Há decisões que mudam uma vida inteira, uma mensagem trocada em segredo, um encontro às escondidas, uma traição que começa com um olhar e termina com um lar desfeito. Tudo parece pequeno no início, quase inofensivo, como se o coração estivesse apenas buscando o que faltava, mas o que começa como uma faísca pode se transformar em um incêndio capaz de destruir tudo o que foi construído com amor, paciência e história.
A culpa de desfazer uma família é uma das dores mais silenciosas que alguém pode carregar. No momento da paixão, ninguém pensa nas lágrimas que virão depois, não se pensa no rosto dos filhos, no olhar decepcionado do companheiro ou da companheira, nem na perda do respeito que leva anos para ser conquistado e segundos para desaparecer. A traição não acaba quando o segredo é revelado, ela continua ecoando dentro da alma, corroendo lentamente aquele que errou e aquele que foi ferido.
Muitos acreditam que trair é apenas um deslize, uma fraqueza momentânea, mas é muito mais do que isso, é um rompimento profundo com o próprio caráter, uma fissura no amor-próprio e uma ferida aberta no coração de quem confiou. É um ato que, por mais que pareça impulsivo, tem consequências longas, que ultrapassam o casal e atingem filhos, famílias inteiras e até futuras relações.
O arrependimento chega quando a chama do desejo se apaga, quando o encanto passa e sobra o vazio e é nesse momento que o traidor se dá conta de tudo o que perdeu, o abraço familiar, a presença constante de quem dividia a vida, a tranquilidade de dormir em paz. Nenhum prazer momentâneo compensa a dor de ver nos olhos dos filhos a tristeza de um lar desfeito.
Nenhum corpo novo substitui o calor do amor que foi leal.
E o corpo sente o peso do erro. O não perdão, a culpa e a vergonha adoecem a alma e a mente não descansa, o coração não se acalma. O arrependimento é uma forma de dor que não aparece em exames, mas se manifesta no corpo, na tristeza profunda, na ansiedade e até nas doenças que nascem daquilo que não foi curado dentro de nós. A traição não destrói apenas o outro, destrói o próprio traidor.
As pessoas erram, sim, porque são humanas, mas magoar alguém que nos amou é uma das formas mais cruéis de errar. O perdão é possível, mas o tempo necessário para reconstruir a confiança é longo e nem sempre é possível. Ninguém é obrigado a amar para sempre, mas todos são obrigados a respeitar e terminar uma relação com honestidade é um ato de coragem e dignidade. É doloroso, mas é limpo e humano.
O “sim” dito diante de um altar, ou apenas prometido em silêncio, deveria valer enquanto houver respeito. O amor pode acabar, mas o respeito deve permanecer e trair é fugir da responsabilidade emocional que assumimos com o outro, é quebrar algo que não pertence apenas a nós, mas àqueles que construíram a vida ao nosso lado.
É preciso compreender que o amor verdadeiro exige escolha diária. Não é feito apenas de paixão, mas de presença, paciência e lealdade e quando alguém trai, rompe um elo sagrado e não há justificativa que alivie essa dor. O arrependimento vem, e com ele, a culpa, mas às vezes, o perdão não vem junto, e é aí que a alma começa a se corroer.
Que este texto sirva como um chamado à consciência, que homens e mulheres que pensam em trair parem antes de dar o primeiro passo. Que escolham terminar com respeito, se o amor acabou, e não destruir com engano o que um dia foi verdadeiro.
Porque não há dor maior do que perceber tarde demais que o amor que se traiu era o amor da vida. Que as pessoas que choram hoje poderiam estar sorrindo, se a verdade tivesse sido dita antes. Que famílias poderiam estar inteiras, se o respeito tivesse vencido o impulso. E que o perdão mais difícil é aquele que precisamos dar a nós mesmos quando descobrimos que fomos os próprios destruidores daquilo que um dia juramos proteger. Com carinho, Fabiane Fischer.
Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.