
Pesquisadores das áreas de neurociência e psicologia têm observado que certos comportamentos infantis, quando se manifestam com frequência e intensidade acima do esperado, podem estar associados ao desenvolvimento de altas habilidades ou superdotação. Embora esses sinais não sejam, por si só, determinantes para um diagnóstico, eles servem como ponto de partida para um acompanhamento mais atento.
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A seguir, são destacados cinco comportamentos que, segundo especialistas, podem indicar a necessidade de uma avaliação mais aprofundada.
1. Tendência ao devaneio
Estudos na área de neurociência apontam que períodos de devaneio, popularmente chamados de "sonhar acordado", podem contribuir para o equilíbrio mental e o funcionamento saudável do cérebro. Esse estado de aparente distração tem sido relacionado a benefícios como redução do estresse, consolidação da memória e organização de pensamentos.
No contexto infantil, o psicólogo cognitivo Stefan Van der Stigchel observa que essa pausa mental pode funcionar como um "reinício" para o cérebro, especialmente importante em crianças que recebem grande volume de estímulos diariamente. Em casos de altas habilidades, esse tempo de introspecção pode ser necessário para que o cérebro processe informações de forma eficiente. Ainda que, para os adultos, isso pareça uma distração, trata-se de um processo cognitivo relevante.
2. Concentração intensa em atividades específicas
O hiperfoco é definido, por publicações da área de psicologia, como uma forma de atenção seletiva e intensa a determinadas tarefas ou interesses. Segundo um artigo da revista Psychology Research, esse fenômeno é caracterizado pela imersão completa em uma atividade, com redução da percepção sobre o que acontece ao redor.
Crianças com essa característica podem não reagir a chamados ou estímulos externos enquanto estão envolvidas em uma atividade que desperta seu interesse. Embora também seja comum em condições como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA), o hiperfoco pode representar uma capacidade de concentração diferenciada, quando associado a desempenho elevado em tarefas cognitivas.
3. Questionamento constante e busca por explicações
Durante os primeiros anos de vida, é natural que as crianças façam muitas perguntas, especialmente entre os dois e quatro anos de idade. No entanto, quando essa curiosidade permanece por mais tempo e é acompanhada por questionamentos complexos ou sobre temas abstratos, pode haver indícios de habilidades cognitivas acima da média.
A psicóloga Trinidad Aparicio Pérez ressalta que, nesses casos, não basta oferecer respostas simples. Essas crianças tendem a querer compreender os processos por trás dos acontecimentos, demonstrando interesse em causas, consequências e mecanismos. Esse tipo de questionamento pode envolver áreas como ciência, tecnologia, filosofia ou fenômenos sociais.
Incentivar esse comportamento por meio da leitura, do uso responsável da internet e do acesso a materiais educativos pode contribuir para o desenvolvimento de competências importantes, como pensamento crítico, autonomia e capacidade de pesquisa.
4. Interesse por desmontar objetos e explorar mecanismos
Muitas crianças apresentam comportamentos exploratórios, como desmontar brinquedos ou objetos domésticos. Esse hábito, embora muitas vezes cause preocupação aos responsáveis, pode indicar uma tentativa de entender como as coisas funcionam internamente.
Em casos de altas habilidades, essa prática costuma ser sistemática e acompanhada por reflexões sobre funcionamento, montagem e possíveis modificações. Esses interesses podem evoluir, com o tempo, para habilidades em áreas como engenharia, robótica ou design.
É possível orientar esse comportamento por meio de atividades práticas e supervisionadas, como kits de montagem, jogos de construção ou oficinas de ciências, que canalizam a curiosidade para o aprendizado estruturado.
5. Dificuldade para relaxar e dormir
Outro comportamento observado com frequência em crianças com altas habilidades é a dificuldade para desacelerar os pensamentos, especialmente na hora de dormir. Um estudo da Universidade de Michigan apontou que, em cerca de 25% dos casos analisados, pais relataram que os filhos apresentavam dificuldades para dormir devido a preocupações ou excesso de pensamentos.
Essa atividade mental elevada pode estar relacionada à ansiedade, à sensibilidade emocional ou ao excesso de estímulos acumulados ao longo do dia. Ainda que a criança esteja fisicamente cansada, o cérebro pode permanecer em alerta, dificultando o início do sono.
Especialistas alertam que a falta de sono adequado pode impactar o desenvolvimento físico, o comportamento e a capacidade de regulação emocional. Por isso, mesmo em casos de alta atividade cognitiva, é importante estabelecer rotinas de descanso e buscar auxílio profissional quando necessário.
Os comportamentos descritos não representam, isoladamente, um diagnóstico de altas habilidades. No entanto, quando ocorrem de forma intensa, frequente e em conjunto, podem indicar a necessidade de uma avaliação especializada com psicopedagogos, psicólogos ou profissionais da área educacional.
Reconhecer essas características precocemente permite oferecer à criança oportunidades de aprendizado que estejam alinhadas ao seu perfil. Isso contribui não apenas para o desenvolvimento cognitivo, mas também para o equilíbrio emocional e social.