A Ponte Preta não vive apenas um momento profissional ruim, como também político. Diante do drama na Série B do Campeonato Brasileiro, atrasos salariais e outros problemas, a chapa Movimento Renascer Pontepretano - que conta com quase metade do conselho deliberativo da Macaca e elegeu o presidente Marco Antonio Eberlin - anunciou o rompimento com a atual diretoria e pediu a renúncia do mandatário.
O pedido aconteceu em nota conjunta enviada à imprensa. A carta recebeu a assinatura de 70 dos 150 conselheiros eleitos. Os demais, encabeçados pela chapa Tudo Pela Ponte Nada da Ponte, seguem apoiando Eberlin. Ou seja, um verdadeiro racha na administração da Ponte.
“Este grupo de conselheiros, que por questões de valores e pelo projeto que os motivaram, vêm solicitar a renúncia imediata do presidente da diretoria executiva da Associação Atlética Ponte Preta, Marco Antonio Eberlin”, solicitou a chapa, em nota.
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Segundo os conselheiros, a justificativa para o pedido são os problemas enfrentados pela atual gestão. Entre eles, “ameaça de greve de jogadores, despejo de atletas da base do seu centro de treinamento e contratações de jogadores que sequer jogaram e muitas mais a se investigar”.
O MRP surgiu como oposição ao DNA Pontepretano, comandado pelo ex-presidente Sérgio Carnielli. Na época, Gustavo Valio era cotado como o presidente. No entanto, preferiu seguir como diretor financeiro. Assim, abriu espaço para Eberlin.
Desta forma, em novembro de 2021, 387 dos 434 conselheiros votaram no MRP. O outro lado, liderado por Carnielli, teve apenas 39 votos. Com isso, após 25 anos, a Macaca teve uma troca em sua diretoria executiva. As decisões de Eberlin, contudo, distanciaram seus apoiadores, que agora pedem seu afastamento.
“Infelizmente, nesses quase dois anos, muito pouco, ou quase nada, foi feito. Entendemos perfeitamente as condições em que herdamos o clube. Nos foi entregue uma instituição com “Terra Arrasada”, uma situação caótica e com boicotes a todo momento: com bloqueios de contas, processos trabalhistas, dívidas e mais dívidas”, explicou o MRP.
Apesar da situação deixada, no entanto, o grupo acredita que não é mais o momento de utilizar isso como justificativa. “Acreditamos que tudo tem seu tempo. Tem-se o tempo de reclamar e de se lamuriar, e o tempo de se organizar, criar coragem e buscar a solução dos problemas. “Pegamos uma dívida enorme”, “culpa dos outros que estavam aqui”, “isso é choro das viúvas”, “se a bola entrar acaba tudo isso”, “culpa da outra gestão”. Isso não cabe mais, não podemos nos agarrar nessas desculpas eternamente”, seguiu.
Crise dentro e fora de campo
O pedido é mais um golpe duro no atual momento da Ponte Preta. A equipe está em crise na Série B do Campeonato Brasil, sem vencer há dez jogos e na zona de rebaixamento da competição, com apenas 35 pontos. Além disso, atrasos salariais e de benefícios forçaram o silêncio dos jogadores, que sinalizaram a possibilidade de greve.
Assim, após a derrota para o Avaí, o elenco pediu dois dias de descanso. Com isso, a diretoria programou a reapresentação para esta terça-feira, 7. Chama a atenção que a Ponte viaja já na quinta-feira, 9, para Tombos (MG), onde encara o Tombense dois dias depois. Ou seja, apenas dois dias de preparação em Campinas.
Os problemas não se limitam apenas ao elenco profissional. Ipor conta de atraso no pagamento de aluguel, a Justiça determinou o despejo do clube do CT (Centro de Treinamento) da base. A dívida é de, aproximadamente, R$ 637 mil. A decisão impactou mais de cem jovens jogadores da Macaca, que jogam pelas categorias sub-15, 17 e 20.
De acordo com a Ponte Preta, os problemas com os pagamentos do ‘Recanto da Macaca’, localizado em Jaguariúna, começaram em 2019. O processo, neste caso, teve início em maio de 2022 na 2ª Vara Cível da Comarca de Jaguariúna. A última decisão, tomada pelo juiz Rafael Imbrunito Flores, é referente a ordem de despejo.
O pedido inicial dos proprietários era o pagamento de R$ 345,6 mil, referente aos atrasos, multas e juros. No entanto, segundo eles, em agosto de 2022 e junho de 2023, dois acordos entre as partes aconteceram. No entanto, a Ponte não cumpriu com o combinado.
Por envolver menores de idade, a Ponte Preta solicitou a reconsideração da decisão, além de novos prazos para sair voluntariamente. Além disso, argumentou que se enquadra como ‘entidade educacional’, por atender mais de cem adolescentes e que, por isso, não poderia ser despejada.
Os proprietários, por sua vez, se manifestaram dizendo que a Macaca é um clube desportivo. O mesmo entendeu o Ministério Público, consultado pela Justiça, que declarou que “a executada não é instituição de ensino, tampouco instituição de acolhimento, sendo o alojamento de adolescentes parte incidental da sua atividade”.
Outra metade
A maioria dos demais conselheiros ainda apoiam Eberlin. Em nota, a chapa Tudo Pela Ponte Nada da Ponte, que conta com boa parte destes, reforçou que não concorda com o movimento da MRP. Os apoiadores entendem que o pedido de renúncia “infringe o Estatuto Social”. Sendo assim, “a atitude destes conselheiros são passíveis de punição, conforme rege nosso Estatuto”.
“E cabe ainda um questionamento: será que este suposto grupo de conselheiros realmente existe? E se existe, porque eles mesmos não pediram a renúncia de ex-dirigentes que criaram R$ 320 milhões de dívidas ao clube. Ou será que não são apenas interesses políticos?”, completou.
O MRP, por outro lado, nega que existam interesses políticos. “Nesta carta não há diretores arrependidos, nem ex-diretores de olho em cargos, nem conselheiros que eram/foram remunerados ou prestadores de serviços e que perderam tal”, reforça. O grupo diz, aliás, que a carta foi adiada em diversos momentos e que seriam “atacados e taxados de tumultuadores, mas isso não mudará o cenário”, finalizou.