Uma mulher no topo. Bem-sucedida profissionalmente, mãe de três filhos adultos e independentes, prestes a celebrar 25 anos de casamento e, de quebra, influenciadora relevante nas redes sociais com mais de 500 mil seguidores no Instagram. Colecionar tantas conquistas já seria o sonho concretizado de um percentual altíssimo de mulheres – e, porque não dizer, também de tantos homens.
Eleita uma das 20 mulheres mais bem sucedidas pela revista Forbes de 2021 e vice-presidente de uma das maiores empresas do Brasil - que bateu a casa dos R$ 1,9 bilhão em faturamento ano passado -, Karla Marques Felmanas, vice-presidente da Cimed, tem escrito seu nome na história da indústria farmacêutica do Brasil e também no mundo dos negócios do país.
Foi o pai de Karla, João de Castro Marques, quem inaugurou a história da família na indústria farmacêutica. Na década de 70, ele comprou o antigo laboratório Prata e, junto com a mulher, Cláudia Marques, deu início àquilo que se tornaria, anos depois, a terceira maior indústria farmacêutica do Brasil, com mais de 600 produtos no mercado, de medicamentos genéricos a produtos de higiene e beleza e, agora, vitaminas.
Mesmo sendo sucessora de um negócio promissor, o início na empresa não foi fácil. “Não me foi dada essa posição de graça. ‘Minha filha, você senta nessa cadeira.’ Meu pai até tinha uma visão meio machista, uma visão da época dele, de que o homem seria o sucessor, apesar de já ter a minha mãe trabalhando com ele. O que é uma coisa engraçada”, recorda.
Ela e o irmão, João Adibe Marques, foram trabalhar na empresa fundada pelo pai - eles ainda têm uma outra irmã, Mariana, que mora há anos na Austrália - ainda na adolescência. “Comecei no chão de fábrica. Com 17 anos, comecei a trabalhar na expedição. Depois da expedição, fui trabalhar na linha de produção”, lembra ela, que passou por diferentes setores da então pequena empresa que, na época, tinha apenas cerca de 20 funcionários. “Todo mundo tinha que fazer tudo.”
Karla chegou a avaliar outras possibilidades profissionais e fez faculdade de moda. “Eu fazia faculdade de manhã e ia pra Cimed à tarde. Ao longo da faculdade, percebi que dificilmente eu trabalharia com moda. E a indústria farmacêutica é uma indústria fácil de se adaptar, porque tem várias frentes em que você pode trabalhar: posso trabalhar na produção, com marketing, no financeiro, em vendas… É tanta coisa que você pode fazer na indústria”. A paixão pela moda acabou por se tornar um hobbie e os desfiles, um prazer que acompanha, hoje, à distância.
‘Horas de verdade’
Aos 23 anos, Karla se casou com Marcelo Felmanas. Os três filhos vieram logo na sequência. “Um atrás do outro. Eu fiquei grávida do Pedro quando a Juliana tinha 8 meses”. Ela também é mãe de Eduardo, o mais novo. A correria de uma jovem mulher recém casada, mãe de três crianças e profissional em tempo integral tinha um complicador a mais: o tratamento da mãe, que enfrentava um câncer, e passou 12 anos entre as sessões de quimioterapia e o trabalho na Cimed. Cláudia faleceu há 14 anos, em 2009, mesmo ano em que seu pai decidiu se afastar da direção da empresa.
A receita de Karla para enfrentar a correria que tantas mulheres, mães e trabalhadoras vivem diariamente? Foco.
“Eu tenho uma coisa minha, de foco de onde eu estou. Quando eu entro na Cimed, parece que eu enfio uma carapuça de executiva. Todo mundo já sabe disso. Meus filhos nem me ligam durante o dia. Eu não falo com o Marcelo (marido) durante o dia. Não tem isso. Eu estou na Cimed, estou na Cimed. A mesma coisa quando estou em casa. Quando os meninos eram pequenos, chegávamos em casa por volta das 17h. Apesar do meu celular estar sempre disponível, porque a Cimed trabalha em três turnos, se é um assunto que eu posso resolver no dia seguinte, vou resolver no dia seguinte. Eu tinha três horas para ficar com os meninos. Então aquelas três horas eram muito de verdade. Eu fazia lição de casa, brincava, dava banho. Uma rotina que sempre tivemos em casa é sentar na mesa do jantar para conversar, contar um pouquinho do dia-a-dia. Isso é a construção da família”, afirma. Até hoje, com os filhos adultos, Karla insiste para que os jantares em família continuem parte da rotina.
Karla tem consciência de que, apesar de seu esforço, sempre foi privilegiada. “Eu tinha uma condição social que me permitiria não trabalhar. É diferente da grande maioria das mulheres que têm que trabalhar para pagar comida para o filho. Não tem jeito, né!? Nessa hora não tem opção de não deixar o filho na creche. Eu tinha uma opção.”
Mas, mesmo assim, ficar em casa para se dedicar apenas à família nunca foi uma opção para Karla. “Eu tinha tanta certeza que nasci para trabalhar que nunca tive aquela cobrança ‘nossa, não vou ouvir meu filho falar o primeiro A’. Eu não tinha essa cobrança dentro de mim. Eu acho que eles sempre souberam disso. Apesar da minha ausência física, eu sempre estive muito presente. Eles sabem que podem contar comigo para tudo.”
Hoje, os três filhos de Karla trabalham na Cimed, cada um em uma área. O estilo da empresária certamente os influenciou. Os três são muito presentes nas redes sociais, onde mostram desde grandes momentos da vida empresarial até atividades rotineiras, sempre ao lado da mãe.
O marido foge à regra: se dedica à decoração, não atua na empresa e evita redes sociais. Karla e Marcelo completam 25 anos de casados em 2023. A comemoração acontece hoje, sábado, 11 de março. A festa será animada por um show de Ivete Sangalo.
‘Sucesso não aceita preguiça’
Hoje com 47 anos, Karla divide com o irmão, João Adibe Marques, a direção da Cimed. Ela, como vice; ele, como presidente. A divisão obedece a uma lógica. À Karla cabe cuidar dos processos internos, como a produção, e, a João Adibe, os externos, como vendas. Foram os dois que, juntos, promoveram os grandes saltos da Cimed. A “pulsação” da Cimed, termo que a empresária mesmo usa, provoca espanto nela até hoje. “Inauguramos uma fábrica nova que é a coisa mais maravilhosa do mundo. Estava lá andando pelos corredores e pensando: ‘gente do céu, que coisa!’ Esse espírito da gratidão nunca quero perder”. A nova fábrica, inaugurada em setembro de 2022, fica em Pouso Alegre (MG). Foram investidos mais de R$ 300 milhões na unidade que terá capacidade de produzir 60 milhões de sólidos orais por mês.
Ano passado, a empresa obteve uma receita líquida de R$ 1,9 bilhão, um aumento de 22,5% em relação a 2021. São mais de 600 produtos distribuídos para mais de 60 mil pontos de venda. A Cimed está presente em mais de 90% das farmácias brasileiras. Os números tornam a empresa a 3ª maior farmacêutica do Brasil.
O processo de expansão, acelerado, está muito longe de atingir seu ápice. “Uma das características nossas é essa: continuar crescendo. Tem uma frase do meu pai (que é) muito linda. Ele fala que ‘o crescimento é infinito, depende da sua vontade. O quanto você quer crescer? E isso vale para tudo”, lembra Karla. Seu pai faleceu em 29 de outubro do ano passado.
O marketing é um ponto forte na Cimed. A empresa foi patrocinadora da Copa 2022, patrocina clubes de futebol, vôlei, games, corridas… Em parceria com a cantora Anitta, a Cimed lançou o primeiro perfume para partes íntimas e se tornou um dos assuntos mais comentados no país em 2022. O lançamento do Puzzy, “a primeira deo-colônia íntima do Brasil”, rendeu mais de 320 matérias em veículos dos mais diversos e projetou o nome da empresa para mais de 27 milhões de pessoas nas redes sociais. Foi, como era de se esperar, um sucesso em vendas. Nos primeiros seis meses foram comercializadas mais de 340 mil unidades.
Nos últimos meses, a parceria chegou ao Domingão do Huck. A atração The Wall é patrocinada pela marca que, quer aproveitar a exposição para divulgar uma nova linha de produtos, o Lavitan, que promete ser uma das precursoras na alavancagem de vendas de vitaminas no Brasil.
A empresa tem ainda um projeto para testar produtos no espaço. A ideia do CimedX é, em parceria com a companhia de logística Airvantis e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), enviar materiais para o espaço e analisar como eles se comportam em condições completamente diferentes das encontradas na face da Terra.
‘Uma semente para o bem’
Não basta criar os filhos, cuidar da produção de centenas de produtos e até planejar testá-los no espaço, Karla Marques Felmanas ainda tem tempo para fazer posts nas redes sociais onde angaria milhares de seguidores. São 152,1 mil no Tiktok e 547 mil no Instagram. Os números, alcançados em menos de dois anos - ela decidiu entrar para as redes depois de aparecer entre as empresárias mais bem sucedidas da Forbes, são robustos o bastante para provocar inveja em muito influencer que se dedica exclusivamente à atividade.
É nas redes onde ela mostra suas viagens de helicóptero para visitar as unidades de produção da empresa e sua rotina de trabalho, mas também dá dicas para seguidores, mostra as viagens de jato que faz nas férias com a família e compartilha até uma série de vídeos dos preparativos para sua festa em comemoração aos 25 anos de casamento. E o que as redes não mostram? Pouca coisa, segundo Karla. “Eu falo de verdade. Já fiz vários depoimentos em que eu tive algum dia pesado aqui na Cimed. Eu sou uma pessoa de característica muito positiva. Eu sou assim mesmo. Apesar de eu ter tido um dia ruim, a minha mensagem é ‘que bom que posso chegar em casa e ter uma pessoa bacana para a gente conversar’. É tão bom ter um marido gente boa. Imagina você chegar e ter um ‘mala’ em casa?”, brinca.
“Nem todos os meus dias são maravilhosos. Faz parte. Somos seres humanos. As pessoas confundem, acham que como eu tenho um padrão social (elevado)… se você tem grana, você não tem problema. Muito pelo contrário. Minha responsabilidade é gigante. A gente toca uma empresa de 5 mil funcionários. São 5 mil vidas que dependem do nosso negócio dar certo. Além de tudo isso, a gente ainda fabrica medicamentos, que são para salvar vidas. Tudo é muito grandioso. Estou nas redes sociais por uma palavra de positivação, para fazer com que as pessoas se divirtam. A vida da gente na maioria das vezes não é muito fácil, mas (o objetivo é) sempre poder plantar uma semente do bem para as pessoas”, explica.
O que há depois do topo?
Para quem já conquistou tanto, quais sonhos ainda falta realizar? “Ser avó”, diz, sorrindo muito e avisando que a filha, Juliana, de 24 anos, muito diferente da mãe, que deu à luz pela primeira vez aos 23, nem pensa nisso ainda.
“A minha motivação e do João Adibe sempre foi material. A gente queria ter casa na praia, carro bom, poder comprar roupa de marca… Os meninos já nasceram em uma realidade diferente da nossa. A minha preocupação sempre foi com os meninos. Queria que eles tivessem uma realização em fazer. Não interessa o que for, mas no final do dia você (precisa) dizer: ‘isso aqui fui eu quem fiz’. É tão importante você se realizar pelas suas conquistas. Sempre trabalhei muito isso nos meninos. A minha motivação foi em ter e a deles, em ser. Quem eles querem ser?”, provoca: “Eu quero ser avó, porque eu quero que a nossa família continue para fazer as coisas acontecerem”.
Para seguir a rotina e os conselhos da empresária, basta acessar @karlacimed no Instagram ou no TikTok.
Veja em seguida: 10% de todo o medicamento do Brasil sai da fábrica da Cimed