Recentes acontecimentos no panorama internacional parecem conduzir a uma perspectiva bastante preocupante: a de uma possível - e talvez iminente - Terceira Guerra Mundial. São tantas as incógnitas e incertezas que atualmente marcam presença no panorama mundial, que é muito compreensível a impressão de que talvez estejamos num “cotovelo da História”, à espera de acontecimentos que podem modificar radicalmente, a qualquer momento, as condições de vida de todo o mundo. Essa impressão, difusa no conjunto da população, também é compartilhada por pensadores, sociólogos e cientistas políticos de peso.
Gostaria de transcrever aqui trechos de uma entrevista que, quando li, me impressionou muito e guardei com cuidado. Já é meio antiga, pois data de 1994, mas os fatos acontecidos nos últimos 30 anos parecem somente confirmar e tornar cada vez menos distante a confirmação dos seus prognósticos.
São declarações do Prof. Norman Stone, professor de História na Universidade de Oxford, autor de numerosos livros e estudos científicos. Esse professor teve um papel importante durante o governo Thatcher, e colaborou com a Sra. Margaret Thatcher na redação do livro de memórias desta. Era um intelectual prestigioso e sério, nem um pouco comparável a certos “futurólogos” charlatanescos que gostam de fazer declarações apocalípticas para atraírem a atenção do público.
Declarou Stone ao jornal italiano “Corriere della Sera”, de 28-4-1994: “As nossas cidades estão sendo invadidas por mendigos e sem-teto. As nações se desintegram em pequenos potentados mafiosos. As leis não são mais respeitadas, enquanto se tornam moda as superstições e as pessoas se reúnem de noite nos bosques para celebrar missas negras. Grandes epidemias mortais ceifam rapidamente vidas humanas sem que ninguém saiba curá-las. E as tribos estão novamente em pé de guerra, da África à Europa. Deixemo-nos de iludir-nos com as mentiras da tecnologia e sobre o progresso científico. É como historiador que afirmo: este mundo está voltando à Idade Média. E vós, italianos, como sempre antecipais o fenômeno”.
A tese de Stone é que o Ocidente entrou numa fase de decadência sem retorno, padecendo de um câncer ao mesmo tempo moral e material, que cancelará cinco séculos de modernidade e o precipitará novamente no caos da Alta Idade Média. Continua ele: "A Itália sempre foi o lugar onde os grandes fenômenos históricos tomaram forma. Basta pensar no Renascimento. Ora, a nação italiana está se desintegrando, estão novamente divididos entre guelfos e gibelinos e espalhados em tantas cidades-estado, unidas apenas por uma fidelidade formal a um governo fantasma. O mundo moderno nasceu por volta de 1500 e tinha três símbolos: a imprensa, as leis e o conceito de Estado-Nação. Todos os três estão desaparecendo hoje. A cultura escrita está sendo substituída pela visual. As pessoas não aprendem mais nos livros, mas pelos cantadores ambulantes das televisões, pelos menestréis das imagens. Quanto às leis, não são mais respeitadas e a polícia não ousa de modo algum entrar em certas periferias degradadas. O Estado-Nação range em toda Europa.”
A certa altura da entrevista, o repórter pergunta se, tudo bem considerado, não se vive hoje melhor do que no passado. A resposta de Stone: “Essa é outra mistificação. Hoje o Estado democrático e liberal cedeu lugar aos `network´ paralelos, como os dos traficantes de droga. Vivemos numa nova floresta de Sherwood, à mercê dos bandidos. Esses piratas sem pátria lançam seus ataques e se refugiam em bases inexpugnáveis. Outrora eram pequenos portos. Hoje são os paraísos fiscais. O Ocidente perdeu a capacidade de se defender porque não construímos a nossa riqueza, mas a recebemos como herança. Sucumbiremos face aos novos povos, talvez bárbaros mas mais fortes e unidos. Quais? Os orientais, até não excluiria o retorno do Islã”.
Tudo isso dá muito o que pensar. O panorama é deveras sombrio. Como não recordarmos daquela famosa afirmação, atribuída a Einstein. Perguntaram-lhe como seria a Terceira Guerra Mundial, e ele teria respondido: - Não sei como será a Terceira, mas a Quarta certamente será com arco e flecha.
Armando Alexandre dos Santos é doutor na área de Filosofia e Letras, membro da Academia Piracicabana de Letras e do IHGP.