A suspensão do uso de medicamentos injetáveis para emagrecer, como o Wegovy e o Mounjaro, tem confrontado pacientes com o retorno do apetite e a necessidade de estratégias de longo prazo para evitar o efeito sanfona.
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A interrupção do tratamento com medicamentos da classe dos análogos do GLP-1 (glucagon-like peptide-1) tem gerado relatos de retorno imediato da sensação de fome entre usuários. O fenômeno, descrito por pacientes como a reativação de um "interruptor" biológico, levanta questionamentos médicos sobre a viabilidade de manter a perda de peso sem o suporte farmacológico contínuo.
Os fármacos Ozempic, Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) atuam mimetizando hormônios que regulam a saciedade e retardam o esvaziamento gástrico. No Brasil, o custo do tratamento com tirzepatida na dosagem inicial de 2,5 mg é de aproximadamente R$ 1.400 por mês, valor que aumenta conforme a progressão da dose.
Dados apresentados pelo clínico Hussain Al-Zubaidi indicam que a ausência do medicamento pode levar à recuperação de 60% a 80% do peso perdido no período de um a três anos após a suspensão. Segundo o médico, o apetite costuma retornar aos níveis anteriores ao tratamento pouco tempo após a última aplicação.
Relatos de uso e efeitos colaterais
Tanya Hall, usuária de Wegovy há 18 meses, relata que a perda de 38 kg foi acompanhada por efeitos adversos como náuseas, dores de cabeça, insônia e queda de cabelo. Apesar dos sintomas e das tentativas de interromper as injeções, Hall afirmou em entrevista à BBC News, manter o uso devido ao receio de recuperar o peso e à percepção de que é tratada com maior respeito profissional desde que emagreceu.
Por outro lado, Ellen Ogley, também a BBC News, utilizou o Mounjaro por 16 semanas como suporte para uma mudança de hábitos. Após perder 22 kg com o auxílio da droga, ela iniciou um processo de redução gradual das doses e implementou uma rotina de exercícios físicos e reeducação alimentar. Atualmente, Ogley soma uma perda total de 51 kg e afirma que é possível sustentar os resultados sem a medicação.
Necessidade de suporte multidisciplinar
O National Institute for Health and Care Excellence (NICE), do Reino Unido, recomenda que pacientes recebam ao menos um ano de acompanhamento nutricional e psicológico após o término do tratamento medicamentoso. O objetivo é criar planos de ação personalizados para a manutenção da saúde.
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Especialistas reforçam que a obesidade não deve ser interpretada como uma deficiência hormonal isolada. O sucesso pós-tratamento depende de:
- Planejamento de uma "estratégia de saída" médica;
- Mudanças estruturais no estilo de vida;
- Ambientes que favoreçam escolhas alimentares saudáveis.
As fabricantes Novo Nordisk e Eli Lilly declararam que o monitoramento de segurança é contínuo e que qualquer decisão sobre a interrupção do uso deve ser realizada sob supervisão médica, considerando o balanço entre benefícios e efeitos colaterais.