RONALD PEREIRA

Semae: tarifa, obras e qualidade da água

Por Da Redação |
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À frente do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto) desde o início deste ano, Ronald Pereira enfrenta o desafio de garantir o abastecimento de Piracicaba após a grave crise hídrica vivida em 2024.

Com passagem por órgãos como o SAAE de Sorocaba, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e a Sabesp — onde atuou na despoluição do Rio Pinheiros, na capital paulista —, o gestor comenta as medidas emergenciais e os investimentos necessários para estabilizar o sistema.

Em entrevista, ele fala sobre o reajuste das tarifas, a parceria público-privada com a concessionária Mirante, os custos para manter a qualidade da água em períodos de estiagem e as principais obras em andamento para ampliar a segurança hídrica no município.

Piracicaba terminou 2024 com uma das crises mais severas no abastecimento de água. Quais medidas foram implementadas para evitar que a cidade viva o mesmo problema nesta temporada de calor? 

Já no primeiro dia de governo, o prefeito Helinho Zanatta constituiu um Gabinete de Crise, que sugeriu que fosse decretada situação de emergência para combater a falta de água. Isso foi fundamental para que pudéssemos enfrentar problemas emergenciais naquele momento, sendo que o sistema estabilizou e de fato reduziu muito o problema da falta de água, mas não solucionou, porque sabemos que isso demandará ainda investimentos e um pouco mais de tempo. Temos a dimensão dessa responsabilidade. Recentemente, estivemos com alguns problemas que de forma pontual afetaram o abastecimento.

As contas de água com reajuste de pouco mais de 18% começaram a chegar. O que justificou o atual reajuste e qual a relação dessa porcentagem com investimento em obras de redução de perdas de água? 

Era necessário. O reajuste na tarifa de água e esgoto permitirá investir R$ 327 milhões em obras e melhorias nos próximos dois anos, o que irá melhorar muito o abastecimento em nossa cidade, nos possibilitando atuar em diversas áreas. Temos a necessidade de obras de grande porte para solucionar de forma definitiva a falta de água, além de reduzir as perdas de água tratada, pois temos uma perda de aproximadamente 53% da água tratada, o que é muito alto e acaba prejudicando também o abastecimento.

O Semae tem uma PPP (Parceria Público Privada) com a Mirante que prevê que o cidadão pague mesmo valor cobrado pela água no serviço de esgotamento sanitário, o que gera muitas críticas. Além disso, o Semae é obrigado a fazer o repasse à Mirante até mesmo dos contribuintes inadimplentes. Como o senhor avalia o atual contrato de PPP? 

Realmente esse é um problema grande para o Semae. A empresa evidentemente busca lucro, enquanto nosso “lucro” é poder atender melhor a população, revertendo tudo em serviços e melhorias. Desde que assumimos, o prefeito Helinho está negociando com a empresa e temos a expectativa que, em breve, poderá anunciar medidas, como uma possível redução da tarifa de esgoto, que hoje igual à de água e repassada integralmente à concessionária. O contrato infelizmente está ai e temos que trabalhar com essa realidade, por isso há todo um trabalho para que de alguma forma possa ser revista.

Com relação à qualidade da água, nesse período de estiagem como Semae atua para manter a captação e distribuição em níveis adequados de potabilidade?

O período de estiagem estrema preocupa já que as vazões dos rios baixam o que afeta diretamente a qualidade da água dos mananciais, principalmente do Rio Piracicaba, devido a poluição que vem das cidades à montante. Esta situação exige a utilização de 40 a 50% a mais de produtos, entre eles o cloro, para manter a qualidade da água para consumo da população. Pontualmente, é possível até dobrar a dosagem – aumento de 100% que o normal – para seguir fazendo a captação e tratamento da água.

Para termos um exemplo, em abril deste ano, quando a qualidade da água dos rios ainda não estava prejudicada, o custo com esses produtos foi, em média, R$ 850 mil no mês; em agosto, quando a qualidade da água começou a ficar mais comprometida pela poluição e pelo longo período sem chuvas, o custo ficou em média de R$ 1,88 milhão no mês, ou seja, significa um aumento em cerca de 120% nos custos para a produção de água devido à baixa vazão dos rios, estiagem e poluição.

Outro ponto importante para esclarecer a população é quando a carga de poluentes nos rios está muito grande, como foi o caso desta semana após as chuvas do dia 22/09, e precisamos fazer ajustes na captação e tratamento de água, entre eles a redução temporária da produção nas ETAs Luiz de Queiroz e ETA Capim Fino, e isso prejudicou o abastecimento uma vez que estávamos com menos água para distribuir. Essas medidas foram essenciais para garantir a segurança do abastecimento, com a adição de produtos que asseguram a potabilidade da água distribuída à população. A normalização da captação e tratamento foram retomadas gradativamente com melhora nas condições da água dos mananciais.

Atualmente, com qual porcentagem o Rio Piracicaba contribui para o abastecimento de água do Município?

O manancial é responsável por cerca de 20% do abastecimento da nossa cidade, enquanto o Rio Corumbataí é o responsável por mais de 80% do abastecimento.

Quais as principais obras do Semae já previstas para acontecer, buscando melhorar a qualidade dos serviços e garantir o abastecimento? 

Diversas obras estão sendo realizadas, entre elas a troca de 19,7 km de rede e adutoras em Santa Terezinha. Também haverá a troca de ramais pelo Método Não Destrutivo (MND) e substituição de adutora de água tratada, referente ao projeto de redução de perdas e setorização no bairro. A reestruturação da ETA II - Luiz de Queiroz, que já está em execução e visa assegurar o abastecimento estável para quase um terço da população piracicabana. A obra também trará benefícios como maior eficiência operacional, redução de custos com limpeza manual frequente, melhor qualidade da água tratada e adequação ambiental com vistas à futura Estação de Tratamento de Lodo (ETL). Estamos na fase final da licitação para contratação de empresa para coleta, transporte e destinação final de lodo seco gerado nas ETLs das Estações de Tratamento de Água (ETAs) Capim Fino, Luiz de Queiroz e Anhumas, incluindo o monitoramento e gerenciamento online dos serviços prestados. Essa ação tem como foco evitar possíveis desabastecimentos que podem afetar cerca de 122 mil piracicabanos — incluindo 22 escolas, 36 unidades de saúde, além de hospitais e órgãos de segurança pública — em 179 bairros da cidade. Também contratamos empresa para realização de pequenos reparos e consertos de vazamentos na rede, o que tem permitido ao Semae ser mais ágil no tempo de resposta às solicitações feitas pela população. A ampliação da ETA Capim Fino está com obras em fase final e, quando concluída, aumentará consideravelmente o volume de produção de água ofertada aos piracicabanos. Estão sendo realizadas obras de setorização da rede de água da cidade, com instalação de 1.000 novos registros de pressão, substituição de registros de manobra antigos e instalação de VRPs (Válvulas Reguladoras de Pressão). A criação de novos setores permite dividir a rede de abastecimento em zonas menores, monitorar o consumo e as perdas de maneira mais eficaz, facilitar a detecção de anomalias e permitir intervenções rápidas. Também iniciamos a construção da nova adutora de água tratada Capim Fino – Torre de TV e da Estação de Tratamento de Lodo (ETL) da ETA Anhumas, beneficiando mais de 97 mil pessoas em 19 bairros da zona norte da cidade.

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