TRAGÉDIA

‘Não posso desapontar meus filhos’, diz médico que perdeu filhos em incêndio em Taubaté

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução / Instagram
Guilherme Guisard em vídeo postado nas redes sociais
Guilherme Guisard em vídeo postado nas redes sociais

Os garotos não enchem mais a casa de alegria. Eles não correm mais entre os móveis, não jogam areia um no outro na praia e nem jogam mais futebol, sonhando que estão no Corinthians.

Faça parte do canal de OVALE no WhatsApp e receba as principais notícias da região! Acesse:  https://whatsapp.com/channel/0029VaDQJAL4tRs1UpjkOI1l

Os irmãos Ravi, 6 anos, e Noah, 13 anos, morreram em decorrência de um incêndio em um apartamento da família, na madrugada de sábado, no dia 27 de janeiro. A avó dos meninos, Laura Maria Nunes de Paula, 71 anos, também foi uma das vítimas.

Eles foram socorridos ao Hospital Regional de Taubaté, mas não resistiram à fumaça inalada no incêndio. A avó sofreu três paradas cardíacas e continuou internada, mas acabou morrendo no início da noite de sábado.

O pai dos meninos, o cirurgião plástico Guilherme Guisard, publicou um vídeo em suas redes sociais declarando que vai retomar a vida profissional após a tragédia. Ele já voltou a operar na semana passada e, nesta quinta-feira (15), retomou os atendimentos em seu consultório.

Emocionado, Guisard disse que não pode desapontar os filhos em razão de tê-los criado dizendo para encarar a vida de frente e de nunca desistir diante dos desafios. As palavras lhe servem de consolo agora.

“Nós aceitamos o que aconteceu com a gente. Aceitamos essa partida precoce dos nossos filhos. Entendemos que isso não pode ter sido por acaso, que a vida deve continuar e deve continuar apesar de triste nesse momento. Ela deve continuar de uma forma bela, de uma forma a aceitar”, afirmou o médico.

“Eu sempre disse aos meus filhos para encarar a vida, em olhar de frente, a gente nunca pode desistir, a gente tem que fazer da vida um bom caminho, um caminho para frente. E como é que agora que eles não estão mais aqui, que eles estão vendo tudo lá de cima, como é que nesse momento eu vou desistir da minha vida, eu não vou aceitar”, disse Guisard.

Segundo ele, as palavras que disse no vídeo foram como um voto de confiança na esperança de que a vida dos meninos não foi em vão, assim como a dele e a da mulher, que também sofre com a tragédia, não devem ser. Ele sabe que não pode desperdiçar a vida, ainda mais após a partida dos filhos e da sogra.

“Vou aceitar o que me foi posto por Deus ou pelo plano espiritual, enfim, como é que eu não vou aceitar isso? Eu não posso não aceitar, eu não posso desapontar meus dois filhos”, afirmou o médico, que admite ter perdido “a parte mais importante do passado, o presente e o futuro”.

Guisard chama essa etapa de “recomeço” e aposta no trabalho como uma forma de se manter “distante do mundo”, especialmente quando está me cirurgia.

“Eu vou continuar seguindo a minha vida, eu vou retomar meu trabalho. Os planos para o futuro eu ainda não sei, e estou ansioso para saber. Mas vou seguir firme.”

“Vou retomar [o trabalho] principalmente por eles, que vão olhar lá de cima e vão falar: ‘Esse é o meu papai, esse é o papai que falava que a gente deve seguir, que a gente deve honrar a nossa vida e que a gente não pode nunca desistir’.”

E completou: “Gostaria de passar essa mensagem que não importa qual a dor, não importa qual a queda, sempre é tempo de recomeçar. Eu estou recomeçando junto com a minha esposa. A dor vai existir por algum tempo, mas vai aliviar, embora nunca vá ceder, nunca vai sumir, mas eu estou pronto para recomeçar”.

INVESTIGAÇÃO.

A Polícia Civil aguarda o laudo da Polícia Científica que vai apontar a causa do incêndio que provocou a morte da idosa e de seus dois netos. O documento deve ficar pronto até o final de fevereiro.

Segundo a Defesa Civil, foi detectado um foco de incêndio na varanda do apartamento quando as equipes chegaram ao local, mas é preciso apurar se o fogo originou-se ali mesmo e como se alastrou. A ocorrência foi registrada como incêndio e não criminal, com morte acidental.

Leia mais:

VÍDEO: Médico de Taubaté que perdeu sogra e filhos em incêndio fala sobre recomeço

Comentários

Comentários