Um pai, identificado como Paulo (nome fictício), viveu uma reviravolta emocional ao descobrir que sua filha adolescente participava de um grupo online voltado à automutilação. O alerta veio após ele assistir, por acaso, a uma reportagem exibida pelo Fantástico, em 2023, que tratava de comunidades virtuais que incentivam práticas autodestrutivas entre adolescentes.
O episódio serviu como ponto de virada para a família, que não imaginava o que se passava nos bastidores do uso digital da filha. “O dia em que percebi a gravidade foi quando ela se cortou e me pediu ajuda, dizendo que estava surtada. Levei imediatamente ao hospital”, relatou Paulo ao g1. Enquanto ela recebia atendimento médico, ele decidiu olhar o celular da filha com mais atenção — e foi aí que uma palavra se destacou: Lulz.
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Do espanto à compreensão
Inicialmente, Paulo pensou que fosse apenas um erro de digitação. No entanto, o termo voltou a aparecer em outras conversas. Movido pela suspeita, decidiu pesquisar. Foi então que encontrou a reportagem que falava sobre comunidades no Discord onde jovens compartilham experiências de automutilação e sofrimento emocional, muitas vezes mascaradas por memes e ironia.
“Eu vi aquilo no estacionamento do hospital e fiquei em choque. Eu entendi, ali, o que ela estava vivendo e o quanto eu desconhecia essa parte da vida dela”, contou.
Sentimentos de culpa e a busca por mudança
Ao se dar conta do que estava acontecendo, Paulo foi tomado por um forte sentimento de culpa. “Me culpo por ter dado o celular cedo demais, por não ter acompanhado mais de perto. Mas não dá pra ficar só na culpa. É preciso agir, e estou tentando fazer isso agora.”
Hoje, a adolescente está novamente frequentando a escola e em tratamento com profissionais especializados em saúde mental. O pai diz que, desde então, tem aprendido a importância do acompanhamento ativo e do diálogo sincero.
Reavaliando os limites digitais
A experiência vivida fez Paulo repensar suas atitudes como pai, especialmente em relação ao uso de tecnologia. “Eu tinha um certo receio de invadir a privacidade dela. Mas entendi que isso pode ser um erro grave. Pais precisam saber o que os filhos estão acessando, precisam ter as senhas, precisam participar.”
A história, compartilhada por ele nas redes sociais, gerou repercussão e trouxe à tona um debate urgente: como equilibrar a confiança entre pais e filhos com a necessidade de protegê-los em um ambiente digital que, por vezes, pode ser extremamente nocivo.
Se precisar de ajuda
O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional gratuitamente. Ligue 188 ou acesse cvv.org.br.