PREOCUPAÇÃO

Após três mortes, carta ao MP expõe crise na saúde de Patrocínio

Por Leonardo de Oliveira | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução/Santa Casa de Patrocínio
Santa Casa de Patrocínio Paulista é alvo de críticas da população após mortes
Santa Casa de Patrocínio Paulista é alvo de críticas da população após mortes

A saúde pública de Patrocínio Paulista é alvo de críticas e denúncias formais após três mortes registradas nas últimas semanas, relatadas por familiares como resultado de demora e falhas no atendimento médico. A situação gerou comoção e levou moradores a protocolar uma denúncia junto ao Ministério Público.

A iniciativa partiu de Matheus Oliveira, administrador do grupo Voz do Povo, que reúne mais de mil membros no WhatsApp e outros 5,3 mil no Facebook.

Na carta enviada ao Ministério Público, Matheus afirma que “vidas foram perdidas em nosso município, e em todos esses casos há um fator em comum: a negligência relatada por familiares e testemunhas”. O documento descreve situações de demora no atendimento, inclusive de crianças.

“Há inúmeros relatos de pacientes, inclusive crianças pequenas que aguardaram mais de três horas para serem atendidas, em total estado de abandono. A população está desesperada, pois vê que não há preparo, não há gestão eficiente e nem condições mínimas para garantir o direito constitucional à saúde”, escreveu.

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O texto também menciona a sobrecarga enfrentada por médicos e enfermeiros. “Profissionais competentes se desdobram, mas trabalham sobrecarregados e sem suporte, tentando suprir falhas que não são deles, mas sim da administração pública. É desumano tanto para os trabalhadores quanto para os pacientes”.

Em mensagens enviadas ao Portal GCN/Sampi, Matheus reforçou que a mobilização busca dar visibilidade à situação e cobrar providências. “É inadmissível que uma cidade como Patrocínio Paulista esteja vivendo esse cenário, onde vidas estão sendo perdidas por falta de gestão e de respeito com a população”, disse. Ele afirmou ainda que decidiu procurar o Ministério Público porque “não podemos pagar com vidas, chega de tanto sofrimento”.

A denúncia pede que sejam adotadas providências urgentes, com rigor na fiscalização e reorganização dos serviços de saúde no município. “Aqui não há política, há dor. Aqui não há exagero, há relatos concretos de famílias destruídas. É hora de agir. Estamos pedindo socorro”, conclui o documento.

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Ministério Público vai apurar

O Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio da Promotoria de Justiça de Patrocínio Paulista, informa que na terça-feira, 26, recebeu um e-mail de um munícipe relatando preocupações quanto à prestação de serviços de saúde no município.

O órgão esclarece que não foi protocolada carta física, mas sim encaminhada manifestação eletrônica. O conteúdo já foi registrado e serão realizadas as apurações cabíveis para verificar os fatos apresentados, conforme as atribuições legais do Ministério Público.

Prefeitura instaura sindicância interna

Em nota oficial, a Prefeitura de Patrocínio Paulista, responsável pela gestão da Santa Casa, manifestou pesar e solidariedade às famílias enlutadas pelos recentes óbitos na unidade. A administração afirmou que está prestando assistência aos parentes, inclusive com a liberação dos prontuários médicos conforme previsto em lei.

O município classificou como “acusação grave” qualquer afirmação de negligência médica e destacou que tais alegações precisam ser apuradas com responsabilidade. “Atribuir negligência sem a devida comprovação pode gerar desinformação e prejudicar a imagem de profissionais e instituições que se dedicam incansavelmente à saúde da população”, diz a nota.

A Prefeitura informou ainda que instaurou uma sindicância interna e um processo de investigação rigoroso para analisar os atendimentos realizados e apurar as circunstâncias de cada caso. A comissão responsável vai avaliar protocolos, procedimentos e condutas médicas.

Segundo a administração, o município tem investido em melhorias no setor de saúde, com modernização de equipamentos e capacitação das equipes, e reafirmou seu compromisso com a transparência, a ética e o bem-estar da população.

Veja a carta na íntegra 

Excelentíssimo Senhor Promotor,

Hoje não venho apenas fazer uma denúncia. Hoje venho pedir socorro em nome de centenas de pessoas e famílias que estão sofrendo com a saúde pública de Patrocínio Paulista.

Em poucos dias, três vidas foram perdidas em nosso município, e em todos esses casos há um fator em comum: a NEGLIGÊNCIA relatada por familiares e testemunhas. Pessoas que procuraram ajuda, clamaram por atendimento e não tiveram a resposta necessária. O resultado foi a morte de entes queridos que poderiam estar vivos se houvesse estrutura, responsabilidade e respeito pela vida humana.

Não se trata de casos isolados. Há inúmeros relatos de pacientes, inclusive crianças pequenas que aguardaram mais de 3 horas para serem atendidas, em total estado de abandono. A população está desesperada, pois vê que não há preparo, não há gestão eficiente e nem condições mínimas para garantir o direito constitucional à saúde.

Enquanto isso, profissionais competentes, médicos e enfermeiros, se desdobram, mas trabalham sobrecarregados e sem suporte, tentando suprir falhas que não são deles, mas sim da administração pública. É desumano tanto para os trabalhadores quanto para os pacientes.

Excelência, a palavra é dura, mas é a verdade: vidas estão sendo ceifadas pela NEGLIGÊNCIA. Não podemos mais naturalizar enterros de pessoas que deveriam ter sido salvas.

Por isso, venho clamar ao Ministério Público: que sejam adotadas providências urgentes, com rigor, fiscalização e cobrança imediata para que a saúde de Patrocínio Paulista seja reorganizada. O povo não aguenta mais sofrer, esperar e enterrar seus familiares por descaso.

Observação: Recebo constantemente denúncias de funcionários de dentro da Santa Casa, que relatam em conversas particulares situações graves que ocorrem nos bastidores. No entanto, a maioria não tem coragem de se apresentar formalmente por medo de perseguição e retaliações. Ainda assim, esses relatos reforçam que o problema é profundo e precisa ser investigado com seriedade.

Aqui não há política, há dor. Aqui não há exagero, há relatos concretos de famílias destroçadas. É hora de agir.

Estamos pedindo socorro!

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Comentários

1 Comentários

  • Paula 29/08/2025
    Esse despraro não é só lá infelizmente