Mesmo com a popularização de ferramentas digitais e do atendimento remoto, trabalhadores de diferentes categorias ainda precisam enfrentar procedimentos presenciais para cancelar a contribuição assistencial descontada diretamente na folha. Em vários sindicatos de São Paulo, a exclusão da cobrança só é aceita mediante apresentação de documentos físicos, preenchimento de formulários e entrega de uma carta escrita à mão — exigência que muitos consideram ultrapassada.
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A reportagem da Band registrou longas filas no sindicato dos metalúrgicos de Osasco e região. Em dias de sol forte, chuva ou frio, funcionários aguardavam para protocolar o pedido de exclusão da taxa. Vários entrevistados relataram que só conseguem ir até o local quando folgam do trabalho. Outros contam que perderam o prazo por estarem de férias e, assim, continuaram pagando por mais meses do que gostariam.
Essa dificuldade, segundo especialistas, acaba desestimulando o cancelamento e mantém a arrecadação das entidades elevada. A contribuição assistencial, embora não seja obrigatória, segue como uma das principais fontes de receita dos sindicatos, o que explica a resistência em facilitar o procedimento.
Projeto avança, mas não resolve todo o impasse
A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que determina a criação de canais digitais para que o trabalhador possa cancelar a cobrança por e-mail, aplicativo ou outro meio remoto. No entanto, o dispositivo ainda será analisado pelo Senado e, mesmo que aprovado, não elimina completamente as brechas que permitem a manutenção do modelo atual.
Isso ocorre porque convenções e acordos coletivos — que ganharam mais força após a reforma trabalhista de 2017 — podem definir formas específicas de comunicação para o cancelamento. Muitos sindicatos utilizam essa prerrogativa para manter exigências presenciais, alegando respaldo jurídico nas decisões aprovadas em assembleia.
Perda de força e busca por novas estratégias
A mudança na estrutura do mercado de trabalho também pesa no debate. Com a queda do número de trabalhadores na indústria e o crescimento do setor de serviços, o movimento sindical perdeu representatividade e receita. Dirigentes tentam preservar o caixa e parte deles, segundo especialistas, mantém práticas burocráticas como forma de garantir a continuidade dos descontos.
Pressão popular pode acelerar mudanças
Analistas afirmam que a digitalização efetiva do processo só deve ocorrer quando houver maior pressão social. A expectativa é que a repercussão do tema estimule mais trabalhadores a cobrarem alternativas modernas — e mais compatíveis com a rotina atual — para exercer o direito de recusar a contribuição.
Enquanto isso, quem decide cancelar a taxa ainda precisa lidar com deslocamentos, filas e prazos apertados, à espera de uma mudança que depende tanto do Senado quanto da própria postura das entidades sindicais.