Segundo uma perspectiva sistêmica, vivemos simultaneamente em múltiplas dimensões que se interpenetram e se influenciam: material, emocional, mental e espiritual – correspondentes aos diversos aspectos de nosso ser. Do mesmo modo, vivemos em nosso universo interior, ao mesmo tempo que somos participantes do mundo exterior e inseridos no contexto social.
Como seres gregários e graças à necessidade de convívio e intercâmbio, certamente precisamos, em inumeráveis situações, recorrer à ajuda externa, tanto quanto devemos oferecer auxílio aos demais. Nessa dinâmica, para que as relações interpessoais sejam saudáveis, construtivas e criativas é fundamental que nossa estrutura psíquica seja cultivada e cuidada.
Sabe-se que, devido ao processo de transição planetária ora em curso, crises de toda ordem têm ocorrido e tendem, até certo ponto, a se intensificar. Isso é facilmente percebido quando se observa a situação planetária atual, caracterizada, dentre outros aspectos, por conflitos de toda ordem.
Diante dessa realidade, instruções idôneas de natureza espiritual afirmam a necessidade de cultivarmos o universo interior, estabelecendo nele um santuário inexpugnável, o qual pode se tornar refúgio seguro em momentos críticos e desafiadores. Refúgio não como fuga da realidade externa, mas como centro interior equilibrado e estável, capaz de prover sustentação psíquica diante de fatores externos agressivos, conflituosos ou caóticos.
A construção de um santuário interior e seu cultivo é uma das atividades mais relevantes no período atual em que somos, a todo momento e de mil modos, induzidos ao desequilíbrio, à violência, à deserção do dever e às distrações que nos tiram do cumprimento dos propósitos para os quais nos encontramos atualmente no mundo.
Esse santuário interior é construção individual e intransferível, cabendo a cada um o esforço para sua elaboração, mediante continuados estudos e reflexões de natureza espiritual, orações e meditações, aliados ao serviço voluntário e altruísta, que traz energias renovadoras e salutares. Urge que se edifique tal santuário, a fim de que, nos períodos tempestuosos, haja um espaço interno seguro a partir do qual se possa auxiliar mais e melhor os irmãos em necessidade.
Parte importante dessa edificação interior é a tomada de consciência e a consequente decisão de se trilhar um caminho diverso do que vem sendo predominante no mundo. Desse modo, quanto mais a corrupção se amplia, maior a necessidade de expressarmos retidão e integridade; quanto mais a violência se alastra, mais urgente se faz mantermos a serenidade e a paz; quanto mais a degradação contamina as estruturas e instituições humanas, maior deve ser nossa perseverança na manutenção dos serviços ao bem comum; quanto mais as relações interpessoais se deterioram, maior deve ser nosso cuidado no trato com os demais; quanto mais os vícios, sobretudo os tecnológicos, sequestram milhões em suas garras invisíveis, maior deve ser nossa vigilância para preservarmos a lucidez, o discernimento e a liberdade de ação.
Quando Jesus afirmou que o reino de Deus se encontra dentro de nós, o Mestre reconheceu e evocou nossa natureza divina, convidando-nos à edificação do santuário interno, a fim de encontrarmos nele inspiração, proteção e força – indispensáveis ao prosseguimento da existência em condições equilibradas e funcionais, para que possamos sentir, apesar dos imensos desafios que o mundo nos apresenta, a alegria de viver, servir e amar.
André Salum é médico homeopata.