MEMÓRIA

Engenheiro do ITA morto durante corrida na região sonhava em fazer foguetes no Brasil

Ronaldo Chaves teve um mal súbito durante uma corrida no domingo; natural do Ceará, ele era conhecido por ter sido aprovado no vestibular do ITA aos 15 anos

Por Xandu Alves | 30/05/2023 | Tempo de leitura: 4 min
São José dos Campos

Arquivo Pessoal

Ronaldo Chaves (centro) durante período de estudos nos Estados Unidos
Ronaldo Chaves (centro) durante período de estudos nos Estados Unidos

Aprovado no vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) aos 15 anos de idade, Ronaldo Chaves, 28 anos, sonhava em construir foguetes no Brasil e ver o país com a sua própria SpaceX, a empresa criada por Elon Musk nos EUA para reduzir os custos do transporte espacial e permitir a colonização de Marte.

Após se formar como militar no ITA, Chaves tornou-se primeiro tenente da FAB (Força Aérea Brasileira) e membro do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), em São José dos Campos, onde morava com as irmãs.

Ele ficou nacionalmente conhecido após passar no vestibular do ITA, um dos mais difíceis do país, com 15 anos de idade. Chaves estudou no instituto entre 2011 e 2015 e, depois de formado, estava há seis anos trabalhando como engenheiro do IAE.

Também havia passado um ano estudando na Catholic University of América (Universidade Católica da América), em Washington, nos Estados Unidos.

Os foguetes faziam parte da vida de Chaves junto aos amigos que tinha na equipe ITA Rocket Design, aos quais ajudava no desenvolvimento de foguetes. Chaves era um “fogueteiro raiz”, segundo amigos.

Ele também curtia participar de corridas pedestres e amava a namorada Giulia Souza, médica veterinária que mora no Ceará e com quem Chaves pretendia constituir uma família.

No entanto, o militar morreu de mal súbito durante uma corrida em Ubatuba, no último domingo. Ele corria uma meia-maratona e, na altura do km 14, teve um mal súbito, segundo os colegas que estavam correndo com ele.

O corpo de Chaves foi levado para Sobral, no Ceará, onde mora a família do militar. O enterro estava marcado para as 17h desta terça-feira (30).

LEMBRANÇAS

Em postagens nas redes sociais, a namorada Giulia Souza lamentou a morte de Chaves e fez diversas homenagens a ele: “Você é meu talismã! Obrigada por querer povoar o futuro comigo”, escreveu ela.

Ela também postou mensagens que ambos trocavam sobre os sonhos em comum, que eram de casar, morar juntos, adotar pets, ter bonecos, fazer um ‘mochilão’ (viagem) pelo Brasil e a América Latina ensinando ciência de foguetes para crianças, finalizar o mestrado e visitar abrigos de crianças e lares de idosos em São José e Fortaleza.

“Amo esse seu jeito. Amo sua voz. Amo sua personalidade e caráter. Amo seu sorriso e seus olhos. Amo os vídeos que você me manda cantando e filmando o céu e os doguinhos. Amo ver você andando de bicicleta. Amo as músicas que você canta pra gente! Obrigada por cantar, meu amor! Obrigada por tanta felicidade e alegria. Amo demais você! ‘Hoje o céu está tão lindo’, nesse dia consegui imaginar através de suas fotos, áudios e vídeo o quão lindo ele estava/está”, postou a namorada.

GÊNIO APAIXONADO

A engenheira aeronáutica Mirelly Silveira, que mora em São José e está no ITA, era colega de trabalho de Chaves e o conhecia desde 2013. Segundo ela, ele ajudava jovens na trajetória rumo ao instituto, como ele mesmo fez aos 15 anos.

“Ronaldo era um gênio desde novo, teve a façanha de ser aprovado aos 15 anos no vestibular do ITA, o mais difícil do país. Entrou na instituição já fazendo história, sempre se destacando em tudo. Uma característica marcante dele era seu carisma, humildade. Ele era muito popular, era uma estrela dentro do ITA não só pela inteligência, como pelo companheirismo. Uma pessoa muito engraçada, riso infinito”, disse Mirelly.

Ainda segundo o depoimento dela, Chaves era uma pessoa intensa em tudo o que fazia, não deixando nada pela metade. “Amava os amigos, amava desafios, participava de tudo, e tinha um ousado amor pela namorada Giulia, era apaixonado”.

“Nos tempos livres, ele corria maratonas, como essa [de Ubatuba], por causas sociais, ambientais. O senso de humanidade dele era fora do comum. Outra característica era seu estilo além da farda, ele gostava de exprimir sua alma divertida e de muita luz em suas roupas, um estilo hippie”, contou a engenheira.

“Ele tinha um jeito de viver leve e responsável ao mesmo tempo, ajudava sua família, morava com as irmãs em São José. Gostava de passar conhecimento, ele abriu os portões para nova geração ingressarem ainda adolescentes no ITA. Ele era fogueteiro raiz, uma atividade que ele fazia com a alma, amava desenvolver foguetes. E até estava ajudando amigos empreendedores da área.”

Leia mais: Engenheiro aprovado no ITA aos 15 anos morre durante corrida de rua em Ubatuba

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2 COMENTÁRIOS

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  • Antonia
    01/06/2023
    Muito triste e ao mesmo tempo impressionando como um jovem se vai tão cedo, ams deixa uma História linda, viveu sua vida intensamente, não só como profissional, mas pessoal, nos mostra quão possível é termos um militar competente, disciplinado, mas também humano, cheio de sonhos e sensível as causas do nosso tão complicado mundo. Que o Engenheiro Ronaldo Chaves vá em paz e que a sua trajetória nesta terra sirva de exemplo e inspiração para os nossos jovens militares.
  • Laurence Benatti
    31/05/2023
    A vida é engraçada. Prega peças todos os dias. Vai-se um GÊNIO e fica um CACHACEIRO!