ARTIGO

Dúvidas e certezas

Por André Salum |
| Tempo de leitura: 3 min

O ser humano se caracteriza, dentre tantos atributos, pela incessante busca de conhecimento e da verdade. Nesse sentido, as descobertas científicas, as reflexões filosóficas e as revelações espirituais são diferentes formas de se acessarem verdades: a ciência, pela experimentação metódica; a filosofia, pela reflexão e a religião, pelas revelações e instruções de seus fundadores e seguidores. As três abordagens não são de forma alguma incompatíveis, mas complementares. Cada uma preenche um espaço e tem seus limites, e caminhamos para uma integração cada vez maior entre esses três aspectos do saber humano, dissolvendo as divisões arbitrárias criadas entre eles.

Dentre muitas características humanas, a necessidade de  segurança se destaca, por isso buscamos certezas que nos acalmem as ansiedades e respostas, ainda que temporárias ou imperfeitas, a questões fundamentais da vida. Nem sempre é fácil admitirmos que não temos respostas para muitos dos problemas existenciais e que aquelas que possuímos são tão incompletas quanto provisórias. O que hoje constitui certeza, amanhã se apresenta de outra forma, gerando dúvidas e ensejando novas buscas, após o que se descobrem diferentes dimensões da verdade a respeito de si mesmo tanto quanto acerca das relações e da vida, ampliando as perspectivas existenciais.

Nossa condição humana – imperfeita, incompleta e falível – faz com que transitemos entre dúvidas e certezas, as quais se alternam em diversas fases e momentos de nossa existência. Aceitar essa condição abre possibilidades de aprendizado e de adaptação às sempre mutáveis circunstâncias em que nos encontramos.

Vivemos simultaneamente em diversas dimensões, sendo que a mais material e grosseira geralmente é nossa principal referência, na qual o ego é nossa predominante interface com os demais. Enquanto dominados pelo ego, quaisquer certezas que venhamos a ter serão, por sua própria natureza, limitadas e transitórias, até que novas dimensões conscienciais sejam atingidas e ampliem nossa compreensão. Em nossa trajetória evolutiva transitamos, portanto, das limitações e ilusões do ego para a sabedoria do ser essencial. Por isso, reconhecer as dimensões superiores da vida e de nós mesmos constitui importante passo para a abertura à ampliação de consciência.

Como as certezas puramente humanas são muito limitadas, a fé desempenha papel fundamental na jornada evolutiva e aquele que a possui se torna seguro, sereno e fortalecido, capaz, portanto, de enfrentar os desafios do caminho. A fé a que nos referimos é conquista interior e se alicerça na compreensão dos fenômenos e das leis que regem a vida, assim como dos propósitos implícitos nos acontecimentos. Ao mesmo tempo, a fé ultrapassa a razão, trazendo uma certeza sobre aquilo que a mente ainda não pode alcançar.

Da mesma forma, a intuição exerce função imprescindível no despertar da consciência. Quem a desenvolve passa a contar com uma segura e elevada fonte de referência. Os seres intuitivos têm a percepção imediata da verdade, sem a interferência dos pensamentos, os quais frequentemente complicam e contaminam as verdades essenciais com elementos egoicos.

À medida que se aprofunda no processo de autoconhecimento e de comunhão com a fonte da vida, as intermináveis dúvidas que caracterizam a personalidade gradualmente dão lugar a uma serena certeza, a qual é necessária ao prosseguimento na realização das tarefas que nos cabem neste mundo tão complexo, conflituoso e desafiador.

André Salum é médico homeopata.

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