ARTIGO

“O que não sei não existe”

Por Cecílio Elias Netto |
| Tempo de leitura: 3 min

Milenarmente, uma das proclamadas fontes da sabedoria tem sido a frase socrática “conhece-te a ti mesmo”. A partir desse conhecer-se a si próprio, o ser humano teria, então, possibilidade de ir em busca de outros saberes.

Atualmente, na longevidade pessoal, tenho, para mim, ser, isso, relativo. Mais uma das infinitas elocubrações dos insatisfeitos com o que existe. Pois, ao longo da vida, levaram-me a aprender coisas estranhas, esquisitas que me tiravam a alegria. Trigonometria, por exemplo. Sofri agruras terríveis para estudar conhecimentos para mim estrambóticos. E, até hoje, sei tratar-se daquelas complicações de ângulos, triângulos, algo parecido. No entanto, entendo sejam essenciais nos estudos matemáticos. Algo por aí. E, como a matemática serve a todos, a mim também me serve. Portanto, terá sido uma simples tolice do então adolescente. Outra, apenas uma das muitas.

Conhecer, saber das coisas, de acontecimentos parece ser, inexoravelmente, a busca do ser humano desde os seus primórdios. Não apenas por curiosidade, mas – também ou especialmente – para sobreviver. Aos poucos, porém, ele passará a entender os seus próprios limites diante do infinito que se lhe abre diante de si próprio. Mesmo quando conclui pela especialização neste ou naquele conhecimento, ver-se-á diante o inesgotável do saber. Será quando, então, aceitará o relativismo da própria vida, encontrando o princípio da sabedoria: a humildade.

Saber – algumas ou muitas vezes – pode trazer o desencanto, a decepção. Pois, o desconhecido, que parecia complexo, revela-se de uma simplicidade surpreendente. O mágico desnuda-se para o quase banal. Logo, o entender, o descobrir, o aprender chega a tornar-se decepcionante. O mistério, ao revelar-se, desfaz o interesse. O oculto, ao aparecer, interrompe a procura. Até o desejo, quando satisfeito, se transmuda em cansaço. A espera chega a ser mais excitante do que o encontro.

Repito-me, mas desconheço como evitá-lo: a mulher que se negava a saber das coisas. Pois, “aquilo que não sei não existe”, dizia. Admito já lhe dar, agora, algo de razão. Há coisas que, talvez, mais interessante seria delas não saber. Reporto-me, ainda outra vez, àquele homem que fazia mágicas na praia da Iracema, em Fortaleza. À época, devido a atividades profissionais, o escrevinhador ia frequentemente à bela capital do Ceará. E se encantava com as façanhas de um “mágico” que fazia suas proezas naquela praia. A cada viagem, não perdia a oportunidade de ver-lhe os feitos. E, aos poucos, tornaram-se, o “mágico” e ele, mais próximos.

O bisbilhoteiro caipira decidiu aprender, descobrir o segredo, o mistério daquele encantamento.

E, eis, então, que o prestidigitador acedeu em ensinar-lhe, desde que se comprometesse a não revelar o que iria aprender. E que adquirisse os seus bagulhos. Foi o final do encantamento, a amarga decepção. Eram tão simples, quase tão infantis os truques que lhe pareceu ter-se desaparecido o sonho. A “magia” era, apenas, uma esperta enganação. Pela primeira vez, admiti ter algo de razão na certeza de minha conhecida: “Aquilo que não sei não existe”. Melhor, mil vezes melhor teria sido contentar-me em ser espectador das maravilhas do “mágico” do que conhecer os segredos dele. A fantasia é reconfortante. E necessária.

No entanto... A saga jornalística ainda exige o esforço de buscar atualizar-se. A ansiedade é permanente. E sufocante. Mas, quase ao final da jornada, perguntas são desafiadoras: “Por quê, para quê, a troco de quê?” Então, o questionado foge às respostas. Fazê-lo doeria mais.

Cecílio Elias Netto é jornalista e escritor.

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