Após uma série de ocorrências envolvendo voos oficiais e diante de restrições operacionais do avião presidencial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a avaliar a aquisição de uma nova aeronave para uso da Presidência da República. A possível compra, estimada entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões, avança em meio a resistências dentro do próprio governo, sobretudo pelo impacto político e financeiro em um período sensível do calendário eleitoral.
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Atualmente, o processo está concentrado na fase final de levantamento de preços, conduzida pelo Ministério da Defesa em conjunto com a Força Aérea Brasileira (FAB). A proposta, no entanto, ainda não chegou à mesa do presidente e só deve ter uma cotação definitiva apresentada no início de 2026.
Incidentes reacendem alerta no Planalto
O debate ganhou novo fôlego após episódios considerados graves em voos oficiais ao longo deste mandato. Em um deles, ocorrido no exterior, uma falha mecânica obrigou a aeronave presidencial a permanecer por horas no ar antes de um pouso seguro. Em outras situações, problemas durante pouso e antes da decolagem exigiram manobras de segurança e troca de avião.
Nos bastidores, o episódio mais crítico levou Lula a relatar, em reunião ministerial, que chegou a temer pela própria vida. Desde então, o Aerolula opera com uma turbina alugada, enquanto a FAB aguarda a chegada de novos motores prevista para janeiro.
Limitações do Aerolula pesam na decisão
Em operação há cerca de duas décadas, o atual Airbus A319CJ foi adquirido no primeiro mandato de Lula e custou, à época, cerca de R$ 495 milhões (valor corrigido). Apesar de reformas internas e divisão em três ambientes, a aeronave enfrenta limitações de autonomia e conforto em viagens de longa distância.
Em viagens internacionais recentes, o presidente precisou realizar múltiplas escalas, situação avaliada como inadequada para a agenda de um chefe de Estado. Lula e a primeira-dama, Janja, defendem um modelo com maior alcance, espaço para reuniões, área reservada e um quarto mais confortável.
Mercado restrito e espera prolongada
A busca por uma nova aeronave enfrenta um obstáculo adicional: a escassez global de aviões adaptados para uso presidencial. A produção é limitada e há fila de espera internacional, o que pode alongar o processo por até três anos.
A FAB acionou intermediários especializados para mapear opções disponíveis no exterior. Aeronaves europeias, inclusive modelos usados anteriormente por líderes estrangeiros, chegaram a ser analisadas, mas não atenderam aos critérios técnicos ou financeiros estabelecidos.
Custo político e ano eleitoral travam avanço
Aliados do presidente avaliam que uma compra dessa magnitude poderia gerar desgaste político significativo, especialmente em ano eleitoral. Além disso, uma aeronave mais moderna elevaria os custos das viagens de campanha, despesas que precisam ser declaradas e ressarcidas pelo partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Dentro do governo, há divergências: enquanto uma ala defende abandonar a ideia, outra sugere deixar o processo encaminhado para 2027, evitando desgaste imediato.
Orçamento da Defesa entra na disputa
O tema também expõe tensões no orçamento militar. Para 2026, o Ministério da Defesa contará com R$ 141 bilhões, dos quais 76% serão destinados a gastos com pessoal. Apenas R$ 812 milhões estão reservados para manutenção e suprimento aeronáutico.
Nesse cenário, a eventual compra do novo avião presidencial teria de competir com outras prioridades estratégicas das Forças Armadas, o que reforça o impasse.