POLÊMICA

Dóceis e perigosas: capivaras viram caso de saúde pública 

Por Erivan Monteiro | erivan.monteiro@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 4 min
Claudinho Coradini/JP
Embora dóceis, as capivaras são animais que podem morder e ferir humanos ao se sentirem ameaçadas
Embora dóceis, as capivaras são animais que podem morder e ferir humanos ao se sentirem ameaçadas

Elas são encantadoras, dóceis e muito queridas pela população, em especial pelas crianças. Porém, viraram caso de saúde pública. As capivaras, que vivem e circulam normalmente às margens do Rio Piracicaba, principalmente na região da ponte Irmãos Rebouças, da Passarela Pênsil e da avenida Cruzeiro do Sul, são o ponto de uma discussão nos últimos dias por conta de uma decisão da prefeitura, que estuda a esterilização dos animais a fim de evitar a proliferação da espécie.

Especialistas ouvidos pela reportagem do Jornal de Piracicaba apoiam a iniciativa como medida para o controle populacional da espécie. Já o vereador Felipe Jorge Dário (Solidariedade), o Felipe Gema, não somente apoia essa medida preventiva, como também quer o remanejamento da espécie da região urbana da cidade.

De acordo com a administração municipal, não se tem o número exato de capivaras que existem às margens do Rio Piracicaba. Contudo, dentro do Parque da Rua do Porto, estima-se haver 42 animais vivendo em uma colônia, sendo que o aumento no número de animais nos últimos anos se deu devido à alta taxa reprodutiva da espécie.

A Secretaria Municipal de Saúde está realizando estudos, especificamente com o grupo de animais que vive dentro do Parque da Rua do Porto, em área limitada e fechada. “Não há prazo definido por ora, pois, devido às capivaras serem animais silvestres, todo o processo da esterilização não é tão simples e deve ser realizado por empresa credenciada no Ministério da Saúde, obedecendo critérios técnicos rigorosos”, diz a prefeitura, em nota.

Embora dóceis, as capivaras são animais que podem morder e ferir humanos ao se sentirem ameaçadas, defendendo seu território, filhotes ou por aversão a contato excessivo. Os dentes fortes dos roedores de grande porte podem causar ferimentos graves. São também, um dos principais hospedeiros do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. Como todo roedor, também podem transmitir a leptospirose, através da urina (se estiver contaminada), doença que pode ser grave e letal se não tratada.

“É fundamental que as pessoas não façam carinho, não tenham contato direto com os animais e não as alimentem. Quando estiverem ou passarem em áreas onde existem capivaras, observe se não foram infectados pelo carrapato, verificando cuidadosamente o corpo. No caso de passeio com pets por essas áreas, verifique também se o animal de estimação não foi infectado pelo carrapato”, ensina o biólogo e professor piracicabano Sérgio Marsulo.

Marsulo entende que há a necessidade de alguma ação efetiva, pois, como está, a população corre riscos. “O controle da população de capivaras se faz necessário, pois sendo hospedeiras do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), o verdadeiro vetor da doença, o controle também afetará no número de pessoas infectadas pela doença, diminuindo sua incidência na população humana”, explica o professor.

PROVIDÊNCIAS 

O vereador Felipe Gema é um dos parlamentares que questionam providências da prefeitura. Para ele, além da esterilização, “uma forma de remanejamento também das áreas deve ser estudada”. 
"Infelizmente, tem vitimado piracicabanos ano após ano. A população precisa de respostas rápidas sobre o que está sendo feito para evitar novas tragédias", afirmou Gema.

Além da questão da saúde pública, o vereador chamou atenção para os riscos de acidentes de trânsito envolvendo os animais. Ele relatou, inclusive, um episódio recente ocorrido com sua própria família, próximo ao Horto de Tupi, ressaltando que a presença constante das capivaras em áreas urbanas exige medidas preventivas.

PERDAS

As capivaras, apesar de consideradas “animais muito fofos”, podem trazer perigo as pessoas. O principal deles, a febre maculosa - causada por uma bactéria (rickettsia rickettsii) - pode causar a morte das pessoas infectadas se não diagnosticada precocemente.

Nos últimos cinco anos, foram confirmados 20 casos da doença, com 13 mortes. Em 2020, foram seis casos e quatro mortes; no ano seguinte, 5 casos confirmados e quatro óbitos; em 2022, foram dois casos e uma morte; em 2023, outros cinco casos e duas pessoas perderam a vida.

Já no ano passado, não houve casos registrados pela Vigilância Epidemiológica do Município; porém, neste ano, entre 1º de janeiro e 12 de setembro, foram notificados pelas autoridades dois casos em Piracicaba e ambos, infelizmente, evoluíram para óbito.

O professor Sérgio Marsulo explicou que “como o ambiente natural das capivaras está cada vez mais degradado pela urbanização, elas se estabeleceram no entorno dos rios e córregos urbanos, onde encontram alimento e local de descanso”. “Por serem são animais silvestres protegidos pela legislação ambiental, passam a procriar livremente em áreas urbanas”, explica o professor.

A prefeitura explicou que há um mapeamento e controle de áreas de infestação de carrapato-estrela e de infecção de febre maculosa, e áreas onde são instaladas as placas de sinalização e alerta sobre risco de infestação e infecção da doença.

A administração pública informou ainda que há uma equipe de agentes de zoonoses, que faz uma série de atendimentos à população. Segundo a prefeitura, as fases de vida do carrapato-estrela, de maior infestação humana, diminuem consideravelmente a partir de setembro.

COMO SÃO

De maneira geral, as capivaras são sociáveis e dóceis por natureza, são curiosas e demonstram uma atitude tranquila e amigável em relação aos humanos. Apesar das características sociáveis, é importante respeitar o espaço delas, principalmente mães com filhotes.

Caso um ser humano se aproxime de uma capivara, a tendência é de que ela fuja sempre em direção ao ambiente aquático. Porém, se for um animal já acostumado com a presença humana, e a aproximação for calma e respeitosa, pode ser que a capivara permaneça tranquila. Mas nunca é recomendada a aproximação de animais silvestres.

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