Encontrei no meu computador um velho arquivo, no qual há muito não mexia. Trata-se de uma coleção de reflexões humorísticas politicamente incorretas, que fui elaborando e anotando ao longo dos anos, à medida que me vinham ideias à cabeça. Nem tudo é publicável, obviamente... Mas aqui vão algumas amostras:
* Democracia é o regime em que a metade mais um tem o direito de livremente oprimir a metade menos um durante um tempo pré-determinado que quase sempre se consegue um jeitinho de espichar. A falsa democracia é a mais cruel forma de ditadura: é a ditadura do número sobre a qualidade.
* O pior da ditadura não é o fato de oprimir o povo inteiro, mas é oprimir a pequeníssima minoria dos que realmente pensam e, portanto, são de fato livres. Só esses sofrem com a opressão. O resto nem sente.
* Em igualdade de condições homens e mulheres são completamente diferentes. Ainda bem!
* É preciso respeitar todas as culturas? Tudo bem, mas também as faltas de cultura?
* Segundo influentes políticos de várias regiões do Brasil, a grande injustiça da seca do Nordeste é que só os políticos nordestinos podem se beneficiar dela.
* Escola pública é o local em que os analfabetos funcionais são produzidos em série pelos funcionários do analfabetismo. Escolas públicas só funcionarão bem quando todos os funcionários públicos (desde o presidente da república até o mais modesto dos servidores municipais) forem forçados, por lei, a só matricular em escolas públicas seus filhos, sem poder escolher “ilhas de excelência” do ensino público. Deveria ser obrigatório estudar na escola pública mais próxima da respectiva residência.
* O SUS só funcionará quando todos os governantes, desde o presidente da república até o mais modesto, assim como os seus parentes, forem obrigados a se tratar pelo SUS, ficando terminantemente proibida a utilização de quaisquer outros planos de saúde e a contratação de médicos, hospitais ou clínicas particulares sob pena de imediata e inapelável cassação de mandato.
* O mal das medidas provisórias é que elas quase sempre se eternizam. E o mal das medidas excepcionais é que tendem a se tornar regra geral.
* A forma mais democrática de eleição é por sorteio. Se todos são iguais e ninguém é melhor do que ninguém, por que não sortear, entre todos os brasileiros, um presidente da república? A grande vantagem é que, de repente, seria sorteado alguém honesto.
* O voto não deveria ser secreto, mas apenas secreto pela metade. Deveria haver um jeito de cada eleitor poder comprovar em quem votou. E a escolha eleitoral deveria deixar de ser uma procuração irrevogável vigente por quatro anos. Deveria passar a ser revogável. Se um eleitor se desiludisse com seu candidato, por achar que não cumpriu suas promessas, poderia a qualquer momento poder anular o seu voto. O governante ou o parlamentar que, durante os quatro anos de seu mandato, perdesse eleitores desiludidos deveria, conforme o caso, ser deposto e dar lugar ao seguinte, na ordem da votação. Será que funcionaria?
* Num país monárquico, o poder é vitalício. Pela lógica, numa república decente ele não poderia se prolongar. Assim sendo, deveriam ser proibidas reeleições. Qualquer cargo eletivo temporário, uma vez exercido, deveria incapacitar o seu titular para exercê-lo de novo. O ex-qualquer-coisa deveria voltar, sem apelação, para o batente, para o trabalho duro. No máximo poderia incluir, no seu currículo, o cargo ou posto que exerceu, e nada mais.
* Proposta de alteração na lei de proteção ao consumidor: quando um fornecedor de qualquer natureza responda (por qualquer meio que seja) a uma queixa ou reclamação escrita com resposta padronizada genérica, sem entrar na análise dos pormenores expostos pelo queixoso, entende-se a omissão como reconhecimento de que tudo quanto foi afirmado na queixa e não contestado objetivamente na resposta é verdade.
* Os bancos deveriam ser obrigados a pagar aos clientes, pelo saldo positivo de suas contas bancárias, um mínimo de 50% dos juros que cobram deles quando entram no cheque especial. Nada mais justo e equitativo, não é mesmo?
Armando Alexandre dos Santos é doutor na área de Filosofia e Letras, membro da Academia Piracicabana de Letras e do IHGP.