OPINIÃO

O permanente risco de colapso na América Latina

Por Dirceu Cardoso Gonçalves | O autor é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
| Tempo de leitura: 3 min

Está se tornando cada dia mais improvável a manutenção da paz no território latino-americano, inclusive no Brasil. Os Estados Unidos bloquearam militarmente a Venezuela (por mar e ar) e exigem que o presidente do vizinho país, Nicolás Maduro, deixe o poder em razão da denúncia de fraude eleitoral que lhe pesa  desde as últimas eleições, onde festejou a vitória mas não conseguiu comprovar ter recebido maior número de votos do que seu concorrente. Desde que estabeleceu o bloqueio marítimo e aéreo, os EUA já afundaram no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, 15 embarcações que, segundo denúncias, estariam a serviço do narcotráfico. Mais de 100 tripulantes já perderam a vida nesses incidentes. Nos últimos dias, as tropas de Donald Trump interceptaram três navios petroleiros que circulavam pela região a serviço da Venezuela. E o presidente Maduro, em vez de  renunciar, acusa os EUA de estarem  “roubando” o petróleo da Venezuela e promete reagir militarmente. A paz torna-se cada vez mais precária na área e o conflito não se restringe aos dois países em questionamento.

No último final de semana, na reunião dos países do Mercosul, realizada no Chile, o Brasil e o Uruguai decidiram por apoiar a Venezuela e Nicolás Maduro, em oposição a Argentina e outros países da região que fizeram eleições recentemente e hoje são governados por partidos de direita.

É difícil prever as reações dos Estados Unidos e suas consequências no atual  quadro político latino-americano. O principal temor está nas reações de Trump, que já impôs sanções aos diferentes países (entre eles o Brasil) e ainda guarda pendências para decidir proximamente. No caso brasileiro, a redução das tarifas de importações de nossos produtos e a questão de vistos e aplicação da Lei Magnitsky a autoridades de nosso País.

Independente do que venha a ocorrer com a Venezuela e a Nicolás Maduro, ainda há a disposição do governo norteamericano de atuar militarmente contra o narcotráfico. Com vários países tidos como matriz da distribuição de drogas (Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil) é difícil prever que tipo de sanção ou operação preventiva a ser implantado pelos EUA. Não está fora de perspectiva a possibilidade de ocupação militar que facilmente pode converter-se em conflito bélico. Com a presença em seu território de dezenas de facções do crime organizado  - entre elas, duas em ação internacional – o mais prudente seria o governo brasileiro se abster de embates com os EUA por conta do tráfico e, em vez disso, aceitar o apoio para eliminar os esquemas do tráfico mediante o auxílio do país interessado em acabar com a atividade, já que boa parte das drogas é destinada ao seu território.

Como se não bastassem os problemas internos de relacionamento deficiente entre os Três Poderes, o Brasil (e os brasileiros) devem hoje se preocupar com a possibilidade do conflito continente mental, a solução a ser encaminhada para o narcotráfico e à questão do Mercosul, que se arrasta há mais de 20 anos sem solução porque os parceiros europeus temem a concorrência dos produtos brasileiros ao seu agronegócio.

Nós, brasileiros, preocupados com o andamento regular dos interesses nacionais, vivemos um momento de tensão. Melhor seria o Brasil fora das questões que conflitam os demais países – especialmente a Venezuela e suas enormes pendências econômicas, sociais e políticas. Que as opções adotadas por Lula e seu governo não impactem os interesses brasileiros. A economia nacional depende de bons acordos e da manutenção da paz. Sem isso, toda a população sofrerá e dificilmente os atuais governantes sairão vitoriosos.

Comentários

Comentários