'Dormi na portaria do prédio', diz idosa há 4 dias sem luz em SP
As irmãs Ilizia e Helena Moreira, 88 e 90, estão há quatro dias sem energia elétrica após fortes ventos que atingiram São Paulo desde a quarta-feira (10). Elas passaram a noite de quarta para quinta-feira na portaria do prédio onde moram, no Bixiga, região central da capital, sem conseguir subir as escadas até o 8º andar, onde fica o apartamento delas.
Moradoras de um prédio na rua Humaitá, Ilizia e Helena têm dificuldade de locomoção e estão com a rotina prejudicada pela falta de energia elétrica. "Eu tinha uma ressonância magnética para fazer, fui ao hospital fazer o exame, mas na volta fomos informadas que o prédio não tinha energia", contou Ilizia.
Ilizia relata que tem dificuldade para mexer a perna esquerda. "Não tinha como subir oito andares." A irmã sofre de dores na coluna e também não poderia subir as escadas. "Todo mundo queria ajudar a gente, mas ficamos com medo. Dormimos na portaria."
Ao receberem a notícia de que o fornecimento de luz estava interrompido, elas decidiram aguardar na portaria. Segundo a porteira Alcione Ribeiro, a Enel deu a previsão de que a energia voltaria em algumas horas, mas depois passou a ampliar a previsão inicial até informar que não havia mais horário para a normalização do serviço. "Ficamos sentadas achando que a luz ia voltar, mas nunca voltou".
"Não tinha condições de subir, eu ia morrer", afirma Ilizia. Segundo ela, depois de não terem mais previsão de normalização do serviço, na quinta-feira de manhã as irmãs decidiram subir com ajuda dos moradores. "Me trouxeram carregada."
Dois moradores e Alcione ajudaram Ilizia a subir os andares. "Eles me seguraram pra eu não cair, fui segurando no corrimão. Nunca pensei na minha vida passar por isso", conta ela, emocionada. Ilizia também está preocupada com as contas que devem vencer na segunda-feira e ela diz que precisa ir até o banco para pagar.
Morador gastou quase R$ 3 mil com alimentação em três dias
Morador do 11º andar, o taxista Raimundo Alves da Silva, 65, subia as escadas do prédio com dois galões de água nas costas quando o UOL esteve no local, na manhã de hoje. Ele tem comprado água e alimentos para abastecer a mulher e dois filhos que vivem no apartamento. "Afetou em tudo, joguei tudo fora ontem", disse ele.
"Gastei de R$ 2 mil a R$ 3 mil só com comida e água", disse ele. "Temos que comprar café da manhã, almoço e janta nos últimos quatro dias", relata. Ele conta ainda que foi tomar banho na casa de um primo que mora próximo. "Não dá para ficar sem tomar banho." "É um absurdo isso, ficar sem luz por tantos dias, nunca vi uma coisa dessas", afirma.
Raimundo disse que a companheira Maria Aparecida Cordeiro, 67, tem dores na coluna e por isso não pode subir e descer escadas. "Minha filha está nos ajudando, mandando mensagens para a Enel, e cobrando", relata. "Mas já gastei um terço da renda do mês só em comida nesses quatro dias para nós quatro."
Advogado Theodósio Zabczuk, 80, morador do primeiro andar decidiu deixar o prédio no início da tarde para passar os próximos dias na casa da sogra. "Alterou totalmente a vida, as pessoas não sabem como fazer. Não deram satisfação foi nenhuma."
Ele afirma que passado os primeiros dias que sem previsão de volta da energia por parte da Enel, ele não acredita mais nos prazos dados. "No dia seguinte não acreditamos mais em nada. Falharam com uma necessidade básica da população."
O advogado diz que não foi tão prejudicado quanto os vizinhos, mas perdeu alimentos. "Perdemos legumes, levei para o local de local de trabalho os produtos mais perecíveis. Minha família está se deslocando para ir para a zona leste, na casa da minha sogra, Itaim Paulista. Vamos ficar lá até que o problema se resolva. Estamos sem os insumos básicos."