Com a máquina fumegante nas mãos, o pistoleiro fita o oponente.
Ecstasy of gold é a trilha sonora. Entre velhos conhecidos, uma nova rivalidade. Só um seguirá em pé. Quem sacará primeiro? Quem comandará a cidade?
Diante do mais importante duelo de sua vida, ele caminha do sétimo andar, passo a paço até a hora da verdade. Perto dali, enquanto a multidão acompanha eletrizada cada movimento, um menino acompanha o pai, que acotovela-se entre os populares, na tentativa de encontrar o melhor lugar. O garoto, então, cutuca o pai, puxando-lhe a ponta do surrado casaco, e pergunta ao seu velho: mas quem é aquele homem?
Pois bem, caro leitor, acrescente aí a música apoteótica de Ennio Morriconne e o olhar de Sérgio Leone, além de grande elenco, e chegamos à terceira parte da trilogia sobre o cenário pré-leitoral de São José dos Campos. Depois da exibição de 'Três Homens em Conflito' e 'Era uma vez no Oeste', está em cartaz no coração e na mente do eleitor 'O homem sem nome'.
No primeiro capítulo, em um plano aberto, a trama central foi o duelo Eduardo Cury/Emanuel Fernandes vs. Anderson Farias/Felicio Ramuth. Depois, em um plano médio, a sequência tratou dos desafios impostos à dupla Cury e Emanuel, que busca apresentar ao público a remake de "Era uma vez em São José", contrapondo o atual governo com os anteriores, e largando na ponta, graças à memória afetiva da plateia, apesar de ainda dar uma tropeçada no cenário digital.
Agora, em nossa trilogia de bangue-bangue à bolinho caipira, o personagem principal tem nome e sobrenome: Anderson Farias (PSD), prefeito de São José. O chefe do Executivo, que tem investido na figura de 'xerife', principalmente nas redes sociais, posicionando-se em contraposição ao petista Lula e apostando em temas nacionais, como saidinha temporária, combate às drogas, entre outros.
Trata-se da estratégia "Menos 'Mané', mais Brasília", já em pleno vigor pelos lados do Paço Municipal. Vamos colocar legenda? Traduzindo: diante de uma cidade com eleitorado que tem mostrado-se majoritariamente conservador, quanto mais ele se alinhar ao ideário bolsonarista, se posicionar contra Lula e a esquerda, melhor. Não à toa, Anderson não esteve com Lula na visita do presidente à cidade, no último dia 26.
Os números ajudam a entender a estratagema palaciana. Em 2022, em São José, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 62,58% dos votos no segundo turno contra Lula, que ficou com 37,42%. Mais recentemente, em fevereiro, OVALE mostrou, de forma exclusiva, a avaliação do governo petista entre os joseenses: 63,34% reprovam o governo 'Lula 3' e 24,44% aprovam, e 12,22% não responderam.
Dias atrás, buscando um contraste entre Palácio do Planalto e Paço Municipal, Anderson apostou no emprego: "Diferente do Brasil, São José dos Campos segue avançando! Pelo terceiro mês seguido, a nossa cidade registrou alta na geração de empregos com carteira assinada", comemorou. Antes, em 15 de abril, ele atribuiu a um "braço do PT" a paralisação no transporte público municipal.
E não foi só. Dias antes, havia abordado o debate no Senado da PEC que criminaliza o porte e a posse de drogas, independentemente da quantidade. "Como já era esperado, o PT foi o único partido que orientou o voto contrário", afirmou. O mesmo tom foi usado no dia 13 de abril, quando falou da saída temporária. "Ao vetar o fim da saída temporária de presos, mais uma vez Lula mostra de que lado está. A defesa da vítima fica em segundo plano", bradou.
'Menos Mané, mais Brasília'. É a estratégia certa? Ou estão comprando -- eu disse comprando -- gato por lebre?
BRASÍLIA.
Será que o inimigo de Anderson nas urnas, no duelo mais equilibrado em décadas, vai ser o PT de Lula? Não. Provavelmente com Wagner Balieiro como candidato, o PT terá papel de coadjuvante neste enredo.
Então, será que o eleitor vai, diante da urna, antes de exercer o seu direito ao voto, ligar o seu 'bolsonaristômetro' e medir que candidato é mais ou menos bolsonarista? Em um ambiente polarizado, com candidatos antagônicos, pode funcionar. Mas é este o caso de São José? Não, não é. São José terá um duelo em que os principais candidatos serão mais iguais do que distintos. Então, a aposta na polarização é a melhor estratégia?
Diferentemente do que aconteceu nas duas últimas eleições municipais, vencidas por Felicio Ramuth (à época no PSDB e hoje, assim como Anderson, no PSD de Gilberto Kassab), o cenário é desafiador. Em 2016, além do apoio vital dos maiores caciques tucanos, sigla que havia vencido quatro dos cinco pleitos anteriores, Felicio tinha a seu favor o ápice do sentimento de antipetismo no país. Venceu no primeiro turno.
Em 2020, sem nenhum juízo de valor sobre os concorrentes, não havia nenhuma candidatura consistente o suficiente para atrapalhar a reeleição de Felicio, tendo como vice Anderson -- ele assumiria o Paço em abril de 2022, após Felicio renunciar para ser pré-candidato do PSD ao governo estadual, em uma eleição em que acabou sendo eleito como vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Agora, com Anderson pela primeira vez como cabeça de chapa, o jogo é outro e promete ser muito mais duro. Como principais adversários, Cury e Emanuel, que estão longe de serem petistas ou "esquerdistas" -- foram eles que pavimentaram o caminho depois seguido por Felicio e o atual prefeito.
Menos Mané e mais Brasília?
Cury, que lidera as pesquisas pré-eleitorais, migrou para o PL, partido de Bolsonaro. Qual será o empenho do ex-presidente no pleito joseense? Além da verba e tempo de televisão, a ida para o PL, inegavelmente, aproxima Cury deste público bolsonarista, mesmo que façamos aqui a ressalva do fenômeno Bolsonaro ser suprapartidário. Pelos lados palacianos, isso vai dar mais trabalho do que resgatar áudios com críticas de Cury a Bolsonaro...
Para Anderson, que está ainda consolidando a sua imagem diante do eleitor, acenar para os bolsonaristas é uma coisa, mas apostar na polarização com o PT fica ainda mais inexplicável quando lembramos que o PSD de Kassab integra a base do governo Lula, pessimamente avaliado em São José.
Anderson está com a máquina fumegante nas mãos, mas pode estar mirando para o lado errado. E em um duelo contra um forte oponente, isso pode ser letal.
Menos conhecido do que seu principal adversário, já que sairá pela primeira vez como 'o' candidato e não tem recall, Anderson ainda não conseguiu fazer com que o eleitor ligue o seu nome à boa avaliação do governo, que ultrapassa os 70% de aprovação.
Passados dois anos, desde que assumiu o sétimo andar do Paço, analisando seu andar passo a paço, pode-se constatar que ele apostou na continuidade. Manteve a avaliação positiva da gestão iniciada por Felicio, de acordo com levantamentos feitos por OVALE e outros veículos neste período, mas ainda não conseguiu emplacar a estratégia 'Bozó', no melhor estilo 'cara crachá'. O atual prefeito ainda não conseguiu conectar a imagem dele à aprovação de seu governo, rompendo as bolhas de redes sociais. Ainda dá tempo?
Até outubro muito coisa vai acontecer. Se quiser ser eleito, Anderson vai precisar descobrir o pulo do gato. Sem chute, pode-se afirmar que ele passa por uma mudança de rota, de entendimento. É mais São José, menos Brasília.
Leia os outros capítulos desta trilogia:
Cenário político: Artigo: Bangue-Bangue político opõe Cury e Emanuel versus Anderson e Felicio em S. José
Emanuel e Cury: 'Era uma vez em São José': Qual é a senha do Wi-fi do coração dos eleitores de São José?
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Cássio Moutinho 10/05/2024Falou, falou de Cury e Anderson, mas quem vai levar será o Dr. Elton