ARTIGO

A beleza de estar só

Por Fabiane Fischer |
| Tempo de leitura: 3 min

Todos os anos, milhares de casais se separam, alguns rompem em silêncio, outros em meio a brigas e mágoas, mas todos passam por uma dor parecida, a de ver um sonho acabar. A separação é um tipo de morte simbólica, uma perda de identidade, de rotina, de planos compartilhados e quando o fim vem acompanhado de traição, o sofrimento costuma ser ainda mais profundo. Ser deixado por alguém que prometeu ficar é uma das experiências mais duras da vida, porque fere não apenas o coração, mas também a autoestima e o sentido de pertencimento.

Muitas pessoas não conseguem superar esse abandono e ficam presas à necessidade de provar algo para o outro, como se dissessem silenciosamente: “Veja, eu ainda posso ser desejado, eu ainda posso ser amado”. E então passam a buscar relações com pessoas mais jovens, tentando reafirmar seu valor por meio do olhar alheio e esse comportamento é mais comum do que se imagina e mostra o quanto as feridas antigas continuam abertas. Quem vive tentando provar que segue bem, na verdade, ainda não se libertou do passado, porque continua reagindo a ele.

É frequente ver homens na faixa dos cinquenta ou sessenta anos se envolvendo em traições, abandonando esposas que estiveram ao lado deles por décadas ou mantendo relacionamentos duplos, escondidos atrás de desculpas e vaidades. Muitos acreditam que encontrar alguém mais jovem é sinal de vitalidade, quando, na verdade, é apenas um medo disfarçado da velhice, da solidão, do fim e essas atitudes acabam deixando rastros de dor, especialmente nas mulheres que são deixadas, que veem anos de entrega e cuidado se transformarem em ausência.

Essas mulheres, feridas e humilhadas, muitas vezes se desvalorizam e entram numa corrida desesperada por novos companheiros, acreditando que só serão felizes se tiverem alguém ao lado. Vivem tentando substituir o amor que perderam, sem perceber que essa busca frenética é apenas uma tentativa de tapar o vazio deixado pela rejeição, mas quanto mais correm atrás de novas histórias, mais se afastam de si mesmas e mais demoram para curar o que realmente importa. É um ciclo que aprisiona, um movimento de fuga de si.

Ficar só assusta, especialmente quando a sociedade insiste em dizer que felicidade é ter alguém, mas estar sozinha não é sinônimo de fracasso, é oportunidade de reencontro e quando aprendemos a gostar da nossa própria companhia, descobrimos que há prazer em coisas simples como tomar um café sem pressa, caminhar ouvindo música, cuidar de si, de corpo e alma. A solitude, diferente da solidão, é o estado de estar bem consigo, sem precisar de outro para validar a própria existência. É um tempo de construção interna, de serenidade e autoconhecimento.

A verdadeira cura vem quando conseguimos parar de sangrar sobre outras pessoas, quando deixamos de usar o outro como curativo e começamos a cuidar da ferida com o tempo, o silêncio e o amor próprio. É nesse momento que o amor verdadeiro pode reaparecer, não porque precisamos dele, mas porque estamos prontos para recebê-lo. Um amor maduro, que não vem para preencher vazios, mas para transbordar o que já está cheio.

Estar só pode ser um presente, é o tempo da reconstrução, do silêncio, do olhar para dentro. É o momento de se reconhecer além de qualquer papel, não mais como a ex, a traída, a que ficou, mas como alguém inteira. Quando uma pessoa se permite viver essa fase sem pressa, com leveza e verdade, ela descobre que não é o fim de nada, e sim o começo de tudo.

A solitude é um estado de liberdade, ela nos ensina que o amor mais importante é o que temos por nós mesmos e quando isso acontece, o medo de ser esquecido ou trocado desaparece, porque já não precisamos provar nada a ninguém. O coração encontra paz, e a vida volta a florescer, sem dependências, sem desespero, apenas com a serenidade de quem aprendeu a estar bem, mesmo só.

Com carinho, Fabiane Fischer.

Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.

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