ARTIGO

Mais humildade e menos ufanismo

Por Kazuo S. Koremitsu |
| Tempo de leitura: 3 min

As últimas declarações do chanceler alemão Friedrich Merz sobre a cidade de Belém e -por extensão - à organização da COP30, feriram o ego de nossos políticos. Merz expressou estar feliz por voltar para casa (a Alemanha) e que, para ele, não havia melhor país para viver. Os jornalistas alemães concordaram em unanimidade com a opinião do político alemão. A ONU, por sua vez, enviou carta formal à organização do evento climático para cobrar maior segurança aos participantes diante da falta de contenção dos indígenas revoltados (com arco e flecha em mãos) em protestos exaltados.

Bem, este é nosso tão querido Brasil. E a verdade dói fundo quando dita sem meias palavras. Podemos até discordar (e discordamos) do chanceler alemão sobre a Alemanha ser o melhor lugar do mundo para se viver, porém é um pais limpo e seguro, livre de odores fétidos.

Para quem já teve oportunidade de visitar Belém do Pará sabe que maus odores exalam por toda parte, a sujeira e o calor insuportável fazem o restante para macular a cidade que, se bem cuidada, poderia ser bem diferente. Por conta dos geradores de óleo diesel, instalados para suprir a falta de energia elétrica, o cenário ficou ainda pior. O que espantou foi a reação ultraufanista de nossos políticos brasileiros.

O presidente Lula logo se adiantou em dizer que faltou ao alemão provar a comida paraense para ficar enamorado do país. Os senadores querem votar moção de repúdio à fala do chanceler e o prefeito do Rio de Janeiro, que não tem qualquer relação com a cidade de Belém, foi mais agressivo em chamar o político de « filhote de Hitler». É… a verdade dói e cutuca o nosso ego. Mas ela está aí - exposta para todos verem.

É preciso mais humildade e menos arrogância. Nenhum pato com tucupi vai melhorar a imagem desagradável de Belém e nenhum Teatro da Paz vai apagar a desorganização do evento global. Faltou muito investimento à cidade de Belém. Não dá para comparar Berlim com Belém, pois perdemos feio - em tudo: beleza, museus, organização, segurança, civilidade, qualidade de vida, mobilidade urbana, liberdade e, sobretudo, limpeza. Se o movimento indígena mostrou seu lado animalesco durante a COP30, faltou civilidade até para os índios e mesmo nisso LéviStrauss concordaria.

Espanta-nos como o brasileiro, que outrora cultivava a tão saudável síndrome do vira-lata, passou a se comportar como um ufanista míope. Os políticos parecem torvidade futebol, não importa quão ruim seu time esteja jogando, importa é defendê-lo e dizer que a culpa é do juiz.
Aqui na COP30 a culpa foi ora de não ter provado uma boa refeição paraense ora porque seu interlocutor tem um suposto viés ideológico. Não há ideologia capaz de esconder os odores fétidos e a pobreza de Belém. Sobra feiura, falta estrutura.

Falta ao brasileiro aquela humildade japonesa de saber quando falhou, curvar-se e pedir desculpas. Falta ao brasileiro seriedade na aplicação das políticas públicas.

O primeiro passo para melhorar o que está ruim é admitir as próprias mazelas. É reconhecer as próprias deficiências e pedir desculpas por elas. A reação de nossos políticos devia ser de vergonha e não de repúdio.

A fala do chanceler Merz só pôs em palavras (claras) o que já sabíamos mas não tínhamos coragem de proferir abertamente. Sobra-nos nacionalismo exaltado e falta-nos uma boa dose de humildade.

Somos, de fato, um «gigante adormecido em berço esplêndido», mas passou da hora de acordar o gigante.

Kazuo S. Koremitsu é economista com doutorado em Direito.

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