Contas.
Eleição é hora de acertas contas.
Em São José dos Campos, a palavra-chave da campanha no momento é "contas".
De um lado, o candidato Eduardo Cury, nome do PL na corrida ao Paço Municipal, afirma que as contas da prefeitura estão no vermelho, o que colocaria em xeque o futuro do município. Ele foi ainda mais longe, chamando de "caloteira" a atual administração, capitaneada pelo prefeito Anderson Farias (PSD), que é seu adversário nas urnas. Cury e Anderson estão tecnicamente empatados na disputa, de acordo com pesquisa OVALE de 22 de agosto (veja aqui).
Do outro lado, levando em conta a gravidade da acusação, Anderson usou as redes sociais para rebater Cury. Em um reels, ele mostra Cury falando sobre as finanças da cidade, durante sabatina na TV Band Vale. Em seguida, o vídeo mostra a resposta de Anderson sobre o tema, também em sabatina na emissora, dizendo que não há contas atrasadas. No fim, deixa um desafio para Cury: "Vai provar o que está falando ou vai ganhar o selo de mentiroso?"
Artilharia
As finanças da prefeitura estão na alça de mira de Cury e aliados, como o ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB). Como munição, o grupo de Cury foca principalmente na dívida do Paço com o IPSM (Instituto de Previdência do Servidor Municipal) -- a administração assinou, em janeiro deste ano, um acordo para parcelar em cinco anos a dívida de R$ 320,368 milhões referente a repasses não efetuados de novembro de 2021 a dezembro de 2023. Há uma nova dívida, de R$ 31,321 milhões, referente a junho e julho. Falando em contas, um passarinho me contou que Emanuel, alheio a esse clima de Fla-Flu, está se dedicando pessoalmente a analisar o "problema sério nas contas públicas".
Contra-ataque
Além de desafiar Cury a provar as acusações, o grupo de Anderson está preparando o contra-ataque. Se um lado está fazendo conta, o outro não deixa por menos. Estão sendo esmiuçadas as contas do Paço e os repasses para o IPSM de 1997 até os dias de hoje, buscando munição para rebater a argumentação de Cury e companhia. Haja planilha, calculadora e Excel. O foco é mostrar problemas na gestão de Emanuel, chefe do Executivo de São José entre 1997 e 2004, e de Cury, prefeito entre 2005 e 2012. "Prefeitura de São José paga servidor com dívida do IPSM", diz uma das manchetes já armazenadas, da Folha de S. Paulo, de 29 de dezembro de 1998. E aliados de Anderson dizem que há mais.
Fazendo as contas
Uma bomba, a pesquisa OVALE mudou a campanha. Divulgada em 22 de agosto e confirmada pelo levantamento do Ipec, a pesquisa OVALE provocou uma drástica alteração no ritmo da disputa. Fazendo as contas, notando que a ampla vantagem da pesquisa de junho havia derretido 80 dias depois, Cury percebeu que era preciso mudar a estratégia. Até então, ele procurava, basicamente, desaparecer dos olhos do eleitor e da imprensa, faltando a debates e sabatinas, com participação tímida nas redes. Depois do chacoalhão, Cury mudou o tom, recuperou terreno nas redes sociais e intensificou o uso de cabos eleitorais, como Eduardo Bolsonaro, Nicolas Ferreira, entre outros. Fato é, a campanha, neste momento, sequestrou a campanha, fazendo com que o tema "contas" fique em evidência, pautando até o principal rival na disputa pelo Paço.
Outras contas
Em meio aos dias corridos de campanha, duas contas de Instagram têm se caracterizado por postagens saborosas, que ajudam a entender o termômetro das campanhas, acentuando as letras miúdas das entrelinhas. Uma delas é de Lia Blanco, filha de Emanuel, filiada ao PSDB. "Tínhamos a duuuuras penas conseguido equilibrar as finanças da cidade. Era problema resolvido. Voltou. Esse voltou FORTE. Passou do ponto da dívida e já virou CALOTE!", postou ela em uma sequência de stories, intitulada "solucionadores de problemas x criadores de problemas. Quem vc prefere?", que mostra ainda críticas à ponte estaiada, alagamentos, cracolândias e transporte público. "Tínhamos 340 ônibus novos e zero reais de subsídio no bolso das empresas de ônibus. Tava resolvido o problema de transporte. Voltou", postou Lia.
Stories on fire
O perfil da primeira-dama de São José, Sheila Thomaz, não fica atrás. Quer ver? "Mais uma vez, para aqueles que dizem que as contas não estão em dia... Tribunal de Contas não é sério, então?", questionou ela, em story postado nesta sexta-feira (6). Depois, ela parte para o ataque: "E segue o baile com quem tem condenação por improbidade administrativa, que tem que DEVOLVER dinheiro aos cofres públicos, e ninguém toca no assunto......". Em 2023, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) rejeitou recursos do ex-prefeito e do Ipplan (Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento) e manteve as decisões que consideraram irregular a contratação do instituto pela prefeitura em 2010.
Recentemente, Sheila já havia questionado o fato de "ninguém falar" do caso em que uma empresa de Cury recebeu R$ 300 mil do PSDB em um ano -- caso revelado por OVALE.
Ah, falando nisso, Anderson está fazendo as contas... não, agora não estou falando das finanças. Ele está contando os dias para a volta de Sheila e do filho, que deixarão Dublin (IRL) e voltarão a São José em breve.
Faz de conta?
Falando em campanha, nas rodinhas dos bastidores políticos, um vídeo postado pelo candidato Dr. Elton (União) deu o que falar nos últimos dias. Na gravação, o médico vai às lágrimas e chama Anderson de "maquinista do Kassab", em alusão a Gilberto Kassab, cacique maior do PSD, e diz que Cury é o "maquinista do Valdemar", em referência a Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Tentando emular a narrativa de Pablo Marçal na campanha paulistana, Dr. Elton diz que é o "único candidato antissistema" e que está sozinho nesta luta. Após ir mal no debate da Band e virar meme, o candidato tenta se recuperar na campanha, na esperança de mostrar-se como uma terceira via.
Caiu na conta
Os candidatos a prefeito de São José dos Campos já arrecadaram R$ 5,41 milhões para as campanhas eleitorais deste ano, de acordo com a prestação de contas feita pelos postulantes ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Do total arrecadado, 95,82% do recurso veio dos partidos, enquanto apenas 3,98% de doações e 0,20% do próprio candidato. Cury (PL) foi quem mais arrecadou até o momento. Ele registra um montante de R$ 2,18 milhões arrecadados. Anderson foi o terceiro que mais arrecadou até agora, com saldo de R$ 1,10 milhão. Veja a relação completa aqui.
Contas no TSE
Até aqui, o Prof. Wilson Cabral (PDT) foi o único dos seis candidatos a prefeito de São José que não registrou arrecadação, de acordo com o TSE. A candidata a vice, Nadia Assad, também do PDT, contou a OVALE que a campanha está usando uma garagem para fazer reuniões com candidatos a vereador e encontros do diretório, na região do São Dimas. Além disso, Cabral afirmou que a campanha usa um estúdio para gravações internas e também utiliza um coworking.
Bom, noves fora, como dizem por aí, depois de tanta conta, eu vou contar o que realmente importa: no fim das contas, quem decide é o eleitor. Faça suas contas, compare, analise e, no dia 6 de outubro, vote.
Comentários
2 Comentários
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João Carlos Faria 08/09/2024Não adianta Cury e Anderson sao do mesmo grupo. Não passa de um racha. Que pena que a cidade continua muda nesta eleição. Falta sau nesta eleição. São Paulo é mais interessante, mas não moramos em SP. Nada novo irá acontecer? Criei um grupo de zap no ano passado para debater esta eleição. Vamos ver a composição da câmara. Lamentável que este grupo mande na cidade desde 1996. Com exceção de Carlinhos. Espero que alguns nomes ganhem para vereador.
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Fabrício 06/09/2024Cury, o esquerdista falso bolsonarista já enganou, mas não engana mais ninguém. Todos sabem que ele gosta mesmo é de poder, das coisas, pessoas e da vida de Brasília.