ARTIGO

Pílulas ou Passos? A nova medicina está no movimento

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Imagine uma manhã fria. O joelho dói, o corpo hesita. A primeira reação de muitos é procurar um comprimido, um anti-inflamatório, um paracetamol, algo que silencie o incômodo e permita continuar o dia. Mas e se a verdadeira cura não estivesse em uma pílula, e sim em um simples movimento?

Um estudo publicado no British Journal of Sports Medicine intitulado “Comparative efficacy of exercise therapy and oral non-steroidal anti-inflammatory drugs and paracetamol for knee or hip osteoarthritis: a network meta-analysis of randomised controlled trials” reuniu 152 ensaios clínicos, com mais de 17 mil participantes, para responder a uma pergunta que parecia improvável: será que o exercício alivia a dor da artrose tanto quanto os remédios mais usados como os anti-inflamatórios e o paracetamol? O resultado foi surpreendente: sim. O exercício mostrou o mesmo efeito analgésico e de melhora funcional que os medicamentos, mas com uma diferença crucial, sem os efeitos colaterais que ameaçam a saúde de quem depende dessas drogas.

A artrose é o desgaste das articulações, um processo natural do envelhecer que, em muitos casos, se acelera pelo sedentarismo, pelo excesso de peso e por desequilíbrios musculares e falta de exercícios. A dor surge não apenas da inflamação, mas da falta de estabilidade e de movimento que enfraquecem o corpo. Nesse contexto, os medicamentos apenas desligam o alarme, mas não resolvem o incêndio. Já o exercício, quando bem orientado, ataca a origem do problema.

O estudo analisou o efeito de diferentes modalidades, de caminhadas e fortalecimento muscular a práticas de corpo e mente como o tai chi e o yoga. Em todas, o padrão se repetiu: o movimento diminuiu a dor, melhorou a função e deu mais autonomia aos participantes.

Após quatro, oito e até vinte e quatro semanas, os resultados se mantiveram semelhantes aos obtidos com o uso contínuo de analgésicos. Em termos clínicos, isso significa que uma rotina de exercícios regulares pode gerar o mesmo alívio que uma dose diária de remédio mas com o bônus de fortalecer músculos, proteger o coração e melhorar o humor. O que eu já ouvi de idosos que por causa das dores não faziam exercício, ou por causa da artrose não deveriam fazer.…

A explicação é que a cada vez que nos movemos, o corpo libera substâncias como endorfinas e miocinas que reduzem a dor. O fluxo sanguíneo melhora, o líquido sinovial nutre a cartilagem e os músculos ao redor estabilizam as articulações, tirando delas a sobrecarga. É como se o corpo, bem estimulado, fabricasse seu próprio anti-inflamatório interno, um remédio que não se compra, mas se constrói, passo a passo, repetição após repetição.

O mais belo dessa descoberta é o que ela simboliza: o corpo não é um inimigo a ser silenciado, e sim um aliado que pede movimento. A dor, quando ouvida com atenção e acompanhada por orientação profissional, pode se tornar um convite à ação. Eles afirmam, com todas as letras: “Exercise is indeed a medicine.” O exercício é, de fato, um remédio. Às vezes, o que o corpo pede não é descanso, é cuidado. E o cuidado, nesse caso, vem em forma de movimento. Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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