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10% de todo o medicamento do Brasil sai da fábrica da Cimed

Por Denise Silva | 10/03/2023 | Tempo de leitura: 12 min
Editora da Sampi

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Cimed
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A Cimed fabrica 40 milhões de caixinhas de medicamentos todos os meses, fora os produtos de outras linhas, como produtos de beleza. Toda a estrutura para gerar este volume de produtos é administrada pela família Marques: Karla, o irmão João Adibe, filhos e sobrinhos. O grupo familiar é responsável por administrar a gigante de mais de 5 mil colaboradores.

Sampi - Como foi essa evolução da Cimed de 20 para 5 mil funcionários?

Karla Marques Felmanas - Eu acho que todo mundo que passou pela jornada da Cimed contribuiu muito para a gente chegar aonde chegou, mesmo quem tenha ficado 6 meses ou a pessoa que trabalhou 20 anos. Todo mundo plantou uma semente para a Cimed ser o que ela é hoje. É uma empresa que cresce (em ritmo) o dobro do mercado todo ano, então é uma empresa muito frenética, (que) pulsa muito. Toda vez que entro aqui na Cimed, falo assim: “não é a mesma Cimed de ontem, é uma nova Cimed”.

Sampi - Você cuida dos processos internos e seu irmão dos externos, como vendas. Como é tocar essa parte interna?

Karla -  É um desafio. Sabe por quê? Eu falo que, quem está dentro, o nosso principal papel aqui é solucionar problemas. É isso. O dia inteiro tem alguma coisa para resolver, mas como eu tenho esse espírito de “fazer”, pra mim é fácil resolver. Eu nunca encaro o problema como um peso, muito pelo contrário. Se tem um problema identificado, é maravilhoso. Porque desse problema virá uma oportunidade. Então, pra mim também é muito natural essa gestão, nunca foi uma “carga”, sabe?. Eu não faço nada sozinha, eu sempre pude ter pessoas importantes nessa jornada que me ajudaram. A gente tem um time de gestão, de diretoria, que é muito bom. Aprendo muito com eles. Até mesmo porque, como eu nasci dentro da Cimed, eu não conheço outra jornada, outra realidade. Então, toda vez que chega uma pessoa nova na empresa, quero sugar tudo aquilo que ela já viveu em outras empresas, ver o que eu consigo trazer para o dia-a-dia da Cimed para poder contribuir.

Sampi - Você tem alguma memória, alguma lição que tenha aprendido com os seus pais, que tenha marcado você nessa área profissional?

Karla -  Ah, foram várias, né? É engraçado isso porque meu pai e eu somos pessoas mais pé no chão, mais realistas. E o meu irmão e a minha mãe eram o que a gente chama aqui na Cimed de fly now. Sabe, são pessoas mais de fazer as coisas acontecerem. Então, a gente tem também essa mescla boa. Porque  o João Adibe está sempre lá, atrás na loucura dele, e eu tentando puxar ele pra Terra pra falar “escuta, calma! Vamos acabar de entregar isso pra gente pegar outra coisa?”. Ele, ao mesmo tempo, me puxando da Terra para fazer as coisas acontecerem. A gente tem uma coisa bacana também da época do meu pai: aqui na Cimed a gente tem o tal do “poder do não”. Então, como sócio a gente quer fazer alguma coisa em prol da Cimed, mas, se por algum motivo, algum dos dois achar que “não”, o não prevalece! Independente da posição societária que você tem na empresa.

Sampi - Como é que vocês equilibram as liberdades que os irmãos têm, que é diferente da liberdade de sócios? É claro que você já estão acostumados a estar em um clima familiar, mas os seus filhos, os seus sobrinhos também trabalham na empresa. Como que é controlar essas energias? Porque a gente tende ser um pouco mais “duro” com quem é mais próximo…

Karla -  Sim, é fato isso. É verdade! E eu vou falar que aí o “sangue Marques” pesa num grau que você não sabe, meu amor. A gente tem que dar até uma ponderada. Mas o que é bacana? Se eu precisar falar alguma coisa para o filho do meu irmão, eu não preciso falar com o meu irmão para (ele) falar com o filho dele, porque quando a gente está dentro da Cimed, a gente esquece essa questão de filho. Mas é óbvio que com filho, você mete o pé na jaca, né!?

Sampi - E com irmão…

Karla -  É, e com irmão! Mas, se por acaso eu sair do ponto, tem um irmão que traz esse equilíbrio e vice-versa, você entendeu? A gente tem essa coisa, às vezes dá aquela porrada, mas depois a gente volta e conversa “olha, não é bem assim”. E como a gente tem essa maneira de ser - nós somos pessoas muito fortes, todos os meninos também são - então já estão todos acostumados, porque nasceram dessa maneira com a gente no negócio, entendeu? Às vezes, as coisas acontecem, a gente cobra muito deles. Meu pais também cobravam e, para mim, está tudo certo. Acho que é assim que tem que ser.

Sampi - Nem tudo são flores? Tem momentos de olhar “olha, vamos discutir aqui”...

Karla -  Muitos momentos. Não são poucos, não (risos). Mas a gente já discutiu, acabou a discussão e a gente falou “vamos lá tomar um café”, entendeu? Não tem rancorzinho, não tem mimimi, porque é sempre voltado para isso, sempre a gente faz as coisas para o melhor da empresa ou para a família. E essas são coisas muito importantes para a nossa construção aqui, tanto para a Cimed quanto para a família. A gente não abre a mão de nenhum dos dois. Somos uma família muito unida, família e Cimed. A gente é muito junto e não tem como segregar isso. Se tem um problema na família, a gente tem que resolver de alguma maneira que não vá trazer para a Cimed. Se tem alguma coisa na Cimed, a gente tem que resolver para não deixar essas coisas trazerem para família. É difícil conseguir separar.

Sampi - Vocês divulgaram os resultados de 2022, quase R$ 2 bilhões (de faturamento). O plano é atingir R$ 5 bilhões e entrar para a Bolsa. Uma das coisas que você diz é que é um mercado travado (de medicamentos) por uma série de regulações, demora um certo tempo para que alguns produtos possam ser lançados no mercado…

Karla -  5 anos no mínimo.

Sampi - Então, eu queria que você me contasse em que estágio vocês estão para atingir esse momento. 

Karla - Desde 2011, quando a gente optou em mudar o nosso sistema de gestão, que é um sistema mundial super reconhecido, a gente já tinha uma sementinha de iniciar esse processo de organização. Então, hoje a gente tem auditoria da KPMG, que é uma empresa renomada, a gente tira nosso rating (avaliação de risco) com a Moodys, que é uma empresa extremamente renomada. Então a gente está pronto pra hora que surgir uma oportunidade. A gente tem feito conversas entre nós, da família... “Será que é isso mesmo que a gente quer?”. Porque muda muito a nossa dinâmica. Apesar que a gente ter uma empresa com governança de capital aberto – nós temos o presidente do conselho que não é membro da família, então a gente já está estruturado para isso, mas muda a jornada. Você (nas empresas de capital aberto, listadas na bolsa) passa a dar satisfações – hoje a gente dá satisfação para (apenas) nós. Outra conversa que eu tive com o meu irmão e estamos fazendo com os meninos é se é isso que eles querem… Porque a Cimed do futuro não é minha e do meu irmão, mas é deles. Hoje o filho do meu irmão está com 25 a minha filha tem 24, os outros estão todos nessa faixa (20 anos). Depois o João tem 2 filhos menores. Eu e o  João Adibe estamos na faixa dos 50 anos, então daqui 10 ou 15 anos, a empresa será gerida por eles. Então, é isso que eles querem? Não é uma decisão minha e do João Adibe. É isso? Nós vamos para frente? Vamos continuar essa evolução? Precisar, não precisa; a empresa está indo superbem, tem sucessores, tem governança bem estabelecida, gera caixa - eu não preciso abrir (na bolsa)...  Nós só vamos abrir porque há a aspiração de sermos os maiores e melhores. Então é essa a aspiração desta outra geração?

Sampi  - A decisão já está tomada ou vocês ainda estão fazendo essa reflexão?

Karla - Não. Ela está caminhando para esta tomada de decisão, até mesmo porque nós só vamos fazer isso se for muito positivo, porque não tem uma necessidade de fazer. Mas, se de repente chega um tipo de oportunidade, podemos dizer “é agora”. Nós temos que ter esse alinhamento entre a família, porque na hora que chega o “é agora”, a gente não pode chegar com hesitação, “ah, tenho dúvida”. Ainda mais filosoficamente, entendeu?

Sampi  - A ideia é ampliar cada vez mais o mercado?

Karla - Sim.

Sampi - Tanto em quantidade de produtos, quanto em rede de atuação? Vocês querem abrir mercados pelo mundo todo?

Karla - Sim, pelo mundo todo e aqui no Brasil mesmo. A gente acabou de construir essa fábrica nova por uma questão de necessidade de capacidade produtiva. Eu tenho uma linha super forte de cosméticos que eu não vendo hoje no mercado alimentar. Eu tenho o meu sabonete líquido, o Dermafeme, que é nº 1 em vendas hoje no farma (nas farmácias) e eu não entrei no canal alimentar ainda. Então, a gente ainda tem muita chance para crescer. Fora as outras linhas que eu nem tenho ainda… Não temos uma linha oftalmo, uma linha injetável, tem muito para a Cimed crescer ainda.

Sampi - Como funciona esse lançamento de produtos? Vem uma ideia e vocês colocam isso pra teste? Como funciona a linha de criação?

Karla - São duas linhas distintas. Quando a gente fala de consumo, que é vitamina, produto cosmético, essas coisas, é muito questão de tendências. Está uma super-tendência ácido hialurônico, então bora desenvolver. Você vai seguindo tudo o que vem do mercado, principalmente fora, dos Estados Unidos, e a gente vai trazendo para o Brasil. Aí o desenvolvimento é totalmente diferente do farmacêutico. O perfume da Antita (Puzzy), a gente conseguiu lançar em 9 meses, porque tem que fazer todos os testes clínicos, comprovações de que não vai dar alergia, tudo isso. Quando você vai para o lado farmacêutico, aí é estudo! Então, a gente entra no estudo de uma molécula de genérico. A gente entende quais são os players e a gente abre o que chama de ‘gate’. A gente abre um Gate 0, que é o primeiro estudo, aí a gente passa para o Gate 1, onde a gente já tem algumas informações de mercado; depois a gente vai para o Gate 2, onde a gente consegue fechar a forma e entender qual é o custo desse produto para saber se ele vai ser competitivo, porque o nosso propósito na Cimed é entregar produto acessível para a população. Eu não posso ter um produto que a população não vai ter como comprar, por isso o Gate 2 é importante. A gente libera o Gate 2 e começa o desenvolvimento. Demora dois anos, porque tem todo um processo super-regulamentado pela Anvisa (Agência de Vigilânica Sanitária). Aí termina o estudo, a gente dá entrada no registro da Anvisa, espera dois anos mais ou menos para liberar o registro do produto, e (então) a gente passa ele para o mercado.

Sampi - Uma das metas que vocês têm é fabricar produto acessível, principalmente medicamento.

Karla - Nem é meta, é propósito.

Sampi - O tempo que se leva nessa etapa das regulamentações talvez seja um dos maiores obstáculos para conseguir fazer esses medicamentos ficarem mais baratos?

Karla - É que é difícil desenvolver uma fórmula, não é fácil. Você tem que fazer toda a comprovação. Tem que pegar um produto referência de mercado e eu preciso garantir que a minha fórmula é 100% idêntica a esse produto. É preciso comprovar que no ser humano, depois que ele toma o produto, ele vai ser exatamente idêntico à referência. Eu faço estudos com pessoas. A gente interna as pessoas, temos um instituto próprio onde essas pessoas fazem um estudo sanguíneo antes de iniciar o processo para comprovar como é que elas estão e como elas ficam após a utilização do produto. Aí eu faço isso numa primeira jornada com referência, faço uma segunda jornada com as mesmas pessoas e com o meu produto, Depois eu cruzo essa informação e entrego isso pra Anvisa. Tudo isso demora, não é uma coisa rápida. E a Anvisa também é um órgão exigente. Ela só perde para um órgão do Japão em exigências regulamentares. Hoje, qualquer medicamento do Brasil que você for comprar genérico, você pode tomar com a maior tranquilidade do mundo. Não tem essa de “se é genérico, não é bom”. Não existe isso! Todos são bons, de altíssima qualidade.

Sampi - Na sua opinião, o que é possível fazer para que o preço para o consumidor seja mais baixo?

Karla - Eu preciso conseguir um fabricante daquela matéria-prima que tenha um preço bom, com toda a documentação que a Anvisa exige. Essa é a grande dificuldade. Como a Anvisa é muito exigente, existem muitos fabricantes com preço mais acessível, mas eles não têm a documentação para eu poder regulamentar meu produto. Outra situação é ter uma fábrica bem automatizada como a que eu tenho hoje. A Cimed hoje fabrica 40 milhões de caixinhas por mês. É muito alto o volume. 10% de todo o medicamento do Brasil passa pela minha fábrica. Com esse volume e essa capacidade, eu consigo produzir um produto acessível. A gente também tem gráfica própria, tudo o que é impresso na Cimed sou eu que faço, então ajuda não ter esse custo com terceiros; a logística é minha, eu tenho uma central de distribuição que eu entrego meu produto para as farmácias. A grande maioria da indústria entrega para a distribuidora e a distribuidora entrega para a farmácia. A Cimed tem uma equipe de vendas própria e toda a equipe de operação e logística própria também para entregar o produto na farmácia. Então tudo isso facilita para que eu consiga atingir meu objetivo, que é ter produto com preço acessível.

Veja em seguida: Karla Marques Felmanas, mulher no topo: ‘Tinha certeza que nasci para trabalhar’, diz


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