Aos cem anos, Mauro Vianna não põe um ponto final, mas uma vírgula no texto da existência. A pontuação da vida, tal qual a da gramática, exige pausa, respiro, continuidade e é exatamente isso que ele iria celebrar: um tempo de balanço, mas também de fôlego renovado.
Na linguagem, a vírgula separa ideias, marca um ritmo, organiza sentidos. Assim também fez Mauro Vianna com sua trajetória. Cada fase foi uma vírgula bem colocada: da juventude à maturidade, do aluno ao professor, do educador ao visionário. Os sinais da pontuação da gramática vírgula, ponto, ponto e vírgula, dois-pontos, travessão, reticências, interrogação e exclamação podem aliás, traduzir muito da jornada humana: o ponto final como fim de ciclos, os dois-pontos como prenúncio de revelações, o travessão como intercorrência que redefine caminhos, as reticências como aquela esperança que Mauro sempre cultivou, a interrogação como o impulso da dúvida criativa e agora?, o que mais podemos aprender?, o que é ser humano afinal? e a exclamação como o espanto da descoberta, o grito da conquista, o entusiasmo da vida isso vale a pena! isso é grande! isso transforma!
Professor nato, Mauro Vianna marcou gerações em Piracicaba com seu curso de liderança e com a criação do método de Engenharia Humana, uma proposta educativa voltada ao autoconhecimento, ao desenvolvimento de competências e à realização de propósitos. Suas apostilas, verdadeiros manuais de clareza existencial serviram como bússola para quem buscava se entender antes de tentar liderar.
Não bastava ensinar; era preciso inspirar. Os temas de seus cursos abordavam comunicação, ética, convivência, tomada de decisão, consciência ambiental e protagonismo. Mas havia mais: Mauro organizava festas de fim de ano e viagens com seus alunos. Momentos de integração que formavam laços, abriam horizontes e aprofundavam o aprendizado. A sala de aula se estendia ao mundo.
Seu legado se espalha pelas mãos e mentes dos milhares que com ele aprenderam e empreenderam. Lançou sementes de liderança que florescem até hoje em empresas, escolas, ONGs e instituições públicas. Sua criatividade educacional se manifestava no cuidado com cada detalhe: na escolha das palavras, na disposição das cadeiras, na dinâmica dos encontros, no silêncio que ensinava mais que discursos.
Homem de planejamento, Mauro sempre teve visão de futuro. Mesmo confessando o cansaço físico da idade, não hesitava em apoiar a festa dos seus cem anos.
Dizia que era mais que celebração pessoal, era um brinde coletivo ao poder transformador da educação. Um evento organizado por seus ex-alunos, agora líderes em diferentes áreas, representa a multiplicação de sua obra.
Ao longo de sua caminhada, contou com colaboradores fiéis: professores, profissionais da saúde, administradores, artistas e técnicos que ajudaram a tornar possível a construção do seu curso. Fontes de esclarecimento e diálogo, eles foram pilares no desenvolvimento do método que hoje é referência em várias regiões do Brasil.
A festa dos cem anos, portanto, não é apenas um aniversário. É uma apoteose. Uma vírgula forte, para respirar. Um símbolo de continuidade da vida com propósito, afeto e legado. A história de Mauro Vianna não termina aqui. Como as reticências... ela segue!
Walter Naime é arquiteto-urbanista e empresário.