Sexo, sensualidade e sensações. Sensual significa que ele desperta os meus sentidos; tudo o que trabalha com os meus sentidos, eu passo a ver, ouvir, sentir, cheirar. Qualquer coisa sensorial chama-se sensual. A gente é que usa a palavra de forma um pouco diferente. A sexualidade também chega até as nossas funções intelectuais. Também exercemos a sexualidade com o cérebro, com o nosso córtex, com a nossa vontade; ou seja, expressamos a sexualidade, temos ações sexuais.
Não é que eu não tenha instinto, eu tenho instinto, mas esse instinto pode ficar reprimido ou pode se expressar. Então, eu tenho vontade e posso controlar essa vontade. Isso que é importante.
A sexualidade é uma coisa animalesca dentro de nós, mas há capacidade de controlar, de agir, de fazer escolhas. Todas as vezes que fazemos escolhas (temos valores), esperamos que sejam boas, sejam certas, erradas, sejam saudáveis. Isso tudo é uma questão ética. vejam como a sexualidade é uma coisa complexa, que diz respeito a várias camadas das nossas funções cerebrais, desde o instintivo até a moral, até a escolha, até o quero, mas não posso, quero, mas não devo, quero e posso... Vejam como a sexualidade transita em todo o nosso psiquismo, ela recorta.
Se o sexo é uma das expressões da nossa sexualidade, e se nossa sexualidade recorta o nosso psiquismo, então sexo também recorta o nosso psiquismo. Tem sexo em todos os lugares, e aí podemos entender o sexo nas várias camadas diferentes da nossa mente. Vou escolher duas esferas: sexo pode querer dizer relação sexual, e sexo pode querer dizer relacionamento sexual. São duas coisas diferentes. Você pode até ter uma relação sexual sem querer, sem estar a fim, sem ter uma atração, ou com alguém que você não sabe nem o nome. Dá para você ter uma relação sexual sem ter um relacionamento sexual, e vice-versa.
O sexo como relação sexual. Vamos falar primeiro do sexo como relação sexual: duas pessoas que se juntam e fazem alguma coisa, têm uma ação, tem uma relação sexual. Escolhi três questões ligadas à relação sexual. Primeiro, a questão do relacionamento, como é que funciona. Para uma relação estar efetiva, ela tem de funcionar; se é um homem e uma mulher, um tem de ter uma ereção e o outro não, os dois tem de estar a fim, tem de existir certa quantidade de lubrificação; enfim, há questões que dizem respeito ao funcionamento da relação sexual.
Há questões de reprodução também. Uma das consequências, um dos efeitos finais da relação é conceber uma criança, se tiver um homem e uma mulher. Então, a reprodução é uma das questões relacionadas à relação sexual. Quero dizer que, toda vez que você tem uma relação sexual, em algum lugar da sua cabeça, tem de estar a pergunta: ‘Quero fazer bebê ou não?’, porque se quiser tem um jeito; se não quiser tem outro.
Por fim, a questão do prazer. A relação sexual existe também para dar prazer, também existe desvinculada da questão reprodutiva. Ninguém é obrigado, do ponto de vista biológico, a ter relações sexuais só para procriar. Volto a dizer que neste momento não estou discutindo valores religiosos, nem nada. Não estou falando de valores, estou falando meramente do funcionamento e das finalidades de um ato sexual.
Quando falo de funcionamento, tenho muitas questões médicas emergentes, muitas coisas que aparecem e preocupam a vida da gente. Existem vários problemas listados, que são problemas que influenciam o sexo: enquanto relação sexual, não ser eficiente, não funcionar, não acontecer, portanto, não ser saudável.”
Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.