ARTIGO

A importância de não sermos esquecidos

Por Fabiane Fischer |
| Tempo de leitura: 3 min

Há um desejo quase silencioso que habita o coração humano: o de não ser esquecido. Queremos que nossa passagem pela vida do outro tenha deixado marcas, lembranças, significados. É natural querer permanecer na memória de quem amamos, especialmente quando uma história termina, mas há quem transforme esse desejo em obstinação, tentando se fazer presente de qualquer forma, mesmo que seja pela dor, pela mágoa ou pela vingança.

Isso acontece com frequência em separações, onde ex-maridos e ex-mulheres, ainda presos àquilo que foi, buscam não desaparecer e tentam deixar rastros, não de amor, mas de feridas. Quando o fim vem acompanhado de traição ou quando um dos dois ainda ama, o esquecimento se torna quase insuportável, então, muitos insistem em continuar existindo na vida do outro, nem que seja como lembrança amarga. Mas, ao fazer isso, perdem a chance de serem lembrados com ternura, com respeito, com gratidão.

Seria libertador se, ao invés de nos tornarmos fantasmas que rondam o passado, deixássemos que a memória guardasse apenas o que houve de bom. Que fôssemos lembrados pela alegria que causamos, pelos sorrisos que despertamos, pela forma como amamos e fomos amados. Há uma diferença profunda entre ser inesquecível e se recusar a ser esquecido, o primeiro é fruto da presença verdadeira e o segundo do medo da ausência.

O fim de uma relação é uma espécie de morte simbólica, dói, porque o amor é um território onde colocamos o melhor de nós e quando tudo termina, percebemos que o mundo não gira mais em torno do nosso umbigo, que a vida segue seu curso indiferente à nossa dor. É nesse momento que muitos tentam se apegar ao que restou, as mensagens antigas, lembranças, fotos, ressentimentos, é como se assim conseguissem evitar o vazio, mas é justamente o vazio que nos convida a recomeçar.

A melhor forma de continuar vivo após uma perda é estar presente nela e viver o luto com consciência, sem pressa de esquecer, mas também sem o desejo de se eternizar no sofrimento. Lembre que todo luto tem que ter data para acabar, chore, esperneie, sofra mas marque a data onde se proíba sentir coisas ruins em relação ao acontecimento. Se vivemos plenamente o amor, então ele pode ir embora e quando ele vai, deixa em nós o que precisava deixar, um aprendizado, um traço da nossa própria evolução.

Estar inteiro em uma relação é o que permite o desapego quando ela chega ao fim. Se demos o melhor de nós, se estivemos realmente lá, então nada ficou pendente e a experiência cumpriu seu papel. E quando isso acontece, seguimos mais leves, prontos para novos encontros, novos caminhos, novos sonhos.

Mas quando tentamos controlar o que já não nos pertence, o tempo, o sentimento e o outro, deixamos de viver o essencial. O controle é inimigo da entrega, ele nos prende ao passado, nos impede de nos transformar e ficamos congelados no instante em que o amor deixou de existir, presos a um nó do tempo que nunca se desfez.

E o mais curioso é que o encontro que acreditávamos ser para sempre, na verdade, nunca aconteceu por completo. Porque o “para sempre” só existe quando há entrega e só é eterno o amor que se viveu de verdade, mesmo que tenha durado pouco. Aquilo que não se viveu por medo de perder, por orgulho ou por controle, nunca existiu de fato.

Não ser esquecido é um desejo humano, mas talvez o que realmente importe não seja permanecer na memória de alguém, e sim permanecer em paz conosco. O que nos torna inesquecíveis não é o quanto resistimos ao fim, mas o quanto fomos autênticos enquanto durou. O que faz alguém lembrar de nós com carinho é o bem que deixamos, a presença sincera que um dia fomos, o amor que, mesmo tendo acabado, foi real.

Ser lembrado pelo bem que fizemos é o verdadeiro sentido de não ser esquecido e o resto é apenas o medo disfarçado de amor.

Com carinho, Fabiane Fischer.

Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.

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