“Bugou?”. “Não. Não bugou”. E assim começamos um novo século temendo o bug do milênio o qual previa caos com a mudança numeral de 1999 para 2000. Os Estados Unidos e outros países, à nossa frente com sistemas já informatizados, temiam um descontrole nas transações bancárias, no abastecimento de combustíveis e nos voos intercontinentais. Nada aconteceu.
“E o Mundo, acabou?”. “Não. Não acabou”. “Mas, Nostradamus previa que o planeta deixaria de ser habitado em 2.000”. Não acabou e nós somos provas vivas disso.
Olhando para o hoje, notamos que já vivemos o primeiro um quarto do século atual. Os primeiros 25 anos do século XXI se encerram nesta quarta-feira, 31 de dezembro de 2025. O fim chegou. E como foi chegarmos aqui? Não quero filosofar sobre o que deu certo ou errado, mas resgatar algumas passagens às quais vivemos e acabam caindo no esquecimento. Algumas memórias são agradáveis.
Iniciando o novo século o Brasil parou para comemorar seus 500 anos de descobrimento. Foi a última vez que o 22 de abril foi feriado nacional. O meio milênio de história foi lembrado na Inglaterra, Espanha, França, Holanda, Portugal e outros países que tentaram colonizar as terras descobertas por Pedro Álvares de Cabral. Piracicaba teve atividades comemorativas. O Engenho Central foi palco de uma grande exposição.
Nestas duas décadas e meia, a cidade cresceu culturalmente. A Festa das Nações e a Paixão de Cristo do Guarantã se consolidam com estrondosos sucessos. Foram atividades que movimentaram o antigo Engenho Central, à beira do rio Piracicaba. A cidade ganhou um novo teatro construído pelo poder público, o Erotides de Campos, assim como uma ponte estaiada dr. Aninoel Dias Pacheco e outra ponte próxima ao salto do rio, denominada de arquiteto Caio Tabajara Esteves de Lima.
O comércio também cresceu. Conheceu novos empreendedores com a criação da lei das MEIs. Conheceu o avanço tecnológico em que robôs compartilham a linha de produção com o ser humano no fabrico de veículos automotores e elétricos. A tecnologia da Coreia do Sul desponta em um novo bairro, trazendo diversos fornecedores. E pensar que até o início dos anos 1980 Piracicaba era referência como cidade vizinha a Rio Claro, onde se construía o Gurgel, ou de Santa Bárbara d’Oeste com sua Romi-Isetta.
O atual século mostrou que não temos domínio sobre nossas ações. No final de 2019, começam a ecoar as notícias sobre o vírus SARS CoV 2, a Covid-19, tão devastadora que colocou o planeta em alerta mundial dizimando milhões de pessoas. Culparam os coitados dos bichinhos civeta e pangolim como os propagadores. Teorias da conspiração tendem para o descontrole de vírus de laboratório em Wuhan. Mas, aí já é outra história.
Chegamos a 2025 impressionados com a inteligência artificial que desde os anos 1950 povoavam teses acadêmicas, seriados de tv, filmes de cinema e principalmente livros. A IA é mais que remodelar uma foto transformando-a em filme. É a chave condutora para veículos autômatos na Europa e na América do Norte. É o drone teleguiado que atira bombas e granadas na Ucrânia ou dispara fuzis sem a presença física do ser humano com exatidão no alvo. É algo que nos assusta.
O espaço é pequeno para discorrer sobre o ataque às torres gêmeas do World Trade Center ou a Primavera Árabe. Mas olhemos para nosso microcosmo chamado Piracicaba, onde vivemos nossa vida. Tínhamos 329 mil habitantes no primeiro ano do século, somando hoje, segundo determinadas fontes, 420 mil pessoas. A gastronomia cresceu de forma exponencial para satisfação dos comensais. Nas mídias sociais, ouvimos o clamor por um ou mais de um novo shopping center. O atual remonta o final dos anos 1980. Dois outros foram prometidos, à margem do rio Piracicaba e outro no Taquaral. Ficam apenas na promessa. Mas, mesmo com estas solicitações, o piracicabano ainda frequenta avidamente este centro comercial.
Os desafios estão aí. Iniciativas públicas e sociais se reúnem para enfrentar o crescimento urbano da cidade. Pensar na Piracicaba 35 já é um desafio em prática. E tenhamos um ótimo início do segundo um quarto de século. Bom ano novo!
Edson Rontani Júnior é jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.