ARTIGO

O peso que o joelho carrega pode ser mais leve

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Há um instante silencioso entre o movimento e a dor, quase imperceptível, mas que vai moldando a vida de quem sente os joelhos reclamarem. A ciência ajuda a traduzir esse instante em números. Segundo um artigo publicado no periódico Arthritis & Rheumatism intitulado “Weight loss reduces the risk for symptomatic knee osteoarthritis in overweight and obese older adults”, foi demonstrado que a perda de apenas 1 kg de peso corporal equivale a cerca de 4 kg a menos de carga sobre o joelho a cada passo. É como se cada grama a mais não fosse apenas um número na balança, mas um tijolo invisível empilhado sobre esta articulação. Agora imagine esse tijolo sendo retirado, passo após passo, em milhares de repetições ao longo do dia.

Esse mesmo estudo mostrou algo ainda mais delicado: a perda de peso reduziu em 1,4% o momento de abdução do joelho, um marcador associado ao risco de progressão da osteoartrite. Essa não é uma informação fria; é a promessa de que pequenas mudanças têm o poder de alterar o curso de uma doença que muitas vezes parece inevitável. Não falamos apenas de estética, mas de uma estratégia concreta para aliviar dores, preservar mobilidade e resgatar a autonomia. E se somarmos exercícios de fortalecimento, aí sim o céu se abre: menos dor, mais liberdade para caminhar.

Mas há um ponto que precisa ser dito com cuidado: perder peso é parte da solução, não a solução inteira. O corpo envelhece, e com ele os tecidos perdem elasticidade, os músculos desafinam a sua força, e a resposta inflamatória ganha terreno. É por isso que a abordagem precisa ser completa. Alimentação de base anti-inflamatória, que favoreça menos processos degenerativos silenciosos como a mediterrânea. Um sono profundo e reparador, que sustente os mecanismos de reparo celular. O movimento, desenhado para cada corpo, respeitando limites, mas também expandindo possibilidades, porque não é apenas sobre caminhar ou levantar pesos, mas sobre descobrir um jeito de se manter vivo no gesto cotidiano.

No dia a dia, isso se traduz em olhar para o aluno de forma integral: testes funcionais que avaliam não só a força, mas também o equilíbrio e a coordenação. Intervenções que podem incluir exercícios de agachamento, fortalecimento do quadríceps, adutores e abdutores, além de um belo trabalho de equilíbrio e estabilização do core. Há muita longevidade e menos dor nessa ideia: dentro de nós estão as sementes da recuperação, e a ciência apenas nos ajuda a despertá-las.

O envelhecimento não precisa ser uma sentença de perda, mas uma oportunidade de cuidado. O peso que o joelho sente pode ser diminuído, não só pela balança, mas por escolhas que alinham ciência, movimento e consciência. Cada passo mais leve não é apenas biomecânica: é um convite para caminhar mais longe, com menos dor e mais liberdade. E quanto antes começar, melhor. Fica muito difícil recuperar depois da dor instalada, a verdade é esta. Mas se o corpo dá os primeiros indícios, e você ainda não faz nada de fortalecimento, não espere que a solução venha apenas de uma injeção ou de um remédio para dor. Muitas vezes, o caminho é mais simples e começa com fortalecimento. Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

Comentários

Comentários