"Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou".
A frase lapidar do ex-governador mineiro Magalhães Pinto (1909-1996), usada por 10 entre 10 analistas políticos, acerta identificar que na política só a mudança é permanente. Aliás, em tempos carregados de nuvens de dados, tudo pode mudar ainda mais rápido, de uma hora para outra. Quer um exemplo? Basta analisar a pesquisa OVALE sobre a corrida ao Paço Municipal de São José dos Campos, que teve dados publicados em 4 de junho e 22 de agosto.
O ex-prefeito e atual candidato pelo PL, Eduardo Cury parecia voar em um céu de brigadeiro, na pesquisa de junho, liderando com folga os dois cenários estimulados, com vantagem em todos os segmentos do eleitorado e nas previsões para segundo turno. A vantagem, nos cenários estimulados, variou de 18,4 e 16,9 pontos percentuais a favor de Cury, no embate contra Anderson Farias (PSD), prefeito que busca a reeleição (veja os dados de junho).
Nos cenários de segundo turno, em junho, Cury tinha vantagem de 21,6 pontos percentuais contra Anderson e de 37,9 pontos percentuais contra Dr. Elton (União), além 44,6 pontos à frente de Wagner Balieiro (PT) (veja os dados de junho).
Entre uma pesquisa e outra, em um intervalo de 80 dias, o céu de brigadeiro de Cury ganhou contornos de nuvens carregadas, enquanto Anderson viu dissipar a tempestade que parecia estacionada sobre o sétimo andar do Paço.
O cenário estimulado, que em junho registrou 36% a 19,10% no embate entre Cury e Anderson, passou em agosto para 30,3% a 27,3% -- um quadro de empate técnico, dentro da margem de erro de quatro pontos para mais ou para menos. Na comparação entre os levantamentos, Cury teve recuo de 5,7 pontos percentuais, e Anderson avançou 8,2 pontos percentuais.
Se antes Cury liderava em todos os segmentos, com folga, agora o que se viu foi um empate técnico (leia aqui).
Quando se compara os cenários de segundo turno, da primeira e da segunda pesquisa, o resultado mostra claramente como o céu de agosto não é o mesmo de junho. A vantagem de Cury sobre Anderson, que estava em 21,6 pontos, caiu para 1,4 ponto percentual -- o que caracteriza empate técnico. Em números absolutos, a diferença caiu 20,2 pontos percentuais.
No embate contra Dr. Elton, que estava com vantagem de 37,9 pontos percentuais a favor de Cury, foi para 22,7 pontos percentuais. A diferença caiu 15,2 pontos percentuais.
Mas o que aconteceu? A rejeição de Cury subiu? Não, na verdade apresentou uma oscilação negativa dentro da margem de erro, indo de 16% para 14,2% (ver aqui).
Então, será que a aprovação do governo Anderson aumentou? Praticamente, manteve-se inalterada -- era 73,1% de aprovação, foi para 72,2% (ver aqui).
Como explicar, diante deste quadro, a mudança de cenário?
Com a vantagem mostrada em maio e junho, em pesquisas da TV Band Vale e de OVALE, Cury apoltronou-se, recolheu-se, encastelou-se. Pareceu buscar administrar o resultado, sem se expor, evitando assim fatos novos que, de acordo com essa estratégia, poderiam alterar aquela fotografia. Por isso, não foi candidato. Não falou, não apareceu, não usou as redes sociais, não apresentou proposta... enfim, não foi.
Como escrevi em coluna recente, na contramão dos políticos que só aparecem de quatro em quatro anos, Cury foi o caso inédito de um candidato que sumiu em ano eleitoral.
Anderson e Dr. Elton, que disputam com Cury o mesmo eleitorado, fizeram o movimento oposto, principalmente nas redes sociais. Enquanto as nuvens digitais do candidato do PL estavam secas, os adversários faziam chover conteúdos para os seguidores. Com isso, sendo efetivamente candidatos, aparecendo, falando, etc, os dois avançaram, por exemplo, no embate contra Cury no segundo turno -- um tirou 20,2 e outro 15,2 pontos percentuais de vantagem.
Paralelamente, é provável que Anderson, tornando-se mais conhecido, tenha conseguido transformar parte maior da aprovação de sua gestão em intenção de voto.
Bom, mas o resultado é definitivo? O que diz a previsão do tempo? Se a nuvem é passageira ou não, ele mesmo, o tempo, dirá. Nesta terça-feira (27), a TV Vanguarda divulga dados de uma nova pesquisa, que poderá capturar os ventos dos últimos acontecimentos -- a ausência de Cury no debate na Band, a divulgação da pesquisa OVALE e o início da campanha, entre outras variáveis.
Se a pesquisa é uma foto do momento, a eleição é um filme e o roteiro segue imprevisível.
Após a pesquisa OVALE, notou-se uma mudança na campanha de Cury, na tentativa de recuperar terreno entre o eleitor de centro-direita, com um novo ritmo nas redes sociais -- mas ainda aquém dos rivais. O candidato vai entrar com força na campanha? Emanuel vai ser uma figura presente? Qual é, afinal, o discurso e quais são as propostas?
Anderson pode aproveitar o maior tempo de TV e ganhar mais tração a partir do dia 30? Elton pode ser a terceira via ou o desempenho ruim no debate prejudicou a sua caminhada? Que estratégias terão Wagner Balieiro (PT), Toninho Ferreira (PSTU) e Prof. Wilson Cabral (PDT)? Fato é: tem que ser candidato para levar.
Quem está na chuva é para se molhar -- ou para se queimar, como dizia Vicente Matheus (1908-1997), folclórico presidente corintiano.
*Contratado por OVALE, o instituto Ágili Pesquisas, um dos mais respeitados do país, tendo destaque como um dos integrantes do 'Índice CNN', ouviu 600 eleitores entre os dias 16 e 19 de agosto. A margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, com índice de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número SP-08177/2024.