PIONEIRISMO

Quando São Paulo tinha nove cidades, Jundiaí estava lá

Por Redação |
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Acervo Professor Maurício Ferreira
Primeira imagem registrando a Vila de Nossa Senhora do Desterro de Jundiahy, feita pelo viajante inglês chamado William John Burchell, em 1827
Primeira imagem registrando a Vila de Nossa Senhora do Desterro de Jundiahy, feita pelo viajante inglês chamado William John Burchell, em 1827

Jundiaí foi elevada à categoria de vila 14 de dezembro de 1655. Com isso, tornou-se uma das nove primeiras cidades do estado de São Paulo, chamadas de “cidades originais”. Já em 1700, o Brasil era colônia de Portugal e o estado de São Paulo tinha 16 municípios. Lá estava Jundiaí, junto a São Paulo, Parnaíba, Santos, São Vicente, São Sebastião, Sorocaba, Itu, Mogi das Cruzes, Jacareí, Taubaté, Guaratinguetá, Ubatuba, Itanhaém, Iguape e Cananéia. Na época, não existiam grandes cidades do interior, como Campinas e Ribeirão Preto. Inclusive, essas duas cidades pertenciam ao território jundiaiense, que fazia divisa com Itu a Oeste, Parnaíba a Sul, São Paulo a Sudeste e Minas Gerais a Nordeste e Norte.

Até 1800, muita coisa mudou no âmbito nacional e Jundiaí já tinha tido desmembramentos, Campinas era uma cidade emancipada, assim como Mogi-Mirim. No entanto, toda a região mais próxima pertencia ao território jundiaiense. A configuração atual só foi delineada na segunda metade do século XX, quando os últimos municípios foram emancipados: Itupeva, Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista.

Acervo Apesp

Cientista social, pesquisador e responsável pela mudança no ano de “nascimento” de Jundiaí, a partir de documentos encontrados em Portugal, Samuel Vidilli conta que ao analisar os documentos históricos e mapas, é possível traçar a evolução territorial de Jundiaí. "Durante o período colonial, Jundiaí se estendia até a região de Camanducaia, em Minas Gerais, criando um corredor estratégico de acesso ao estado vizinho. A cidade era atravessada por uma via conhecida como Estrada de Goiás, que conduzia à região mineradora, e era a primeira parada depois de Santana", explica ele, referindo-se ao ciclo do ouro e também à conexão com o Centro-oeste do país. Vidilli lembra que Jundiaí foi uma parada crucial para os tropeiros, que, com seus comércios e rotas, impulsionaram a economia local por muitos anos.

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O pesquisador também explica que o papel de Jundiaí no ciclo do ouro era centrado no abastecimento das tropas. "No século XVIII, o ouro não transitava por esta região. Ele era transportado por rotas específicas, como a Estrada Real, que ligava as minas a Paraty e ao Rio de Janeiro. Em Jundiaí, o comércio não envolvia o ouro, mas sim suprimentos para as regiões mineradoras e para Goiás." Segundo ele, esse fluxo comercial era realizado principalmente pelos tropeiros, que passavam por Jundiaí e aqui compravam suprimentos que abasteciam as áreas mineradoras e ajudavam a manter a atividade econômica local viva.

Com o declínio da mineração e o fim do ciclo do ouro, Jundiaí enfrentou um período de estagnação, mas a cidade rapidamente encontrou outra vocação que também foi um marco de desenvolvimento do país. "A expansão da cafeicultura no interior de São Paulo foi um dos principais motores do crescimento de Jundiaí. A região, com terra fértil, passou a se destacar na produção cafeeira, enquanto o Vale do Paraíba, esgotado por práticas agrícolas intensivas, perdeu capacidade produtiva", afirma.

A partir desse ponto, surgiu um marco na história da cidade, a construção da ferrovia Santos-Jundiaí, que ligava a cidade ao porto de Santos e foi um importante avanço nesse processo de transformação. Ela não só facilitou o escoamento do café, mas também consolidou Jundiaí como um centro estratégico para a economia paulista.

Também a partir da ferrovia, o município começou a se afirmar como um ponto de apoio logístico e comercial. "No período colonial, Jundiaí era essencialmente um ponto de passagem para os tropeiros. Compravam-se arreios, artigos de couro, açúcar e cachaça. Porém, com o tempo, esse ciclo foi substituído, com a queda da mineração e o surgimento da demanda gerada pela expansão da cafeicultura e pela chegada da ferrovia", explica o cientista social.

O crescimento de Jundiaí, então, ficou atrelado à ferrovia, como lembra Vidilli sobre a redução da produção de ouro e a consequente crise econômica do século XIX. "Com o esgotamento das minas e a diminuição da atividade econômica, a cidade entrou em um período de pobreza. A recuperação só ocorreu com a chegada da ferrovia, que foi o divisor de águas para a cidade."

Acervo Apesp

Samuel Vidilli ainda observa que Jundiaí sempre se beneficiou de sua posição geográfica estratégica, sendo a entrada para o interior a partir da cidade de São Paulo, depois de Santana. Com isso, também tinha rotas indígenas que provavelmente serviram como base para as primeiras estradas do Brasil, inclusive Peabiru, uma rota indígena que conectava o litoral brasileiro aos Andes, no Chile, e, embora não haja confirmação oficial, muito provavelmente cortava a região.

Nos dias de hoje, embora Jundiaí não tenha crescido tanto quanto cidades às quais deu origem, como Campinas e Ribeirão Preto, integra um importante corredor logístico para o estado de São Paulo e também para o país, com as modernas rodovias e a boa e velha malha ferroviária.

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