LUTO E REVOLTA

Três mortes e denúncias de falhas abalam saúde em Patrocínio

Por Leonardo de Oliveira | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/Redes Sociais
Tuani Lopes, Daniele Bonfim e Carlos Roberto da Silva Paiva: mortes em hospital de Patrocínio Paulista
Tuani Lopes, Daniele Bonfim e Carlos Roberto da Silva Paiva: mortes em hospital de Patrocínio Paulista

Nos últimos dez dias, três mortes ocorridas em Patrocínio Paulista colocaram em xeque a saúde pública no município. Familiares e testemunhas apontam demora e falhas no atendimento da Santa Casa como fatores determinantes nos óbitos. Os relatos foram formalizados em denúncias ao Ministério Público, que agora investiga as circunstâncias.

A sequência de mortes que gerou denúncias de familiares das vítimas começou no dia 17 de agosto e seguiu até esta segunda-feira, 25. Os pacientes eram duas mulheres, de 34 e 36 anos, e um homem, de 55. Confira:

A morte de Tuani Lopes, 34 anos

A primeira vítima foi Tuani Lopes, de 34 anos, mãe de dois filhos - uma menina de 4 e um menino de 8 anos. Ela morreu no dia 17 de agosto, poucas horas depois de procurar a Santa Casa com fortes dores abdominais.

Segundo a irmã, Victoria Vellart, Tuani começou a sentir dores intensas no estômago na noite de sábado, 16. O marido decidiu levá-la ao hospital, mas, de acordo com a família, houve demora para que ela fosse atendida. “Minha irmã ficou muito tempo esperando, reclamando de dor, e não foi atendida de imediato. Deram prioridade para outro paciente que sofreu um acidente, enquanto ela continuava sofrendo”, relatou.

Um áudio enviado por uma pessoa que estava no hospital reforça a narrativa. “Ela gemia de dor, colocava a mão na barriga, a boca seca. Ficou mais de 40 minutos sofrendo e ninguém a olhava. Pedi para o médico ver, porque a situação dela era desesperadora”, disse a testemunha.

A família afirma ainda que Tuani, portadora de diabetes, recebeu soro possivelmente com glicose, sem que houvesse verificação prévia de sua condição. “Meu cunhado contou que aplicaram glicose nela como se estivesse de ressaca, sem perguntar se tinha diabetes. Ela voltou para casa e morreu logo depois”, disse Victoria.

Para os familiares, a ausência de observação adequada e a escolha do medicamento podem ter sido fatais. Eles tentam, desde então, ter acesso ao prontuário médico, mas afirmam não ter obtido resposta do hospital.

A corretora Daniele Bonfim, 36 anos

Dois dias depois, em 19 de agosto, a cidade registrou a segunda morte. A corretora de imóveis Daniele Priscila dos Reis Bonfim, de 36 anos, passou mal em casa e foi socorrida à Santa Casa. A família alega que Daniele procurou atendimento em duas ocasiões antes do óbito, mas foi liberada sem diagnóstico preciso.

Segundo boletim registrado na Polícia Civil, ela apresentava tonturas, palpitações e falta de ar desde o fim de semana. Mesmo após exames que apontaram pressão alta e uma mancha no pulmão, foi medicada e liberada. Na manhã de terça-feira, sofreu uma crise em casa e não resistiu. A causa oficial foi parada cardiorrespiratória.

O irmão da vítima, Wagner Fernandes dos Reis, acusa a unidade de negligência. “Ela vinha pedindo socorro havia três dias. Foi tratada como se tivesse apenas ansiedade ou labirintite. Quando vimos, era tarde demais”, afirmou.

O caso de Carlos Roberto da Silva Paiva, 55 anos

A terceira vítima foi Carlos Roberto da Silva Paiva, de 55 anos, que morreu nessa segunda-feira, 25, após internação na Santa Casa. Ele havia dado entrada dias antes, transferido de Itirapuã com suspeita de AVC (Avidente Vascular Cerebral).

O filho, João Pedro Silvério Paiva, relatou demora no atendimento em momentos críticos, especialmente quando o pai apresentava pressão arterial muito alta. “Meu pai chegou a soletrar a palavra ‘pressão’. Medi e estava 23. Mesmo assim demoraram para vir. Eu me senti sozinho, sem apoio”, declarou.

O caso ganhou repercussão após imagens mostrarem João Pedro no hospital segurando um objeto semelhante a um taco de beisebol. Ele explicou que não se tratava de ameaça, mas de um protesto diante da indignação com o atendimento.

Padrão nos relatos

Apesar das diferenças, os três casos apresentam elementos em comum: a demora no atendimento, a falta de observação mais detalhada e a dificuldade das famílias em acessar informações médicas após os óbitos. As queixas também citam falta de estrutura e sobrecarga dos profissionais, situação já denunciada por moradores e formalizada junto ao Ministério Público.

Resposta da Prefeitura

Em nota oficial, a Prefeitura de Patrocínio Paulista - responsável pela gestão da Santa Casa - manifestou pesar pelas mortes e solidariedade às famílias. O município afirmou que está prestando assistência aos parentes e garantiu que os prontuários médicos serão liberados conforme previsto em lei.

Sobre as acusações de negligência, a administração municipal classificou como “afirmações graves” que precisam ser apuradas com rigor, sem prejulgamentos. Segundo a nota, foi instaurada uma sindicância interna para avaliar protocolos e procedimentos adotados nos atendimentos.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

1 Comentários

  • Augusto 27/08/2025
    Um Absurdo , o Ser humano não merece Ser tratado assim, descaso com a População !!!