ARTIGO

Você confia no que você lê?

Por Kazuo S. Koremitsu |
| Tempo de leitura: 3 min

Cuidado: o perigo pode morar ao seu lado! Senão, bem à sua frente: naquilo que você lê pelos jornais, pelos websites noticiosos e blogs da vida. Não estou falando de redes sociais, de  textos de origem desconhecida que aparecem em grupos de whatsapp, nem mesmo das clássicas «fake news». Estou falando de algo bem mais sério: de manipulação da opinião pela pré-seleção do que se publica (ou se posta na web) e pelo viés dos textos escritos na imprensa.

Fomos educados por nossos avós, depois por nossos pais, a confiar (e acreditar piamente) naquilo que lemos: nos livros em primeiro lugar, depois na imprensa (grandes jornais como o Estadão, a Folha, o Globo e outros). Mas pouco (ou quase nada) fomos condicionados a duvidar. A tradição da filosofia cética foi cada vez mais legada ao ostracismo. O grande Montaigne não é mais lido. Foi até esquecido. Seria loucura deixar de acreditar naquilo que vemos com os próprios olhos e no conhecimento que podemos acessar pela leitura. Portanto, os filtros da dúvida e do ceticismo foram completamente eliminados.

Mas agora os tempos nos empurram de volta para Montaigne, para David Hume e até mesmo para o grande cético grego, Pirro de Élis (c. 360 – 270 a.C.). Precisamos mais duvidar do que acreditar para sobreviver nos dias de hoje. O ceticismo é, antes de tudo, uma atitude ou um método que questiona a possibilidade de se atingir o conhecimento sobre a realidade.

O cerne do ceticismo é a époche, a suspensão do juízo. Diante de argumentos igualmente convincentes para lados opostos, o cético conclui que a única postura racional é não se comprometer com nenhuma crença. Mais do que nunca, em nosso tempo presente, devemos praticar essa « suspensão do juízo», mas o objetivo não é alcançar a serenidade da alma, como defendia o filósofo grego, mas sim, não ser enganado pelo que lemos (ou pelo que assistimos nos vídeos da internet).

Em sua obra "Ensaios", especialmente no capítulo "Apologia de Raymond Sebond", Montaigne revive esse ceticismo pirrônico. Usa a diversidade de costumes e opiniões humanas para mostrar a impossibilidade de se encontrar uma verdade universal. Famosa é sua pergunta: "Que sei eu?". Defende que a razão humana é fraca e incerta, e que devemos seguir, com moderação, os costumes e a religião de nosso tempo, sem o fanatismo de quem acredita possuir a verdade absoluta. E eu posso acrescentar mais uma razão em pleno século XXI: tudo o que você lê na imprensa impressa ou digital (ou ao menos 90%) é escrito por quem deseja manipular sua opinião.

Recente pesquisa entre jornalistas atuantes mostrou que cerca de 89% dos jornalistas que hoje escrevem na imprensa séria tem um viés esquerdizante ou socializante. O que já se sabia dentro das redações dos grandes (e pequenos) jornais e agora tornou-se público, é que tudo aquilo que lemos está embutido de um forte viés ideológico. E pior: só é publicado o que interessa (ideologicamente) para quem publica (ou posta na web).

Num mundo ideologicamente polarizado como o nosso, os jornalistas assumiram o papel que Gramsci designou aos professores (e a todos os intelectuais) de antigamente: disseminem silenciosamente o marxismo, pois «essa será a grande e verdadeira revolução cultural socialista », dizia o filósofo italiano. Gramsci era um gênio. Graças a ele, uma horda silenciosa de professores pelo mundo (e em especial pelo Brasil) tomaram a si essa tarefa de formar (e deformar) a nova geração de crianças. As escolas tornaram-se fábricas do pensamento socialista.

E agora essa tarefa foi assumida pelos jornalistas. Não se trata de desinformação, mas de perigosa manipulação. Cuidado, duvide de tudo que você lê.

Kazuo S. Koremitsu é economista com doutorado em Direito.

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