ARTIGO

O que separa o envelhecer bem do envelhecer mal

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Envelhecer bem é quando o tempo vira parceiro. O corpo ainda responde, a mente segue curiosa, os vínculos permanecem vivos. Mesmo com anos a mais, há autonomia para decidir, mover-se, aprender e participar. Tenho vários alunos septuagenários que vivem a vida intensamente. Encontro de café entre amigos, idas a show com o grupo "Viajando entre amigos" e a cervejinha com amigos para ouvir a musica sertaneja raiz. Isso acontece aqui em Piracicaba e agora!  Não é negar rugas; é manter competência cotidiana e propósito. No plano biológico, isso acontece quando o reparo vence o dano: estabilidade do genoma, regulação epigenética eficiente, mitocôndrias que entregam energia com pouco desperdício, proteínas bem dobradas e recicladas, e uma inflamação que acende quando precisa e se apaga na hora certa. Desse cuidado silencioso nascem gestos poderosos como subir escadas treinos, tomar decisões com clareza, sustentar projetos e afetos para a vida.

O envelhecer malsucedido surge quando essa conversa interna se desorganiza. Dano supera reparo, a inflamação de baixo grau fica ligada, células senescentes permanecem no tecido disparando sinais tóxicos, as mitocôndrias perdem eficiência e a regulação epigenética se desalinha. A fragilidade cresce e, com ela, o risco de doenças crônicas como demências, diabetes tipo 2, cardiopatias, osteoartrite e alguns cânceres. No cotidiano, isso vira tropeços de memória, fadiga persistente, dor que limita, infecções recorrentes e uma retirada social que não raro é confundida com “falta de vontade”, quando na verdade é a biologia pedindo ajuda.

Os vetores que nos empurram para um lado ou para o outro são conhecidos, embora pessoais. Dieta ultraprocessada, disbiose intestinal, sono curto, sedentarismo, estresse crônico, perda de músculos, falta de proteínas na alimentação e exposição a toxinas ensinam o corpo a inflamar e a poupar energia quando deveria produzi-la. O caminho oposto reorganiza a sinfonia celular: comida de verdade com fibras e cores, proteína na medida; movimento que desafia como força, cardio e mobilidade ao longo da semana; sono competente e regular; relações que acolhem e abaixam o ruído do estresse; curiosidade intelectual que mantém o cérebro plástico, aquela leitura, aquela cruzada feita aqui no final do jornal diariamente. O corpo não é uma máquina de trocar peças; é uma planta a ser cultivada.

A ciência tem desenhado esse mapa. Em um artigo intitulado “The Hallmarks of Aging”, publicado na revista Cell, os pesquisadores organizaram marcos que conectam o visível ao invisível: instabilidade genômica, alterações epigenéticas, perda de proteostase, desregulação de sensores de nutrientes, disfunção mitocondrial, senescência celular, exaustão de células-tronco e comunicação intercelular alterada. Nomear essas engrenagens não é ser fatalista; é pedagógico. Ao compreendê-las, abrimos espaço para intervenções que vão do estilo de vida e prevenção às terapias que modulam inflamação, metabolismo e reparo tecidual sempre com o cotidiano como palco principal. E qual a receita mágica para isso? Boa alimentação, exercício e socialização.

No fim, envelhecer bem-sucedido é uma forma de liberdade: estar no comando do que se pode controlar e em paz com o que não se pode, cercado de gente que importa. A biologia adora poesia quando a prática acompanha: um prato colorido, uma caminhada ao sol, um treino que fortalece e previne quedas e doenças, uma conversa que aquece, um livro que abre janelas, uma consulta que previne. Não é sobre viver para sempre; é sobre viver de um jeito que valha a pena com um corpo que pensa, uma mente que corre e um coração disponível para o tempo. Aquela ideia de “velho” está a cada dia se tornando mais longínqua. Por que viveremos mais! Mas o importante é vivermos mais e de forma melhor! Por isso estou aqui e quero que você caminhe junto! Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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