A oração – preceito fundamental das religiões – é recomendada como meio de se alcançar maior comunhão com o Criador e de se fortalecer a fé, dentre outros propósitos. Embora orar seja consenso nos caminhos espirituais, cada um experimenta e expressa a oração segundo seu nível de consciência, crenças, interesses e aspirações. Se todos podemos e devemos orar, cada um o faz de modo singular.
Instrutores diversos têm afirmado, acerca da oração, que o mais importante é a abertura ao que transcende a condição humana, estabelecendo uma comunhão a partir da qual se pode renovar as energias, inspirar-se e fortalecer-se para o prosseguimento da jornada existencial em melhores condições.
Frequentemente oramos apenas em períodos de necessidade, ou para pedir a satisfação de desejos e interesses pessoais, pervertendo o sentido da oração como comunhão divina. Desse modo, procuramos pôr a divindade a nosso serviço, em vez de nos abrirmos à inspiração superior para cumprirmos os propósitos divinos.
Essa abertura, além da comunhão consciente com a fonte da vida, nos permite sentir qual o sentido e a finalidade de estarmos aqui. Isso requer que nos coloquemos em atitude receptiva, silenciando desejos e interesses de natureza egoica. Parece que nos esquecemos da essência da oração, transformando-a em palavras vazias, ou convertendo-a em vã tentativa de barganha com o divino, procurando fazer do Senhor da vida mero realizador de nossos mesquinhos caprichos.
Se recitamos o Pai Nosso, afirmamos: “seja feita Tua vontade…” Ao proferirmos essas palavras, será que somos sinceros e nos submetemos à vontade divina quando ela nos purifica, nos retira da zona de conforto, remove os obstáculos à nossa evolução, obstáculos aos quais nos encontramos apegados? E quando essa “Tua vontade” significa contrariar nossos interesses imediatos, desejos egoístas, vícios e padrões disfuncionais de viver e conviver? E quando promovem experiências que nos exijam humildade, aceitação e resignação, ou ainda que nos convidem ao serviço incessante ao próximo? Aceitamos que seja feita a vontade suprema ou, em nossa ignorância, desejamos submetê-la aos nossos interesses imediatistas?
Jesus nos deixou preciosa orientação acerca da oração: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, fecha a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mateus 6:6). Entrar em nosso aposento pode significar o processo pelo qual mergulhamos silenciosamente no mundo interior; fechar a porta pode ser a atitude de nos isolarmos das influências externas, permitindo-nos perceber dimensões mais sutis e profundas da vida.
Ao orarmos, evocamos o divino imanente, ou seja, a força de vida que habita em nós. Como estamos todos em processo evolutivo, portanto imperfeitos e incompletos, é natural e legítimo pedirmos aquilo de que necessitamos. Quando suplicamos com fé, permitimos às forças superiores que fluam e se manifestem, o que é sempre benéfico. A oração pode ser comparada à abertura de uma janela à luz do Sol, iluminando o ambiente até então escuro. Enquanto a janela estava fechada, permanecia a escuridão, não por falta de luz, mas de espaço por onde a luz pudesse passar. De modo análogo, ao orar nos abrimos à presença divina até então ignorada.
A oração tem muitos aspectos, e o autoconhecimento aliado à sinceridade na busca de transformação para melhor também fazem parte de nossa oração, pois nos predispõem a mudanças de atitudes e de conduta, evitando que nossas preces se convertam em palavras vazias.
André Salum é médico homeopata.