluirá terras no Brasil e uma planta nos Estados Unidos, na Flórida, voltada ao beneficiamento da biomassa. A estruturação financeira desta etapa será realizada por meio de um token digital denominado $EIKE, com oferta inicial planejada para captar US$ 100 milhões por meio da venda de 100 milhões de unidades a US$ 1 cada. Os detentores do token terão direito a 10% dos lucros futuros do projeto. Segundo o empresário, os fundadores do token terão um período de restrição de quatro anos para negociar o ativo, tempo considerado necessário para o início da geração de lucros.
O projeto prevê a criação de diversos módulos semelhantes, cada um com cronograma de plantio escalonado: 50 hectares no primeiro ano, mil hectares no segundo e 20 mil no terceiro. A expectativa é que cada unidade atinja um Ebitda anual de US$ 5,9 bilhões a partir do quarto ano de operação. Com base nesse valor e em um múltiplo de mercado de 10,5 vezes, o valuation projetado de cada módulo pode chegar a US$ 63 bilhões.
A variedade conhecida como “supercana” foi desenvolvida há mais de duas décadas por dois pesquisadores brasileiros, Luis Carlos Rubio e Sizuo Matsuoka. O projeto teve início na Votorantim Novos Negócios em 2002 e resultou na criação da CanaVialis, posteriormente vendida à Monsanto em 2008. Após a descontinuação do projeto em 2015, Rubio e Matsuoka fundaram a Vignis, empresa que passou a contar com o apoio de Batista naquele mesmo ano.
O desenvolvimento foi interrompido em 2017 após problemas judiciais enfrentados por Batista, levando à falência da Vignis. Em 2023, o empresário retomou contato com os criadores da tecnologia e firmou um acordo que prevê sua participação na empresa BRXe, atual detentora das 17 variedades registradas da nova cana, caso consiga levantar recursos para o projeto.
A BRXe afirma que as variedades desenvolvidas apresentam resistência superior a pragas e secas, além de maior produtividade. Dados apresentados indicam uma média de 181 toneladas por hectare, em comparação com as 58 toneladas da variedade tradicional, com a mais produtiva alcançando 208 toneladas por hectare.
Além da produção de etanol e SAF, o bagaço da nova cana poderá ser utilizado para fabricar materiais substitutos ao plástico, com aplicação em embalagens e outros produtos. A tecnologia empregada nas resinas permitiria a transformação da biomassa em polímeros de base vegetal.
Batista afirmou que há intenção de substituir, de forma progressiva, as áreas atualmente utilizadas com variedades tradicionais de cana-de-açúcar por essa nova variedade nos próximos cinco a dez anos.