O motorista que está sendo acusado de dopar a médica veterinária Mariana Tenório durante uma viagem em São José dos Campos, afirmou ter sido bloqueado pela Uber logo após a passageira publicar um vídeo contando sua versão da história. Ele afirma que é inocente e que por causa da situação está passando dificuldades financeiras. Três dias após a repercussão do caso, Mariana apagou o vídeo.
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Em um pronunciamento nas redes sociais, o motorista diz que a história contada por Mariana é falsa e que está sofrendo sérias consequências. “Desde quando ela postou o vídeo estou bloqueado do aplicativo, sem trabalho e renda na minha casa. Eu não sei o que fazer, estamos todos desesperados”, disse.
Em uma outra publicação, ele diz que abriu um boletim de ocorrência contra a passageira e que já está tomando medidas judiciais. “Já tomei as devidas providências registrando um boletim de ocorrência contra o fato, bem como a elaboração de processo judicial por danos morais e materiais a referida pessoa na figura de médica veterinária, por calúnia e difamação juntamente com a empresa na qual ela divulga de forma irresponsável. Estamos em contato com todos que de alguma forma divulgaram e compartilharam, pois se trata de informação falsa e a autora será responsabilizada criminalmente”, escreveu.
VERSÕES DA HISTÓRIA
Segundo Mariana, a viagem foi realizada entre o seu local de trabalho, no bairro Vila Ema, e a sua casa, no bairro Jardim Aquários. Em entrevista a OVALE, ela explicou que entrou no carro, foi abordada pelo motorista com a venda de velas e aromatizantes e depois de cheirar o material começou a perder os sentidos.
“Depois que eu cheirei a vela e esse aromatizador, em dois minutos eu comecei a me sentir muito grogue, com muito sono, meu braço adormeceu e minha perna também, comecei a ver que eu estava apagando”, falou.
A moça disse ainda que pediu para que o motorista parasse o carro na porta de uma igreja antes da corrida terminar e desceu do veículo. “Comecei a falar ‘para agora que eu quero descer, meu marido está me esperando na porta da igreja’ e ele parou. Eu comecei a tentar abrir a porta, o pino já estava de um jeito que estava travado, sorte que o vidro estava aberto, então eu coloquei a minha mão por fora para abrir a porta, mas não abriu e comecei a empurrar com muita força. Acho que ele deve ter ficado um pouco assustado porque alguém ia ouvir eu batendo e ele abriu. Eu desci correndo fui para igreja, lavei as mãos, o rosto e tomei bastante água”, disse, acrescentando que achava que poderia ter alguma droga na vela.
“Eu fui pesquisar e vi que a droga pode ser clorofórmio que ceda muito rápido, tem uma duração de 10 a 15 minutos, então sequestro, estupro, roubo né. A gente capota mesmo, foi por Deus”, comentou em um trecho do vídeo.
Ela disse que denunciou o motorista no aplicativo, registrou um boletim de ocorrência e que contratou um advogado para acompanhar o caso.
Segundo o motorista, a situação não foi bem essa. Ele disse que mostrou para passageira as velas e aromatizantes e que os produtos não têm nenhuma droga, que são fabricados pela esposa para ajudar na renda da família. “Ela cheirou e falou ‘para pra mim por favor’ e eu falei ‘falta mais um pouco’ e ela disse ‘não, pode parar aqui mesmo’ aí eu estava estacionando o carro e ela tentou abrir a porta só que todos os carros têm trava e ela só vai abrir se eu destravar e ela estava tentando abrir e eu falei ‘calma vou destravar o carro’. Ela saiu, bateu à porta e andou normalmente”, comentou.
O motorista disse também que não foi informado que Mariana estava passando mal e que entregou à polícia o material oferecido para ela. “Não percebi nada, em nenhum momento ela disse que estava passando mal, que tinha acontecido alguma coisa”, falou. “Esse mesmo material está sendo analisado pela polícia e meu advogado solicitou um exame toxicológico”, completou.
POSICIONAMENTOS
A reportagem de OVALE entrou em contato com o motorista, que respondeu que todas as medidas judiciais já foram tomadas, e que só se pronunciará perante a justiça.
O jornal também entrou novamente em contato com a passageira Mariana Tenório que informou por meio de seu advogado, que: “Na segunda-feira, por volta das 18h20, [Mariana] chamou o motorista através de aplicativo, como de costume para ir embora do trabalho para sua casa. Ao entrar no veículo, diferentemente das outras corridas, começou a ser abordada pelo motorista. Um tempo depois, ele passou a fazer propaganda de velas aromatizantes e passou a lhe entregar alguns desses “produtos” para que as cheirassem, a passageira imediatamente começou a sentir tontura, dormência nos braços, pernas e fraqueza. Se não fosse suficiente, sem qualquer questionamento, o motorista começou a espirrar no interior do carro um spray que ele dizia ser específico para veículos. Nesse momento, além dos sintomas de tontura e enfraquecimento, a passageira passou a se sentir totalmente desrespeitada e invadida, já que em nenhum momento foi perguntado se ele poderia ou se ela gostaria que ele espirrasse o spray”, disse uma parte da nota.
“Ainda, importante frisar que ele assumiu o risco ao espirrar o produto, sem o consentimento da passageira, já que não tinha/tem conhecimento de suas condições de saúde e até mesmo se ela tinha algum tipo de reação alérgica crônica ou qualquer outro tipo de sintomas com as substâncias do produto e até mesmo com o aroma do suposto aromatizante em forma de spray. Uma vez que a passageira tinha conhecimento de que algumas pessoas, especialmente mulheres, já sofreram golpes e até outros problemas com esse tipo de abordagem, ficou preocupada e obviamente com medo do que poderia lhe acontecer. Ressalta que a passageira, não tem conhecimento de qual substâncias continham naqueles produtos que foram oferecidos ou se havia substâncias ilícitas, mas fato é que após inalar os produtos passou se sentir mal, além de se sentir invadida, desrespeitada, com tonturas e fraqueza. Pediu que ele parasse o carro e para sua surpresa não conseguia abrir a porta de forma alguma – inicialmente até pensou que podia ser trava de criança, então como já estava com a janela aberta, tentou abrir por fora, sem sucesso. Passado o susto inicial, se dirigiu a Delegacia Policial onde fez o registro de Boletim de Ocorrência, para que os fatos sejam devidamente apurados”, frisou.
“Após a repercussão, outras mulheres lhe procuraram para falar que já haviam tido corridas com esse motorista, que foram abordadas da mesma forma e que após o encerramento da corrida tiveram alguns sintomas, como por exemplo, em um dos casos, uma dor de cabeça intensa. Estes eram os esclarecimentos que nos cabiam diante de todas as repercussões havidas e que por não terem sido apurados todos os fatos pelos órgãos competentes, a passageira se resguarda até os fins das apurações para tentar superar o ocorrido”, concluiu a nota.
O QUE DIZ A UBER?
OVALE conversou ainda com a assessoria da Uber que informou que “Até onde temos conhecimento, todas as denúncias sobre o chamado ‘golpe do cheiro’ relativas a viagens no aplicativo da Uber que já tiveram a investigação concluída pela Polícia Civil, foram arquivadas, já que, de acordo com as investigações, não houve a identificação de elementos que comprovem o uso de quaisquer substâncias com o propósito de dopagem ou com o indiciamento do suposto motorista agressor", disse um trecho da nota.
"A Uber inclusive participou de uma mesa de discussão sobre o tema com especialistas, debatendo o aumento da sensação de insegurança das mulheres criada pela reverberação de denúncias, muitas surgidas nas redes sociais e até repercutidas pela imprensa sem o acompanhamento sobre a condução dos inquéritos e a ausência de elementos de prática de crime", finalizou o comunicado.
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