Se a vida fosse uma panela de pressão, o ódio seria aquele feijão que começa a entupir a válvula. E aí, meu amigo, segura o apito, porque se não abrir espaço, explode na cozinha da política, da família, da torcida de futebol e até no grupo da família do WhatsApp.
Mas afinal, o que é o tal do ódio? É aquela mistura de raiva com rancor, temperada com injustiça e servida com gosto de vingança fria. Vem de tudo quanto é canto: preconceito, desigualdade, fake news, fofoca de vizinho e até da fila do banco.
A polarização ideológica, essa briga eterna de “nós contra eles”, é tipo gasolina jogada na churrasqueira: dá fogo e churrasco queimado. Antigamente, era só discussão de bar, cada um saía bêbado e tudo certo. Hoje, virou guerra digital, cada like é uma pedrada virtual.
E aí entra a vendeta, que é a vingança com sobrenome chique. Famílias inteiras se matavam porque alguém roubou uma cabra lá atrás. É ódio guardado em tupperware, passado de geração em geração, como receita de bolo ruim. O problema é que esse negócio se multiplica: se ninguém põe freio, vai crescendo em cascata, como corrente de zap que ninguém aguenta mais.
E como conter essa panela fervendo? Bom, tem lei, tem polícia, tem psicólogo, tem terapia, mas principalmente precisa educação e diálogo. Não adianta só botar tampa: tem que aprender a cozinhar sem queimar.
As guerras no mundo são prova: pelo menos sete em cada dez estouram porque alguém ficou de mal de alguém. É orgulho ferido que vira bomba. Aí, quando a coisa tá feia demais, entram duas palavrinhas mágicas: perdão e anistia. O perdão é pessoal, coração aberto: “tá perdoado, segue a vida”. A anistia é mais burocrática, tipo governo assinando papel: “tá liberado, esquece essa dívida aí”. Perdão é ato de fé, anistia é ato de Estado.
No Brasil já rolou disso: a Lei da Anistia de 1979 liberou presos políticos e devolveu gente do exílio. Teve também perdão coletivo de dívidas. Na parte religiosa, o Yom Kipur, lá dos judeus, ensina que um dia de arrependimento vale mais que cem anos de vendeta.
E como é que a gente desarma essa bomba? Reconhecendo erros, pedindo desculpa, criando lei justa e parando de achar que todo conflito precisa virar novela mexicana. Perdão e anistia só funcionam quando tem coragem para admitir culpa.
Os antídotos contra o ódio não são novidade: educação, justiça que funcione, religião que una e diplomacia que fale mais alto que os canhões. É conversa, debate, negociação, mesmo que demore resolve mais do que bala perdida.
E aí entra a democracia. É imperfeita? É. Dá trabalho? Muito. Mas é ela que permite que a gente brigue sem precisar puxar a faca. É o único sistema que deixa o ódio sair pela válvula sem explodir a panela.
A moral da história é simples: o ódio não vai sumir, mas pode ser reciclado. Dá para transformar em debate, em aprendizado, em piada até. Só não dá é para deixar cozinhar até explodir. Porque caldeira sem válvula estoura, e quem paga o pato é sempre quem não tem nada a ver com o feijão.
Walter Naime é arquiteto-urbanista e empresário.